Amar um filho adotivo tanto quanto um biológico
Não se engane. O amor começa como uma idealização que nasce de uma questão cultural, em todos os seus aspectos.
O amor em si mesmo cresce e se desenvolve ao longo do tempo. Sua natureza, a natureza de qualquer relacionamento, depende de muitas questões e fatores. E isso não exclui o amor entre pais e filhos, sejam biológicos ou adotados.
No entanto, o sangue importa tanto quanto dizem? O fator biológico influencia no amor que você pode sentir por um filho? Barreiras psicológicas podem surgir no amor? A situação biológica supera o instinto materno ou paterno?
Uma questão tabu?
Se você pode amar uma criança adotada tanto quanto uma biológica é uma questão muito delicada que muitos pais temem enfrentar. E aqueles que a fazem abertamente se expõem a ser duramente criticados. Mas, no fundo, a dúvida existe.
A Agência Americana de Adoções explica que uma das partes mais difíceis da transição de ter um filho biológico à adoção é que muitas pessoas perguntam se os pais vão amar uma criança adotada tanto quanto um filho biológico.
Segundo explicação da agência, embora possa ser mais difícil do que os pais podem imaginar, sim, é possível amar um filho adotivo tanto quanto um filho biológico.
A resposta está no apego e nos vínculos
A agência citada explica que cada vez que um pai ou uma mãe alimentam, trocam, dão banho, abraçam, beijam ou pegam uma criança, o apego cresce e se desenvolve um vínculo. Esse vínculo entre pais e filhos, portanto, não tem nada a ver com o fato de a criança ser biológica ou adotada. Mas, sim, com as experiências que compartilham.
Um tipo de amor diferente?
Contudo, apesar de ser possível amar um filho adotivo tanto quanto um biológico, a situação pode mudar quando se tem filhos adotivos e filhos biológicos.
Em um artigo publicado no jornal “The Guardian” em dezembro de 2007 intitulado “A different kind of love” ( Um tipo diferente de amor, tradução livre), Kate Hilpern conta que, depois de perguntar a pais adotivos se o seu amor por seus filhos teria mudado se estes fossem biológicos, a maioria respondeu com um enfático não. Hilpern conta que inclusive alguns se sentiram ofendidos com a pergunta.
No entanto, fazer essa mesma pergunta a uma pessoa que tem filhos biológicos e adotados é uma questão que os coloca à prova, “uma questão que toca o coração sobre o que significa ser pai“, como Hilpern diz.
Hilpern cita as palavras que Rebecca Walker escreveu em seu livre Baby Love (Amor de Bebê, tradução livre). A escritora explica: “Não me importa quão próximos os pais estejam do filho adotivo ou da amada enteada, o amor que sentem por seu filho não biológico não é o mesmo que o amor que sentem pela sua própria carne e sangue.”
Walker também diz: “Sim, eu faria qualquer coisa por meu primeiro filho [não biológico], dentro do razoável. Mas eu faria qualquer coisa por meu segundo filho [biológico] sem razão, sem dúvida“.
Também não faltam testemunhos daqueles que afirmam que levaram um tempo para se sentirem realmente mães ou pais de crianças que não tenham concebido, e que o relacionamento levou tempo para se consolidar.
Por outro lado, muitos pais adotivos se sentem tão culpados de não sentir esse amor e essa conexão que nunca chegam a construir uma verdadeira relação pai/filho ou mãe/filho.
O mito do amor à primeira vista
A nossa sociedade está apaixonada com a ideia do amor, da ilusão de imediatismo sem esforço. Isso pode ser facilmente entendido nas relações em casal. Mas ocorre em todo tipo de relacionamento, inclusive com as crianças. Para chegar a sentir um amor verdadeiro os relacionamentos devem se desenvolver e é preciso dar tempo para crescer.
Algumas pessoas possuem mais facilidade que outras para os relacionamentos. Pode ser uma questão de empatia, hormônios ou cultura. Podemos chamar inclusive de “instinto materno”. Entretanto, dar um nome a isso não mudará o fato de que um relacionamento precisa de tempo.
Sejamos sinceros, a herança genética desempenha um papel fundamental no amor que se sente pelos filhos. No entanto, isso não significa que você não possa amar um filho adotado da mesma maneira. Na verdade, não existe uma forma universal de amar aos filhos, nem uma maneira melhor de amá-los.
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