A relação da fala com a saúde bucal

Condições de sofrimento nas estruturas da boca podem prejudicar a forma de se comunicar. Ter uma saúde bucal adequada permite que as crianças desenvolvam a fala sem complicações.
A relação da fala com a saúde bucal
Vanesa Evangelina Buffa

Escrito e verificado por a dentista Vanesa Evangelina Buffa.

Última atualização: 05 julho, 2023

Você sabia que existe uma estreita relação entre a fala e a saúde bucal ? Neste artigo, contaremos como o estado da boca influencia a forma como você se comunica.

O balbucio e as primeiras palavras do bebê são momentos muito significativos para toda a família. É normal, e até engraçado, que ao começar a falar os pequenos tenham alguns erros de pronúncia. Com o passar do tempo, a expressão oral melhora e as dificuldades de pronúncia tendem a desaparecer. No entanto, as condições da boca podem ser a origem de certas dificuldades na hora de se expressar.

A saúde bucal e a fala

Para poder falar, é necessário o trabalho coordenado de nossos lábios, bochechas, língua, dentes e maxilares. Da combinação de movimentos e posições dessas estruturas surgem sons claros e bem articulados, necessários para pronunciar as palavras. As crianças começam a desenvolver a fala por volta do primeiro aniversário, na mesma época em que nascem os primeiros dentes.

À medida que crescem, as crianças aprendem onde diferentes sons são produzidos em suas bocas. Assim, elas se familiarizam com a vocalização e o movimento, praticam e exercitam os fonemas e, aos poucos, a articulação das palavras melhora. Porém, quando algum dos componentes envolvidos na produção dos sons apresenta algum problema de saúde, a fala pode ser afetada.

A ausência de dentes, dentes quebrados e a incapacidade de movimentar a língua livremente são fatores que podem comprometer a articulação das palavras. Uma saúde bucal adequada permite que a criança aprenda a falar sem obstáculos ou interferências. Por isso, é fundamental que os pais se atentem aos cuidados com a boca de seus filhos e levem seus pequenos ao check-up odontológico desde o primeiro ano de vida.

Problemas de saúde bucal que afetam a fala

Durante a infância, muitas são as situações que podem comprometer e afetar as estruturas orais envolvidas na fala. A seguir, vamos contar alguns dos problemas orais que podem comprometer a linguagem.

Quando há problemas na fala, é importante recorrer a um fonoaudiólogo. O profissional ajudará o pequeno a reeducar a linguagem e melhorar a pronúncia dos fonemas.

Anquiloglossia ou língua presa

A língua presa ou anquiloglossia é uma anomalia congênita caracterizada pela presença de frênulo lingual curto. O tamanho menor dessa membrana restringe os movimentos da língua, o que causa dificuldades na sucção, alimentação, deglutição e fala nas crianças. No que diz respeito à linguagem, as crianças têm dificuldade, sobretudo, em pronunciar os sons “d”, “n”, “l”, “r” e “t”.

Para resolver essa condição, os dentistas realizam uma cirurgia simples chamada frenectomia. Com esse procedimento, o frênulo lingual é cortado e removido para que a língua possa se mover normalmente e cumprir suas funções. Em geral, o tratamento cirúrgico é complementado com sessões de fonoaudiologia.

Más oclusões

Dentes mal posicionados e tortos ou mandíbulas que não se encaixam adequadamente causam problemas de mordida em crianças. Estas são as situações mais frequentes:

  • Apinhamento: os maxilares são muito estreitos e os dentes, como não têm espaço suficiente, sobrepõem-se uns aos outros.
  • Diastemas: os elementos dentais são amplamente separados uns dos outros.
  • Mordida aberta: ao fechar a boca, os dentes superiores e inferiores não se tocam.
  • Mordida cruzada: os pedaços do maxilar inferior estão localizados do lado de fora dos do maxilar inferior, o inverso de como normalmente ocorre.
  • Overbite: a mandíbula superior se projeta para a frente ou cobre excessivamente a mandíbula inferior.

As más oclusões podem ter origem hereditária, mas também podem ser causadas por alguns hábitos nocivos durante a infância. Por exemplo, o hábito de chupar o dedo, usar mamadeira ou chupeta por muito tempo ou respirar pela boca. Essas interferências na oclusão afetam muitas das funções da boca, como mastigação, alimentação, estética e fala.

Problemas de mordida podem levar à incapacidade de produzir sons estridentes, que são aqueles produzidos pelo rápido fluxo de ar contra os dentes, como “f”, “v”, “z” e “ch”; bilabiais, como “p”, “m”, “b”; linguaveolares, como “s”, “l”, “r” e “rr”; e linguadentais, como “t” e “d”.

Distúrbios miofuncionais orofaciais

Os distúrbios miofuncionais orofaciais (DMO) afetam os músculos da face e da boca, causando padrões de movimento muscular atípicos. Além disso, muitas vezes há uma desconexão entre lábios, língua, bochechas e dentes.

Assim como as más oclusões, os DMO podem ser causados por certos hábitos. Por exemplo, chupar o dedo, morder as unhas, bochechas ou lábios; empurrar a língua contra os dentes, usar mamadeiras ou chupetas e apertar ou ranger os dentes. Além disso, eles podem ser causados por fatores genéticos ou problemas de saúde, como obstruções no trato respiratório superior ou amígdalas aumentadas.

Se esses distúrbios não forem tratados, eles interferirão na alimentação, na respiração e na fala da criança. Além disso, podem afetar o crescimento e desenvolvimento das estruturas da face e da boca, alterar o alinhamento da mordida, o movimento das articulações da mandíbula e a aparência da criança. É comum que esses pequenos tenham problemas com a produção de certos sons, como “j”, “s”, “z”, “sh”, “zh” e “ch”.

A perda prematura dos dentes pode afetar a fala da criança, já que ela se acostumará a pronunciar sem essas partes. Nesses casos, será necessário procurar a ajuda de um terapeuta que a ensinará a corrigir as dicções incorretas.

Perda prematura de dentes

A extração ou perda precoce de um ou mais dentes na boca das crianças também pode afetar a fala. A ausência desses suportes, necessários para a produção de certos sons, dificulta a pronúncia dos pequenos. Caso as extrações sejam inevitáveis, é imprescindível a realização de reabilitações capazes de devolver à boca as funções perdidas.

Aparência

A má saúde bucal pode levar a criança a sentir vergonha da boca e a querer escondê-la. Estar ciente de seu mau hálito, falta de dentes ou dentes tortos, cariados, manchados ou quebrados pode causar esses sentimentos nos pequenos. Assim, ao não abrir a boca o suficiente, a fala fica comprometida. Consequentemente, as crianças não conseguem pronunciar as palavras corretamente e sua comunicação soa como um sussurro.

O que fazer se seu filho tiver problemas de fala

Se você perceber que seu filho tem dificuldades na hora de falar, o ideal é consultar o odontopediatra. Caso haja um problema de fala, para corrigi-lo e evitar que continue, é necessário determinar a causa. Tratar a origem do distúrbio é o começo da solução. Além disso, geralmente é necessária a ajuda de fonoaudiólogos, pois eles vão ensinar ao pequeno os movimentos e as posições corretas da boca para produzir os fonemas.

Cuidados com a saúde bucal

Cuidar da saúde bucal de seus filhos desde cedo trará muitos benefícios para eles. Escovar os dentes com flúor todos os dias, ter uma dieta saudável e fazer exames regulares com seu dentista pediátrico podem prevenir muitas complicações. O fato de seu filho ter uma boca bem cuidada permitirá que ele coma, sorria e fale sem dificuldades.


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