As emoções secundárias e sua manifestação nas crianças
Identificar as emoções pode ser fácil às vezes. No entanto, há algumas emoções menos evidentes, com as quais devemos aguçar a percepção. Trata-se das emoções secundárias, cujo prolongamento no tempo pode ter consequências negativas.
As emoções podem ser classificadas em dois tipos: primárias e secundárias. As primeiras são aquelas com as quais respondemos a estímulos do nosso meio ou dos seres que fazem parte dele. Por exemplo, se alguém nos xinga ou nos bate, vamos sentir raiva. As emoções secundárias, entretanto, não são inatas e são adquiridas à medida que crescemos.
De acordo com a classificação elaborada pelo psicólogo Paul Ekman, as emoções primárias são: alegria, tristeza, raiva, medo, asco e surpresa. Uma característica essencial desse tipo de emoção é que elas são universais e estão geneticamente delineadas. Ou seja, nós as conhecemos desde quando nascemos.
William James e Carl Lange acrescentaram a ideia de que as emoções dependem de dois fatores: as mudanças físicas que acontecem no nosso organismo em resposta a um estímulo e a posterior interpretação que fazemos delas.
Sobre essa teoria, Stanley Schacter e Jerome Singer construíram uma teoria própria que propõe que, além disso, nossos pensamentos podem desencadear também uma resposta orgânica e a posterior liberação de uma série de neurotransmissores que vão ativar uma emoção determinada.
Quais são as emoções secundárias?
Diferentemente das emoções primárias, as secundárias são um pouco mais complexas. Segundo Ekman, elas são as emoções produzidas como resultado do nosso crescimento, da interação com os demais e da combinação de várias das emoções primárias.
Além disso, não são tão facilmente identificáveis quanto as mais básicas. Isso quer dizer que nem sempre as expressaremos por meio de gestos, como um sorriso ou com o arquear de sobrancelhas, como é o caso da alegria ou do ódio.
Ekman, nos anos 1990, diferenciou as seguintes emoções secundárias:
- Culpa.
- Constrangimento.
- Desprezo.
- Complacência.
- Entusiasmo.
- Orgulho.
- Prazer.
- Satisfação.
- Vergonha.
Uma característica saliente dessas emoções secundárias é que elas são aprendidas, são mentais e não desempenham uma função biológica adaptativa.
Conexão entre as emoções secundárias e as primárias
Uma interessante análise realizada pela psicóloga venezuelana Graciela Baugher defende que as emoções secundárias expressam um problema da mente que deveríamos eliminar para não sofrer com as consequências.
“As emoções secundárias são resultado do nosso crescimento, da interação com os demais e da combinação de várias emoções primárias”
Elas agem como prolongamentos mentais das emoções primárias, que em longo prazo podem nos deixar doentes. Por exemplo, Baugher propõe que o medo nos protege em determinados momentos, mas prolongado no tempo causa ansiedade, fobias e pânico. A mesma coisa acontece com a tristeza, que nos permite iniciar uma recuperação após uma situação traumática. Mas se for prolongada, gera depressão e tendências autodestrutivas.
Por fim, detalha Baugher, algo parecido acontece com a alegria, que pode causar apego ou prazer; e a raiva, que pode ser a origem do ódio ou do ressentimento.
Como elas se manifestam nas crianças?
O primeiro passo para que uma criança possa manifestar uma emoção, algo que é importantíssimo no seu desenvolvimento emocional, é aprender a identificá-las.
Nesse sentido, a estimulação da inteligência emocional é um passo fundamental com o qual todos os pais devem colaborar. Como? Por meio de exercícios ou práticas para ajudar as crianças a compreender suas emoções, como, por exemplo, as brincadeiras, os desenhos ou, até mesmo, os aplicativos de celular.
O trabalho de Ekman se baseou no estudo das expressões faciais. Essa é a primeira via pela qual podemos detectar uma das emoções secundárias manifestadas pelas crianças.
Uma vez percebida determinada emoção na criança ou se suspeitarmos da presença de alguma delas, é extremamente recomendável incentivarmos a criança a falar. As palavras, tanto para crianças quanto para adultos, são uma das melhores maneiras de exteriorizar as emoções.
Na verdade, não fazer isso pode ser mais perigoso do que se imagina. Reprimir as emoções pode causar fraqueza emocional e mental, baixa autoestima, falta de empatia e autenticidade, além de problemas comportamentais.
“A estimulação da inteligência emocional é um passo fundamental com o qual todos os pais devem colaborar”
As emoções e o mau comportamento
O mau comportamento constitui outra forma de expressar as emoções secundárias nas crianças. Por quê? Porque apesar de o mau comportamento de uma criança poder estar geneticamente determinado pela sua natureza inata, também é consequência da educação que ela recebeu, inclusive no plano emocional.
Uma criança que guarda os sentimentos negativos ou, pior ainda, que tenta exteriorizá-los, mas não encontra o apoio nem a atenção que merece, vai acabar tendo sentimentos de ressentimento e negatividade.
Fica claro, então, que os pais desempenham um papel muito importante na identificação das emoções dos filhos, na sua compreensão e na posterior elaboração de respostas frente a elas.
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