Body positive: o que é e por que ensiná-lo aos nossos filhos?

O body positive incentiva crianças e adolescentes a aceitarem seu corpo como ele é. Confira seus benefícios e os motivos pelos quais você deve ensiná-lo aos seus filhos.
Body positive: o que é e por que ensiná-lo aos nossos filhos?
Elena Sanz Martín

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 09 abril, 2024

A infância deve ser um tempo feliz e despreocupado. Durante esses anos, a última coisa que deve preocupar uma criança é sua aparência ou se seu corpo se encaixa nos padrões de beleza. No entanto, essa preocupação aparece cada vez mais em idades mais jovens e aumenta durante a adolescência. Foi assim que surgiu o body positive, um movimento que estimula as pessoas a amarem e aceitarem seu físico.

Esse é um problema internacional, pois estima-se que mais de 45% dos adolescentes estão insatisfeitos com sua imagem corporal. É o que afirma um relatório da organização UNICEF, que também adverte que essa “imagem corporal negativa” leva os jovens a sofrerem de depressão, ansiedade e baixa autoestima.

Em casa, podemos proteger as crianças dessas tendências, educando-as em valores e incutindo-lhes atitudes adequadas em relação ao próprio corpo. E para isso, o body Positive é uma ótima alternativa.

O que é body positive?

É um movimento social e cultural com várias décadas de experiência, mas que vem ganhando força nos últimos anos. Seu principal objetivo é normalizar a diversidade de corpos existentes e estimular as pessoas a aceitá-los, sem julgamento e sem rejeição.

A partir dessa abordagem, todos os corpos são válidos e dignos de respeito, independentemente de seu tamanho, forma, cor, raça ou grau de deficiência. Portanto, desafia os padrões de beleza vigentes e questiona a forma como a sociedade analisa e avalia o corpo.

Desde muito cedo, as crianças são expostas a esses padrões. A família, a mídia, as redes sociais e o contexto cultural que as rodeia podem incutir-lhes a ideia de que o seu valor enquanto pessoas depende do quanto são atraentes ou se têm uma imagem aceita pela sociedade.

Assim, o body positive estimula a amar, valorizar e respeitar o corpo (próprio e alheio) independentemente de seus atributos físicos. E isso não inclui apenas pessoas com sobrepeso (como as pessoas pensam), mas se concentra em todos em geral.

Especificamente, pode ajudar os jovens que sentem que precisam construir mais massa muscular para ficarem em forma, que têm um complexo sobre o nariz ou o formato das pernas, ou que se sentem envergonhados por causa de suas espinhas ou pelos corporais. Na sociedade, tudo o que está fora da norma, o que não cabe “no molde”, pode se tornar objeto de ridículo e vergonha.

Adolescente coloca maquiagem na frente de um espelho
Às vezes, o excesso de maquiagem em adolescentes pode ser um sinal de que eles não se aceitam como são e querem se parecer com outra pessoa.

Por que é importante ensiná-lo aos nossos filhos?

O body positive e as crenças que ele defende podem ajudar a proteger crianças e adolescentes dessa tendência de se comparar com os outros, bem como de desvalorizar sua imagem e se sentirem insuficientes ou indignos. Estes são alguns dos principais benefícios relatados.

Promove uma autoimagem positiva

Às vezes pensamos que apenas uma pessoa com um corpo “normativo”, ou seja, que se encontre dentro dos padrões de beleza da sociedade, tem o direito de se aceitar e ter uma percepção positiva de sua imagem. Mas a verdade é que isso está ao alcance de todos e pode trazer consequências positivas.

Por exemplo, um estudo publicado na revista Eating Behaviors descobriu que pessoas obesas que aceitam seu peso e forma sofrem menos estigma e discriminação. Especificamente, os outros as percebem com maior simpatia e atribuem maior autoestima e menos problemas psicológicos a elas do que àquelas pessoas que não aceitam seu peso.

O body positive pode ajudar as crianças a se amarem e se aceitarem como são, protegendo-as, até certo ponto, da rejeição social e do estigma.



Melhora a autoestima

A autoestima é fundamental para uma boa saúde psicológica, estabelecendo relacionamentos positivos com os outros e alcançando o sucesso pessoal. Mas, longe do que costumamos acreditar, a autoestima de uma criança não depende do tamanho ou da forma de seu corpo, e sim da aceitação que sente por ele.

Essa realidade foi observada, por exemplo, em uma revisão sistemática publicada na revista Appetite, sugerindo que, mesmo sem perder peso, as pessoas que seguem uma intervenção focada na mudança de perspectiva e aceitação corporal experimentam um aumento da autoestima e maior bem-estar psicológico.

Promove maior saúde física

Como já dissemos, amar e aceitar o próprio corpo pode ajudar crianças e adolescentes a desfrutar de uma melhor saúde psicológica. Mas, além disso, pode promover sua saúde física.

De fato, um estudo publicado no Journal of Adolescent Health constatou que os adolescentes insatisfeitos com sua imagem, paradoxalmente, realizam menos atividade física e consomem menos frutas e vegetais. Além disso, apresentam maior risco de tabagismo.

