Estamos obrigando as crianças a obedecer ou ensinando a pensar?
Obedecer é uma palavra tão arcaica quanto o que implica em si. Com certeza, quando você era uma menina, ouviu algum adulto (ou melhor, vários deles) dizer que se você se comportasse bem e fosse educada, ficaria mais bonita e receberia coisas pelo seu bom comportamento.
Essa é uma das piores mensagens que podemos receber durante a infância. Pois nos incita à submissão absoluta, a obedecer em vez de aprender e compreender.
Depois que nos tornamos pais, somos nós que devemos destruir essa mensagem negativa e limitante que talvez tenhamos recebido na nossa infância e reaprender algumas coisas quanto à disciplina, à obediência e à educação.
Muitas vezes, essa distorção não nos permite perceber que não sabemos realmente a diferença entre obrigar uma menina a obedecer as ordens que recebe e educar uma menina para que ela possa compreender exatamente o que é pedido.
Geralmente, o termo “menina educada” é mal empregado, pois não se refere a uma menina que aprendeu a pensar, diferenciar e se fazer respeitar sem machucar os outros. Pelo contrário, faz referência a uma menina submissa que se limita a obedecer porque seus pais (ou os adultos, em geral) ensinaram de forma violenta o conceito da obediência como forma de ser aceita e, inclusive, querida por eles.
Na vida real, atualmente a obediência cega e a submissão não podem continuar sendo opções nessa sociedade.
Se uma criança aprende a obedecer, ela realmente é uma criança educada?
O Dicionário da Real Academia Espanhola define obediência como a forma de respeitar a vontade de uma pessoa considerada superior, criando (ou marcando), assim, uma relação hierárquica entre essa pessoa e si mesmo.
Nesse sentido, obedecer implica não questionar, mas agir apenas para respeitar outra pessoa. Ao passo que educar se trata de orientar uma pessoa com base nas suas próprias características para extrair delas seu potencial e melhorá-las.
Obedecer implica se submeter ao outro, sem questionar nada. Educar significa entender o outro e agir com respeito para que a vontade dele não se imponha sobre a sua e vice-versa.
Muitas mães se preocupam muito com o fato de suas filhas se tornarem suficientemente obedientes, agradáveis e gratas aos outros. Elas querem uma princesinha. Esforçam-se para castigar mais do que para canalizar as capacidades inatas das suas filhas com o objetivo de melhorá-las.
Em circunstância alguma devemos incentivar tamanho grau de obediência dos nossos filhos ao ponto de anular suas próprias necessidades e/ou fazê-los esquecer o respeito que devem ter consigo mesmos para, então, poder ter respeito com os outros.
Se pararmos para pensar um pouco, na verdade não é necessário que as meninas sejam tão obedientes ao ponto de anular suas próprias necessidades apenas para demonstrar respeito aos outros. Nesse sentido, acreditamos veementemente que é necessário que as meninas aprendam a se expressar livremente. Mas de uma forma respeitosa com os outros.
Independentemente do gênero (menina ou menino), toda criança deve aprender a canalizar suas emoções e entender por que é importante diferenciar uma ordem de um argumento. Para isso, os pais devem ensinar às crianças como agir em diferentes contextos e buscar soluções de acordo com as necessidades emocionais e/ou sociais que têm.
Se você é mãe de uma menina (ou de várias), recomendamos que você não a obrigue a ser obediente acima de qualquer coisa. É melhor ensinar sua filha a escutar, compreender o porquê das coisas e raciocinar por si mesma. Dessa maneira, você vai poupar uma vida submissa no futuro, uma vida na qual se poderia permitir qualquer tipo de abuso.
1. Impedir a diferenciação educativa por gênero
É necessário não promover mais discriminações entre gêneros. Tanto meninos quanto meninas devem aprender a lidar com o mundo das emoções igualmente, já que ambos são seres humanos.
Dizer coisas como “as meninas sempre devem ser educadas e obedientes” ou que “meninos não choram” apenas criam divergências desnecessárias e não permitem às crianças (de ambos os sexos) aprenderem com a intensidade das suas diversas emoções e se desenvolverem nas diferentes situações da melhor forma possível.
2. Expressar as emoções
É de extrema importância que as crianças aprendam a expressar suas emoções e a se proteger do abuso de outras pessoas que ainda não aprenderam outro mecanismo de interação que não seja a imposição das suas palavras (ou inclusive sua simples presença) sobre outras. Uma criança deve saber que pode se expressar livremente sem a necessidade de ferir ou passar por cima de outra pessoa.
3. Sobre a proteção
Você não vai poder proteger seus filhos para sempre. Apesar disso, você pode educá-los para que tenham uma boa capacidade de discernimento, uma boa autoestima e para que não criem uma imagem frágil de si mesmos baseada nas opiniões de outras pessoas para ficar bem ou para serem aceitas.
Uma criança vulnerável é uma criança que estará disposta a seguir orientações e receber ajuda. No entanto, são as crianças que mais precisam de você. Assim, é conveniente passar mais tempo com elas e tentar ensiná-las a vencer essa vulnerabilidade e transformá-la em uma fortaleza.
Uma criança pode ser educada sem precisar ser completamente submissa. Devemos nos lembrar de que uma criança que não aprende a refletir, no futuro, será um adulto com poucas ferramentas para se desenvolver adequadamente na vida.
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