Respeitar o corpo das crianças: 4 exemplos para aplicar no dia a dia

Ao alimentar, dar banho e cuidar de seu filho, você precisa manipular seu corpo. Porém, você pode fazer isso sem invadir e respeitando seus limites. Descubra os benefícios de agir dessa forma!
Respeitar o corpo das crianças: 4 exemplos para aplicar no dia a dia
Elena Sanz Martín

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 08 fevereiro, 2024

Os pais, professores e outros adultos responsáveis são responsáveis por garantir o bem-estar e a segurança das crianças. Ou seja, eles devem estar cientes de suas necessidades, atendê-las e orientá-las em situações de risco. Mas isso não significa que não haja limites. Aliás, uma dos principais limites é respeitar o corpo das crianças. Pode até ser necessário trabalhar nisso e entender sua importância.

Com isso não estamos falando de evitar abuso físico, agressividade ou negligência. Afinal, todos nós entendemos que esse tipo de ato não tem lugar na paternidade. Estamos nos referindo a comportamentos mais sutis que os adultos realizam no dia a dia com boas intenções, mas que podem ser invasivos e incômodos para os pequenos. Confira mais abaixo.

O que significa respeitar o corpo das crianças?

Se quisermos implementar um estilo educacional respeitoso e positivo, devemos sempre ter em mente que as crianças são seres individuais. Isso significa que elas não são uma extensão de nós e que, portanto, devem ter certa soberania e direito de decisão sobre si mesmas. Nós, como adultos, temos que ajudá-las a estabelecer seus próprios limites e respeitá-las.

Para muitos pais, cuidar de seus filhos envolve tomar decisões por eles e manipular seus corpos e seu ambiente para mantê-los confortáveis e seguros. E podemos observar isso em várias situações cotidianas.

Muitas crianças reagem com raiva ou aborrecimento nessas situações. Por exemplo, elas até tentam se rebelar contra o adulto e insistem em colocar o casaco de volta ou bagunçar o cabelo novamente. Isso não deve ser encarado como um comportamento desafiador típico de uma criança desobediente, e sim como um pedido para respeitar seus limites. E é algo natural se levarmos em conta que nesse momento estamos sendo invasivos.

Muitas vezes, nós, adultos, invadimos o espaço da criança quando interrompemos sua brincadeira para arrumar seu cabelo ou para tirar seu casaco porque nós sentimos calor.

Como podemos respeitar o corpo das crianças?

Isso pode parecer uma visão exagerada para você, mas a verdade é que com pequenas mudanças podemos oferecer um bom cuidado e sermos mais respeitosos. Aqui estão alguns exemplos que podem ser aplicados no dia a dia.

Não tome suas necessidades como garantidas

Muitas vezes, os adultos tomam decisões e executam ações em busca do bem-estar das crianças, mas sem realmente levar em consideração suas necessidades. Por exemplo, vestimos ou tiramos a roupa dos pequenos de acordo com o que sentimos ou os obrigamos a comer até acabarem o prato.

Em vez de agir assim, podemos prestar atenção ao que eles sentem e precisam. Para isso, podemos perguntar antes de agir. Assim, poderíamos dizer “Estou com calor, você também? Quer tirar o casaco ou você está bem assim?” Ou, no outro caso, “Você quer comer mais ou já é o suficiente? Posso ajudar você a terminar o prato ou prefere que eu leve embora?”

Com essa forma de agir, ajudamos a criança a estar em contato com as suas necessidades e sensações corporais e a utilizá-las como guia. Além disso, mostramos respeito por suas necessidades e decisões. Se agirmos sem pedir, gradualmente as desconectamos desse guia físico e talvez não as ajudemos realmente a se sentirem melhor no momento.

Avise e não invada

Às vezes é necessário manipular o corpo das crianças para ajudá-las na higiene. No entanto, é muito mais positivo se as avisarmos antes de realizar nossas ações. Por exemplo, se você quiser limpar o rosto do seu filho, pode dizer “Você sujou o rosto de iogurte, posso limpá-lo com o lenço?” Ou, se durante uma brincadeira no parque suas roupas saírem, você pode avisar “Vou colocar sua camisa, tá?”

Embora possa parecer trivial, isso é muito menos intrusivo do que agir sem aviso prévio. Colocando-nos na situação dos pequenos, ninguém gostaria que outra pessoa limpasse nosso rosto ou ajeitasse nossas roupas sem pedir permissão.

É importante permitir que a criança decida se vai dar um beijo ou um abraço ao encontrar um familiar ou outra pessoa conhecida.

Deixe que os pequenos façam escolhas

Respeitar o corpo das crianças é também permitir que elas escolham em determinadas situações. Não só em termos de higiene e cuidados pessoais, mas também em termos de afeto. Por exemplo, perguntar a uma criança “Você quer dar um beijo na titia?” ou “Posso te dar um abraço?” Para muitos adultos, isso pode parecer ilógico, mas ao deixá-las decidir quando permitir que outros invadam seu espaço, damos a elas critérios para evitar situações incômodas ou perigosas no futuro.

Promova sua autonomia

Por fim, também é muito positivo que, ao invés de agir diretamente no corpo da criança, nós a orientemos para que ela mesmo possa fazer isso. Se, por exemplo, vemos que ela vai colocar as mangas da camisa no prato de comida, não precisamos correr para arregaçá-las. Pelo contrário, podemos alertar o pequeno sobre o que está acontecendo e incentivá-lo a encontrar uma solução sozinho.

Respeitar o corpo das crianças traz grandes benefícios a longo prazo

Vivemos em uma sociedade centrada no adulto, na qual é considerado normal e válido que os adultos cuidem das crianças sem pensar em seus limites ou espaços. Isso acontece mesmo que seja sempre por amor e em busca de um bem maior. Por isso, pedir permissão a uma criança para limpar seu nariz, pentear seu cabelo, arrumar sua roupa ou beijá-la pode parecer inusitado. No entanto, é um exercício fundamental para ensinar sobre assertividade e autorrespeito.

Quando seu filho crescer, você quer que ele seja uma pessoa segura, que saiba estabelecer limites, que tenha seus próprios critérios e que não sofra nenhum tipo de abuso. Mas esse treinamento tem que começar desde a infância e em casa.

Ao respeitar o corpo das crianças, mostramos que elas têm soberania sobre si mesmas, que ninguém pode tocá-las sem sua permissão, que outros não devem incomodá-las e que elas têm o direito de dizer “não”. Assim, estamos criando uma geração de crianças com confiança e segurança, capazes de saber o que querem e precisam e dispostas a se defender com respeito e assertividade. E são habilidades extremamente valiosas que fomentamos com essas pequenas mudanças diárias.


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