Meu filho é muito perfeccionista: como posso ajudá-lo?

É importante ensinar um filho perfeccionista a administrar suas emoções, para que aprenda a tolerar a frustração. O perfeccionismo é um extremo que produz grande desconforto emocional.
Meu filho é muito perfeccionista: como posso ajudá-lo?
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 04 março, 2023

Ele fica bravo porque os vizinhos não jogam bem, recomeça um desenho sem parar porque não sai do jeito que ele gosta ou demora muito para fazer algo simples. Esses são alguns dos comportamentos que podem estar na base de uma criança perfeccionista.

Quando pensamos em perfeccionismo, quase sempre conseguimos valorizar o lado positivo do resultado alcançado. Não há nada de errado em querer fazer as coisas em um nível que nos deixe satisfeitos e, de fato, funciona como um motivador. No entanto, quando os resultados não são os desejados, parece um soco. Então, como o perfeccionismo afeta a infância? Como podemos ajudar? Vamos descobrir.

Como saber se meu filho é perfeccionista?

Durante a infância, um mesmo comportamento pode ter múltiplos significados. Em uma idade mais jovem, as crianças têm maior dificuldade de expressar o que está acontecendo com elas. Com o passar dos anos e aprendendo sobre as emoções, elas começam a dar um nome a isso. É por isso que, às vezes, algumas ações podem ser confusas e o choro descontrolado pode significar tanto fome quanto raiva.
Vejamos algumas das características que podem nos ajudar a identificar quando se trata de perfeccionismo ou hiperexigência:
  • Sente uma enorme raiva e frustração quando não consegue atingir seu objetivo. Por exemplo, pode ter um grande acesso de raiva quando o traço do lápis sai por pouco de uma figura que estava pintando.
  • Não gosta de ser alvo de piadas. Embora a criança não entenda dessa forma, isso a faz se sentir exposta e insegura.
  • Não há argumento válido para justificar seu “fracasso” se não vencer ou se não se sair bem. Não é apenas um jogo, mas algo que o afeta e lhe causa intenso desconforto.
  • Tem modos rígidos de comportamento. A criança percebe que assim conhece o caminho e está no controle da situação.
  • Não tenta coisas novas ou desconhecidas. Nesse caso, se sentem expostas a erros ou falhas, já que as coisas não funcionam necessariamente da primeira vez.
  • É sensível a críticas. Se receber críticas, desiste da atividade.
  • Tem interesse no reconhecimento de pessoas que considera importantes. Por exemplo, quer que o professor a elogie ou reconheça seu dever de casa.
  • Pode ficar com raiva quando as realizações de outras pessoas são reconhecidas. Por exemplo, voltando de uma caminhada, uma criança pode ficar chateada se sua mãe elogiar sua irmã por seu bom comportamento.
É preciso detectar a tempo os sinais que indicam uma criança perfeccionista para ajudá-la a encontrar caminhos mais saudáveis para alcançar o que se propõe.

Como posso ajudar meu filho perfeccionista?

O perfeccionismo gera desconforto porque é sempre inatingível, pois tudo pode ser melhorado e poderia ter sido feito melhor. A frustração se torna uma constante e o que foi conquistado é pouco valorizado. Aqui estão algumas estratégias a serem consideradas.

Analisar a mensagem que transmitimos

É importante saber que muitos comportamentos infantis têm a ver com os comportamentos e as atitudes de seu ambiente. Portanto, as figuras adultas devem se perguntar quais são as expectativas e demandas que têm. Às vezes, tentamos viver uma vida através da criança e projetar nelas aquelas coisas que gostaríamos de fazer ou ser.
Por exemplo, um pai que gostaria de ter sucesso na natação pressiona seu filho a praticar esse esporte e ser o melhor. Isso pode resultar em muita pressão para não decepcionar e até mesmo ter o efeito contraproducente de diminuir seu desempenho. Pelo contrário, é importante levar em consideração a opinião da criança, pois ela é o protagonista de sua própria vida e isso favorece sua autonomia.

Cuidado com o que valorizamos

Além disso, é necessário revisarmos o que reconhecemos ou destacamos. Por exemplo, se sempre elogiarmos a criança apenas porque ela é excelente na natação, a mensagem que se interpreta é que nos preocupamos com isso e não com outras qualidades ou atributos. Isso pode incentivá-la a ficar obcecado em alcançar determinado resultado, já que ela interpreta que vale a pena ou que é desejada com base nisso.

Ensine a valorizar o processo e o fracasso

Tanto quando você atinge seus objetivos, mas especialmente quando não, é importante perguntar sobre o processo. Devemos fazer perguntas sobre como a criança o encarou e destacar a importância do esforço e do caminho, além do resultado. É importante estimular a criança a pensar nos pequenos passos que são dados durante o dia. Dessa forma, fugimos daquele lugar do tudo ou nada, extremo em que tendem a cair os perfeccionistas.

Ajudar a expressar emoções

Quando uma criança perfeccionista não consegue o que deseja, em vez de ouvir um conforto como “Não se preocupe, o próximo vai ser melhor”, a primeira coisa que ela precisa é ser validada em sua emoção. Ou seja, é preciso criar condições para que ela expresse o que sente e depois ajudá-la a administrar essas emoções.

É importante validar as emoções da criança quando ela se sente frustrada ou com raiva e, então, ajudá-la a administrar suas emoções.

Por que o perfeccionismo pode ser limitante

O perfeccionismo é um obstáculo ao pleno desenvolvimento, pois tem algumas consequências como as seguintes:
  • Limita a criatividade, a flexibilidade e a espontaneidade.
  • Afeta a autoestima.
  • Maior desgaste ao enfrentar uma tarefa.
  • Há uma grande frustração envolvida.
  • Essas pessoas procuram se impor, pois consideram que a forma como o fazem é a única correta.
  • Gera estresse, ansiedade e outros transtornos.
  • Impossibilita o desfrute da atividade.

Recomendações finais

Não se trata de dizer a uma criança que ela deve se conformar, mas que ela tem que aprender a ver a verdadeira face do esforço e não deve invalidar as tentativas. Da mesma forma, é muito importante ter cuidado com a questão dos “rótulos” durante a infância. A frase “Ele é um pouco perfeccionista” pode soar como uma sentença. Em certas idades, as crianças ainda não têm muito claro que com o tempo as pessoas podem mudar, aprender e desaprender.

Como há uma literalidade no que é dito, devemos evitar que esse rótulo se fixe e cause a sensação de que nada pode ser feito em relação aos comportamentos que nos fazem sofrer. Isso deve ser pensado não apenas em torno das crianças, mas também de seus pais. Por fim, em uma sociedade que incentiva excessivamente a competição, a figura do adulto deve ser a bússola que orienta as crianças para escapar da hiperexigência.


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