Cutting na adolescência: o que você deve saber
É provável que em algum momento de sua vida você tenha visto um adolescente se machucar, mesmo que seja em um filme. Para quem não vive essa situação em primeira mão ou para quem não é especialista na área, esse tipo de comportamento pode ser interpretado como um simples e infantil chamado de atenção. No entanto, o cutting esconde um transtorno profundo e requer uma intervenção séria por parte dos adultos.
Apesar de não ser um fenômeno novo, o cutting entre adolescentes é um comportamento que vem aumentando nos últimos tempos. Por isso, é importante que como pais estejamos atentos ao aparecimento de alguns sinais relacionados a isso. E acima de tudo, que saibamos reagir adequadamente a essa situação.
Se você quer saber mais sobre o assunto, não pode perder tudo o que temos para lhe contar neste artigo.
O que é cutting?
Cutting é o termo utilizado para designar as automutilações que, em geral, os adolescentes fazem a si mesmos.
O tipo de agressão mais frequente é um corte superficial com a lâmina de uma faca ou qualquer outro elemento pontiagudo, daí a associação com o termo inglês cut (‘cortar’). Porém, esse ato pode ser feito de outras formas, como queimando ou se coçando.
Geralmente, essas feridas são infligidas na pele do braço, antebraço, coxa ou abdômen. As principais áreas do corpo cortadas são aquelas que não ficam descobertas ou que são fáceis de esconder. Bem, esses jovens não tentam atrair a atenção dos outros e, pelo contrário, tentam evitar as repercussões e consequências do ambiente.
Por que a automutilação ocorre?
É importante ressaltar que o cutting não é uma tentativa de suicídio, pois os jovens que se automutilam não buscam acabar com a vida. Na verdade, eles recorrem a essa prática para lidar com uma dor emocional insuportável que acham impossível de lidar.
Devemos ter em mente que quando as feridas são causadas, são liberadas endorfinas, que são hormônios que proporcionam relaxamento e restauram a calma.
Assim, o desconforto psicológico é reduzido e substituído por um desconforto físico muito mais fácil de lidar.
Por outro lado, para muitos adolescentes, o cutting é uma forma de sentir que eles têm controle sobre algum aspecto de suas vidas. Geralmente, aparece em resposta a emoções de frustração, desamparo, raiva, tristeza ou angústia. E como eles não acreditam serem capazes de mudar sua situação, optam por assumir o controle de suas emoções dessa forma, pelo menos momentaneamente.
Um dos maiores problemas do cutting é que ele tende a se tornar recorrente, assim como os vícios. O adolescente pode se tornar dependente desse alívio temporário proveniente da automutilação e recorrer a ele em cada nova situação desafiadora.
Como identificar a autoagressão e ajudar o adolescente
Como comentamos, o mais comum é que as feridas causadas pelo cutting sejam escondidas pelos adolescentes. Por essa razão, é necessário estar atento a certos sinais de alerta. Por exemplo, uma mudança contundente na maneira de se vestir com preferências por roupas compridas (mesmo em dias quentes) ou pulseiras para cobrir os pulsos.
Outro sinal de alerta é o comportamento. Por exemplo, quando seu filho tem reações emocionais muito intensas e tem dificuldade em administrá-las ou quando está passando por um período particularmente difícil e não busca ou encontra apoio em seu ambiente.
Por outro lado, se você descobriu que seu filho está se automutilando, é essencial que você seja empática e compassiva. Lembre-se de que a dor emocional dos jovens provavelmente será intensa. Portanto, suas censuras, julgamentos e críticas apenas agravarão o desconforto.
Tente mostrar-se disposta a ouvir o adolescente, compreendê-lo e oferecer-lhe a ajuda de que necessita. Preocupe-se em saber o que ele sente, o que o levou àquela situação e por que ainda o faz. Essa conversa será esclarecedora e, até certo ponto, reconfortante para vocês dois.
Procure ajuda profissional!
A partir daqui, não hesite em procurar aconselhamento profissional. O jovem que pratica o cutting apresenta sérias dificuldades de gestão emocional e provavelmente sofre de ansiedade, depressão e outras condições importantes. Portanto, ter um especialista que lhe dê ferramentas para desenvolver habilidades de enfrentamento significará um antes e um depois em sua vida.
Quando seu filho aprender a lidar com o mundo, não precisará mais recorrer à automutilação. Em todo caso, não minimize a importância da situação nem a ignore: é um pedido de ajuda.
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