Crianças com dupla excepcionalidade: quais são suas características?
Uma criança com necessidades educativas especiais de qualquer tipo enfrenta inúmeros desafios e é um desafio em si para pais e educadores. Potencializar seus talentos e ajudá-la a gerenciar suas emoções não é fácil, especialmente em um mundo pouco adaptado à diversidade. Mas, quando duas condições diferentes se juntam no mesmo caso, essas dificuldades aumentam significativamente. É o caso das crianças com dupla excepcionalidade.
Por isso é tão necessário compreender a dupla excepcionalidade e saber acompanhá-la. Este é um termo introduzido na década de 1980 e só entrou no léxico dos educadores em meados da década de 1990. Conhecido em inglês como Gifted with Learning Disability (GLD) e às vezes abreviado como 2E, é um conceito que se refere àquelas crianças que vivem com duas ou mais necessidades educativas especiais.
É possível que até agora você nunca tenha ouvido falar sobre isso. Mas se seu filho apresenta desempenho inconsistente, emoções que não condizem com sua capacidade ou certas dificuldades que contrastam com seu alto potencial, talvez seja essa a realidade que ele vive.
O que é a dupla excepcionalidade?
Como dissemos, a dupla excepcionalidade é a confluência, na mesma criança, de dois ou mais fenômenos um tanto contraditórios. Esses pequenos têm altas capacidades, com todo o potencial cognitivo e criativo que isso implica, mas também têm outras necessidades educacionais.
Existem diferentes tipos de crianças duplamente excepcionais dependendo das dificuldades ou comorbidades que apresentam junto com as altas habilidades. A seguir, informaremos quais são as mais comuns, embora outras variantes possam ser observadas.
Déficits sensoriais
Nesse caso, as crianças apresentam déficits visuais, auditivos ou motores, juntamente com a alta dotação. Apesar das dificuldades que isso acarreta, apresentam um elevado nível de raciocínio e um bom ritmo de aprendizagem. Além disso, elas têm grande habilidade verbal e de comunicação, bem como interesses variados e uma boa capacidade de usar a linguagem simbólica.
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
Esse tipo de dupla excepcionalidade é difícil de identificar, pois os comportamentos e as dificuldades do autismo podem ser negligenciados ou atribuídos diretamente à superdotação. Isso é especialmente verdadeiro no caso das meninas, que demonstraram grande capacidade de imitar e emular comportamentos sociais neurotípicos.
Apesar disso, costumam ter problemas com locais e rotinas desestruturadas. Essas crianças lutam para entender as dicas sociais e a linguagem indireta e podem ser rejeitadas devido à sua timidez, rebeldia e falta de flexibilidade. Apesar disso, costumam ter altas habilidades verbais e cognitivas e amplo conhecimento acadêmico.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
Quando as altas habilidades coexistem com o TDAH, as principais dificuldades decorrem da falta de atenção e da impulsividade. É difícil para essas crianças manter o foco mesmo em tarefas que as interessam e as motivam. Além disso, muitas vezes elas têm dificuldade em aceitar regras e limites, não concluem os projetos ou tarefas que iniciam e seu desempenho é inconsistente.
Esses pequenos enfrentam muitas vezes o desafio de corresponder às elevadas expectativas que lhes são colocadas e que não conseguem concretizar. Devido à sua alta dotação intelectual, espera-se deles um certo tipo de comportamento e desempenho. Desta forma, as dificuldades decorrentes de seu TDAH são negligenciadas. Tudo isso pode gerar grande insatisfação, frustração e insegurança no seu dia a dia.
Dificuldades de aprendizagem
Por outro lado, as altas capacidades também podem se apresentar acompanhadas de uma ou várias dificuldades de aprendizagem, como dislexia, dislalia ou discalculia, entre outras. No entanto, essas crianças também apresentam várias vantagens. Por exemplo, elas podem se destacar em vocabulário, raciocínio abstrato ou criatividade.
Dupla excepcionalidade: diagnóstico e intervenção
Embora seja difícil obter números reais, estima-se que cerca de 7% das crianças em idade escolar sejam duplamente excepcionais. E esses números podem subir consideravelmente dependendo das fontes consultadas. No entanto, nem sempre é possível detectá-los e fazer um diagnóstico adequado. Isto acontece por diversas razões:
- Os testes e medidas comumente usados para detectar superdotação não são úteis nesses casos, pois as outras condições associadas podem afetar o desempenho das crianças.
- Existem características compartilhadas entre vários fenômenos. Por exemplo, a dificuldade em cumprir ordens e regras ocorre tanto em altas capacidades quanto em TEA e TDAH. Assim, o avaliador pode manter um primeiro diagnóstico e não investigar mais até descobrir as comorbidades.
- O foco concentra-se exclusivamente nas fragilidades e dificuldades da criança. Isso significa que alguns distúrbios são identificados, mas o potencial derivado de altas capacidades não é descoberto ou desenvolvido.
Quando o diagnóstico é incompleto, essas crianças com dupla excepcionalidade não recebem os cuidados e o suporte de que precisam, pois suas necessidades não são totalmente compreendidas. Isso pode afetar sua autoestima, seu desempenho escolar e suas relações sociais, pois não recebem acompanhamento para trabalhar suas áreas de dificuldade ou potencializar suas virtudes e vantagens.
Melhore seus pontos fracos e potencialize seus pontos fortes
Por tudo isso, é fundamental que pais e educadores estejam cientes da existência da dupla excepcionalidade e saibam identificar os indícios. Além disso, é importante lembrar que a intervenção com essas crianças será diferente daquela realizada com crianças que possuem apenas necessidades educativas especiais. Atender à excepcionalidade da criança em todos os aspectos é o que garantirá seu bem -estar e bom desenvolvimento.
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