Atypical: a vida de Sam, um menino com autismo
Atypical é uma série original da Netflix que conta a história de Sam, um garoto de 18 anos com autismo. É uma produção que se foca nas vicissitudes que um menino com essa condição enfrenta na hora de se tornar adulto, o que inclui a busca dificultada por amor e independência.
No entanto, a produção nos dá um ponto de vista mais do que interessante: não pretende que o telespectador tenha pena do protagonista, muito pelo contrário. Com um tom humorístico, oferece uma perspectiva holística, dando entidade e riqueza às histórias particulares de cada um dos personagens que cercam Sam.
Assim, cada membro da família deve lidar com seus próprios fantasmas. Ao mesmo tempo, convivem com a incerteza de ter um filho (ou irmão amigo ou namorado) diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que declara interesse em ter uma namorada e viver suas primeiras relações sexuais. Atypical não é uma peça sobre autismo. Em vez disso, é uma história sobre crescimento, vínculos interpessoais e a transição da infância para a idade adulta.
Atypical faz uma interpretação precisa do autismo?
Estamos falando de uma comédia dramática americana. O primeiro capítulo foi lançado em agosto de 2017 e até hoje tem quatro temporadas. No entanto, apesar do sucesso sustentado, tudo indicava que não haveria uma quinta.
Keir Gilchrist é o jovem ator que interpreta Sam, um menino com autismo determinado a alcançar a autonomia apesar de uma sociedade com grandes dificuldades em se adaptar a pessoas “atípicas”.
A produção tem recebido algumas críticas, pois se questiona até que ponto a interpretação está correta em relação ao autismo ou se acaba por deturpar essa condição. Nesse sentido, sabemos que quando falamos de autismo nos referimos a um amplo espectro, pois a verdade é que as manifestações podem ser muito diversas em uma pessoa ou outra, mesmo quando se compartilha um diagnóstico.
“É um distúrbio complexo e altamente heterogêneo, tanto em termos de etiologia quanto na manifestação e evolução dos sintomas em diferentes estágios de desenvolvimento, em sua expressão e apresentação de acordo com sexo, idade ou comorbidades coexistentes.”
– Hervás Zúñiga, A., Balmaña, N., Salgado, M. –
O autismo em Sam
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) caracteriza o Transtorno do Espectro Autista como uma condição do neurodesenvolvimento que se expressa pelas seguintes características:
- Dificuldades persistentes de comunicação e interação social em vários contextos.
- Padrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.
- Comprometimento clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento normal.
Em Sam, podemos notar dificuldades na comunicação social, pois é rígido na hora de expressar suas ideias e interpretar as mensagens vindas do exterior. Ele é um tanto desajeitado ao interagir com outras pessoas, seja na escola ou na loja de tecnologia, que é seu local de trabalho.
É claro que muitas vezes ele se sente isolado e incompreendido, pois sua condição o faz vivenciar situações cotidianas um tanto complexas e embaraçosas. Mas fora de casa também não está sozinho. Sam tem um grande amigo: Zahid, seu colega de trabalho. Com personalidade marcante e humor particular, esse jovem ajuda o protagonista a cumprir seus objetivos românticos e sociais.
Por outro lado, o jovem protagonista é apaixonado pela fauna antártica, principalmente pelos pinguins, e ao longo de toda a série podemos observar seu padrão restritivo quanto aos seus interesses. Dessa forma, ele estuda o comportamento dessas aves praticamente em tempo integral. Além disso, é muito difícil para ele realizar outras atividades que não estejam relacionadas ao mundo dos pinguins.
Sam e sua família
Sam busca sair de sua zona de conforto e se aperfeiçoar. Um de seus objetivos é começar a namorar e se divertir com seus colegas. Em suma, ele procura fazer exatamente o que a maioria dos jovens de 18 anos deseja.
A questão é que seu desejo de deixar de ser o filho protegido pela mãe estabelece uma forte preocupação no sistema familiar. Até então, sua condição configurava a estrutura familiar e conferia a cada membro um papel específico. Porém, diante da perplexidade com as mudanças em Sam, tudo desmorona e deixa de ser como antes.
A mudança na dinâmica familiar
Você quer saber como essa dinâmica ocorre? Bem, podemos visualizá-la como se fosse um jogo de xadrez. Com o simples ato de mover uma peça, o tabuleiro se transforma e o jogo deve inevitavelmente ser reorganizado.
O que Elsa, a mãe de Sam, fará agora que não tem mais ninguém para superproteger em casa? E quanto a Casey, a irmã de Sam, que até agora foi como uma guardiã para ele e deixou de lado sua individualidade ? Aparentemente, é Elsa quem tem mais medo de deixar o filho sozinho no mundo, já que sua identidade esteve diretamente relacionada ao seu papel de cuidadora.
Por sua vez, em relação ao personagem do pai de Sam e Casey, Doug Gardner, podemos dizer que ele teve muito trabalho interno para aceitar o autismo de um de seus filhos. No entanto, é a partir do ponto de virada do jovem que este começa a conhecê-lo mais profundamente e a confiar nas suas capacidades de convívio com outras pessoas.
Uma história de empatia e amor
Atypical é uma série que nos convida a refletir sobre normalização e diversidade, ao mesmo tempo que entretém, emociona e diverte a partir de uma história contada com empatia e amor. A autora e produtora, Robia Rashid, levou o assunto a sério e profissionalmente, então decidiu entrar no assunto e procurar especialistas em autismo.
A série respeita muito o que mostra e tenta se enriquecer com a diversidade enquanto levanta a bandeira da inclusão. Um ponto a destacar é que golpes baixos não são usados para emocionar os telespectadores. O objetivo aqui é se deslocar do aprendizado da própria vida, livrando-se de rótulos rígidos e estereotipados.
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- American Psychiatric Association. (2013). Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales-DSM 5. Barcelona: Editorial Médica Panamericana.
- Hervás Zúñiga, A., Balmaña, N., Salgado, M. (2017). Los trastornos del espectro autista. (TEA). Pediatría Integral 2017; XXI (2): 92–108.