Previne o aparecimento de distúrbios alimentares

O body positive pode prevenir o aparecimento de distúrbios alimentares. Uma realidade cada vez mais presente entre os jovens. Por exemplo, o estudo acima mencionado conduzido pelo Journal of Adolescent Health também descobriu que a insatisfação corporal está associada a níveis mais altos de dietas não saudáveis e comportamentos de controle de peso.

Da mesma forma, outro estudo publicado na revista Appetite descobriu que a rejeição do corpo é um forte preditor de comportamento bulímico. Assim, o body Positive pode ajudar as crianças a ficarem longe desses transtornos alimentares que podem trazer sérias consequências em suas vidas.



[/atomik-read-too ]

Body positive: como ensinar seus filhos a amar o corpo?

Existem várias diretrizes que você pode implementar para apresentar às crianças o body positive e ajudá-las a amar seus corpos para uma imagem corporal positiva.

Revise suas próprias crenças e comportamentos

Muitas vezes, como mães, criticamos nosso próprio corpo na frente dos filhos ou fazemos dietas rígidas e pouco saudáveis diante de seus olhos, dando um exemplo negativo.

De fato, uma pesquisa publicada na revista Behavior Research and Therapy sugere que esses comportamentos levam as crianças a terem baixa autoestima, mais preocupação com seus corpos e atitudes alimentares mais problemáticas.

Concentre-se na saúde e não na aparência

Ao orientar as práticas alimentares de seus filhos, concentre-se no que é mais saudável, no que pode fornecer mais energia e melhores nutrientes, e não no que os fará ganhar ou perder peso. Você deve ensiná-los que a coisa mais importante para eles deve ser manter-se saudável.

Menina e mulher se alongando
Incentive seus filhos a praticar esportes e a se alimentar bem porque isso é amar o corpo e cuidar dele.

Use situações cotidianas para incutir valores positivos

Ao observar diversos corpos, seja na vida real, em filmes ou em revistas, fale sobre isso com naturalidade e sem julgamentos ou críticas. Não faça comentários ofensivos, você deve lembrá-los de que o mundo é um lugar diverso e existem pessoas de todos os tamanhos e feitios, e isso não os define como pessoa.

Histórias e filmes também são uma boa maneira de ensinar a aceitação do corpo. Para fazer isso, escolha títulos que tenham uma mensagem positiva em relação à imagem corporal e compartilhe-os com seus filhos.

Da mesma forma, procure apoio profissional se achar que seu filho ou filha está excessivamente preocupado com sua imagem, apresenta baixa autoestima ou começa a ter atitudes ou comportamentos de risco.

Ensine a amar e cuidar do corpo

Por fim, queremos enfatizar que o body positive não implica encorajar as crianças a deixarem de cuidar de si mesmas. Pelo contrário, é importante manter hábitos e um estilo de vida saudável, mas porque você ama seu corpo e quer cuidar dele, não porque você o rejeita e quer que ele mude a todo custo.

Além disso, deve-se lembrar que aceitar seu corpo não implica vê-lo sempre perfeito. Se levarmos o body positive ao extremo, os pequenos podem se sentir pressionados a ter sempre uma boa aparência, e isso não é natural. Terão dias em que seus “defeitos” parecerão mais marcantes e outros em que certas partes de seu corpo não agradarão tanto. O importante é se respeitar e se aceitar em todos os momentos e entender que não é o físico que determina o seu valor.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Handford, C. M., Rapee, R. M., & Fardouly, J. (2018). The influence of maternal modeling on body image concerns and eating disturbances in preadolescent girls. Behaviour Research and Therapy100, 17-23.
  • Jimenez Boraita, R., Arriscado Alsina, D., Dalmau Torres, J. M., & Gargallo Ibort, E. (2021). Determinantes de la satisfacción corporal en adolescentes de La Rioja. Revista Española de Salud Pública95(1), e1-e12.
  • Lasikiewicz, N., Myrissa, K., Hoyland, A., & Lawton, C. L. (2014). Psychological benefits of weight loss following behavioural and/or dietary weight loss interventions. A systematic research review. Appetite72, 123-137.
  • Murakami, J. M., & Latner, J. D. (2015). Weight acceptance versus body dissatisfaction: Effects on stigma, perceived self-esteem, and perceived psychopathology. Eating Behaviors19, 163-167.
  • Neumark-Sztainer, D., Paxton, S. J., Hannan, P. J., Haines, J., & Story, M. (2006). Does body satisfaction matter? Five-year longitudinal associations between body satisfaction and health behaviors in adolescent females and males. Journal of adolescent health39(2), 244-251.
  • UNICEF (2020). Mundos de Influencia:¿ Cuáles son los determinantes del bienestar infantil en los países ricos? (Report card nº 16). https://www.unicef-irc.org/publications/pdf/Report-Card-16-Mundos-de-Influencia-bienestar-infantil-en-los-paises-ricos_RC16_ES.pdf
  • Ricciardelli, L. A., Tate, D., & Williams, R. J. (1997). Body dissatisfaction as a mediator of the relationship between dietary restraint and bulimic eating patterns. Appetite29(1), 43-54.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.