O que é a síndrome do incesto emocional?

Colocar os filhos no lugar do parceiro e forçá-los a cumprir um papel que não lhes corresponde é o que muitos especialistas chamam de “síndrome do incesto emocional”. Isso tem consequências profundas na saúde mental e na qualidade das relações dos jovens.
O que é a síndrome do incesto emocional?
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 20 setembro, 2022

Muitas vezes, os filhos são pressionados para que atendam às expectativas e respondam às necessidades não atendidas dos pais. Isso é o que alguns especialistas chamam de “síndrome do incesto emocional”. Vamos ver do que se trata e por que é prejudicial.

Saiba o que é a síndrome do incesto emocional

Esse fenômeno, que tem sido chamado de incesto emocional, na maioria das teorias psicológicas tem a ver com a indefinição das fronteiras entre os membros da família e com mudanças nos papéis e funções.

Por isso, muitos especialistas alertam que a palavra “incesto” pode ser inadequada. Logicamente, a primeira ideia que vem à mente tem a ver com abuso ou relações sexuais entre membros da família. Nesse caso, não está relacionado a nenhuma dessas situações.

No entanto, é importante notar que o poder é usado em um vínculo assimétrico e a criança envolvida é forçada a “tomar partido”.

Algumas características da síndrome do incesto emocional

Os pais esperam cumplicidade do filho e o colocam em uma situação desconfortável ao ter que escolher entre um dos pais ou o outro.

O erro cometido por um – ou ambos – os pais tem a ver com buscar apoio e suporte dos filhos de forma inadequada, o que pode dar origem a diversas situações, como as seguintes:

  • Espera-se a cumplicidade dos filhos: desta forma, os pequenos ficam entre “a pedra e a espada” por terem que escolher – ainda que indiretamente – entre um dos pais ou outro. Sob a figura de confidentes ou melhores amigos, o papel de vítimas dessas crianças é, na verdade, escondido.
  • Eles são expostos a temas que não são relevantes: há certas questões nas quais a intervenção das crianças não é adequada, seja pela idade ou pelo papel. Por exemplo, muitas vezes são revelados assuntos íntimos que deveriam ficar restritos ao âmbito do casal.
  • É uma forma de manipulação das crianças: isso porque elas são usadas como mensageiras ou porta-vozes de uma conversa que, na realidade, deveria acontecer apenas no mundo adulto. Acontece também que os filhos têm apenas uma versão dos fatos e podem ter uma ideia errada ou equivocada do outro genitor.
  • As crianças são muitas vezes instrumentalizadas: ou seja, a responsabilidade de satisfazer as expectativas e necessidades do adulto em questão é colocada sobre elas. Então, o que aparece na superfície como um vínculo de interesse, cuidado e atenção, na verdade tem outro objetivo.
  • As crianças vivem entre a ambivalência e a frustração de quenada é suficiente”: isso acontece porque, como indica a lógica nessas situações, elas não alcançam os resultados esperados.
  • As crianças acabam sendo parentalizadas: isso significa que se espera que desempenhem certos papéis e assumam certas responsabilidades que são inadequadas para sua idade.

Muitas vezes, o incesto emocional pode ser facilitado ou promovido por algumas circunstâncias, como as seguintes:

  • Problemas de saúde de um dos cônjuges.
  • Dificuldades no casal, como infidelidades ou falhas na comunicação.
  • Maus-tratos.
  • Separação ou divórcio.

Consequências do incesto emocional

Qualquer relação que não tenha limites claros compromete o bem-estar das pessoas envolvidas, e o ambiente familiar não é uma exceção. Vamos ver alguns pontos:

Afeta a capacidade das crianças de dizer não

Isso vai contra seu autorrespeito, pois ficam envoltas no que vivem como uma armadilha. Muitas vezes as crianças gostariam de estabelecer um limite, mas não sabem como fazer isso porque quem pede ajuda é uma figura significativa.

Elas sentem muita culpa e, por isso, se voltam contra si mesmas e ignoram seus próprios desejos e necessidades. Mesmo quando elas conseguem se impor, o genitor toma a ação como uma traição e mostra isso, o que aumenta ainda mais a culpa.

Quando a criança não atende às expectativas do genitor, o genitor considera uma traição e deixa isso bem claro, o que gera um sentimento de culpa na criança.

Dificuldade em compreender e conter a situação

Muitas vezes as crianças não têm a maturidade e o desenvolvimento emocional necessários, não só para conter a situação, mas até para compreendê-la.

Problemas para se relacionar com outras pessoas

No futuro, essa dificuldade também pode levar a obstáculos no vínculo com outras pessoas. Por outro lado, à medida que essas crianças aprendem que suas necessidades estão em segundo plano, muitas vezes tendem a se comportar de maneira complacente.

Às vezes, elas estão tão desconectadas de seus próprios desejos que são incapazes de tomar decisões ou pensar por si mesmas. Isso acontece porque elas sempre viveram para outra pessoa, então sua função é fazer seu pai ou mãe feliz.

O todo, mais do que as partes

Por fim, além de olhar com lupa para uma determinada relação, devemos evitar fazer uma leitura reducionista. Além das pessoas diretamente envolvidas, esse tipo de relacionamento é prejudicial para toda a família.

Por exemplo, se nesse vínculo preferencial um filho recebe mais atenção do que os demais irmãos, isso gerará conflitos entre eles. Consequentemente, a situação dará origem a toda uma gama de emoções e sentimentos que podem ser ciúmes, hostilidade ou autoestima ferida por parte de quem não recebe essa atenção, entre outros. Portanto, o “subsistema parceiro”, o “subsistema fraterno” e o “sistema pai-filho” são afetados. Em outras palavras, produz-se um efeito cascata que altera e permeia todas as relações.


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