Por que o vínculo entre mãe e filha é tão forte?

O vínculo entre mãe e filha tem substrato biológico, mas este não é o único aspecto que o influencia. Saiba mais neste artigo.
Por que o vínculo entre mãe e filha é tão forte?

Última atualização: 09 novembro, 2021

De acordo com um estudo publicado no The Journal of Neuroscience em 2016, há evidências que relacionam o desenvolvimento de algumas estruturas cerebrais ao vínculo entre mãe e filha. Da mesma forma, é impressionante que esse fenômeno seja transmitido de geração em geração, através da linha materna.

Será que a natureza tornou especial essa união emocional entre mulheres do mesmo sangue? Saiba mais!

O vínculo entre mãe e filha

Filha dando beijo e abraçando mãe.

O objetivo do estudo em questão era determinar a influência das mulheres no desenvolvimento de alguns padrões estruturais do cérebro dos seus filhos. Em particular, se existia qualquer evidência física da transmissão de doenças psiquiátricas entre as mulheres, conforme sugerido por estudos anteriores.

No entanto, é importante destacar alguns pontos sobre a interpretação desses estudos:

  • Os resultados não podem ser generalizados em todos os casos, uma vez que refletem o que é observado em certas populações e circunstâncias.
  • Embora um pai ou uma mãe possam transmitir uma certa predisposição para que uma criança sofra de uma ou outra doença, isso não significa que a patologia vai se manifestar. Além dos fatores genéticos, as características do ambiente desempenham um papel significativo.

Esse estudo analisou um grupo de 35 famílias saudáveis e avaliou o volume de massa cinzenta presente (VMG) no circuito córtico-límbico do cérebro, que está fortemente associado à regulação das emoções.

Dentro dele estão duas estruturas importantes: a amígdala e o hipocampo. Ambas estão relacionadas a respostas emocionais, e uma disfunção em qualquer uma delas pode levar a certos transtornos de humor, como depressão, ansiedade ou medo.

Quando os resultados foram comparados, observou-se maior semelhança no VMG do circuito límbico no par mãe e filha em relação aos demais pares (mãe e filho, pai e filho, pai e filha). Isso poderia explicar os efeitos intergeracionais na regulação das emoções dos descendentes.

Não vamos tirar conclusões precipitadas!

Agora, vamos esclarecer algumas dúvidas sobre o que esses resultados implicam:

  1. O vínculo entre mãe e filha é mais forte do que os outros laços familiares? Não, porque os relacionamentos humanos são influenciados por muitos fatores, a despeito de como as estruturas cerebrais são moldadas.
  2. Isso significa que mães com transtorno de humor necessariamente os transmitem para suas filhas? Também não. Como já dissemos, os fatores ambientais também influenciam o desenvolvimento das patologias.

Nesse sentido, a epigenética veio nos ensinar que as influências biológicas andam de mãos dadas com as influências ambientais.

Cada vínculo é único

O segredo para pensar nos vínculos é saber como focar em sua singularidade, uma vez que não existem regras universais e nenhuma receita pode ser generalizada.

Os relacionamentos são construídos ao longo do tempo, e é necessário compartilhar muitos momentos para se conhecer e se compreender. O vínculo entre mãe e filha não é uma exceção e sua força requer o envolvimento de ambas as partes.

A importância do apego

A relação entre os progenitores e seus filhos tem uma base muito importante no apego.

O conceito de apego faz parte de uma teoria proposta por John Bowlby, que postulou que o ser humano tem a tendência de estabelecer relações afetivas com as pessoas, em busca de proximidade, segurança e afeto.

A relação de apego que se estabelece nos primeiros anos de vida influencia o desenvolvimento da autoestima, da segurança e da motivação dos nossos filhos para explorar.

O apego permite que os filhos se sintam amados e protegidos e exige que os pais sejam sensíveis e estejam disponíveis para suas necessidades. Além disso, também requer passem um tempo e interajam com os pequenos.

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Biologia não é destino

Com base nos resultados do referido estudo, é importante resgatar algumas ideias centrais. Principalmente porque tudo o que diz respeito às influências genéticas muitas vezes leva à culpa dos progenitores.

Embora a biologia possa desempenhar um papel importante na presença ou ausência de certas características dos nossos filhos, ela não determina tudo por si mesma.

O ambiente em que uma pessoa e sua família vivem também tem influência no desenvolvimento do cérebro, especialmente em idades precoces. Daí o fato de uma rede de contenção funcionar como fator de proteção e resiliência para os casos em que há certa predisposição para sofrer de transtornos de humor.


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