O que NÃO é inclusão escolar

Com o objetivo de esclarecer certas confusões frequentes, vamos conferir quais são as crenças errôneas difundidas em relação à educação inclusiva.
O que NÃO é inclusão escolar
Sharon Capeluto

Escrito e verificado por Sharon Capeluto.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Muitas instituições se gabam de oferecer uma educação inclusiva, mas nem todas realmente o fazem. Na maioria das vezes, isso não acontece por falta de predisposição, e sim por falta de conhecimento ou de recursos. A realidade obriga as escolas a reverem as suas metodologias, bem como as suas práticas pedagógicas e profissionais.

As profundas mudanças sociais das últimas décadas colocaram novos desafios ao sistema educacional. Nesse sentido, o conceito de inclusão escolar vem sofrendo mudanças ao longo dos anos e, felizmente, está em constante mudança. Os arcabouços teóricos e legislativos evoluíram e, com eles, também as estratégias utilizadas em sala de aula e fora dela.

O que não é inclusão escolar?

A inclusão escolar é apenas um aspecto de muitos que envolvem o paradigma equitativo que visa respeitar a diversidade em todas as suas formas. Esta se constitui a partir de uma perspectiva ética que aprofunda a consolidação dos direitos humanos. A fim de esclarecer confusões comuns, vamos dar uma olhada nessas crenças errôneas generalizadas em relação à educação inclusiva. Nesse sentido, deve-se levar em conta que inclusão escolar não é o seguinte:

  • Ajuda os alunos a se encaixarem no sistema educacional.
  • Dá o mesmo a todos.
  • Projetada exclusivamente para pessoas com deficiência.
  • Uma prática que ocorre apenas em contextos com crianças.
  • Integração.
O sistema de ensino deve ser adaptado de acordo com as necessidades de alunos e professores. Dessa forma, a comunidade pode se tornar inclusiva.

Não é ajudar os alunos a se encaixarem no sistema educacional

A inclusão escolar é exatamente o oposto. O objetivo é que as instituições ajustem suas práticas às necessidades de cada um de seus alunos. Em outras palavras, implica um trabalho em equipe onde professores, equipes pedagógicas, diretores e famílias adaptam suas metodologias para facilitar uma comunidade inclusiva.

Sem dúvida, isso deixa ao sistema educacional um desafio mais do que complexo. É um compromisso mútuo que engloba todas as disciplinas que fazem parte das escolas, inclusive o grupo de alunos.

“A inclusão social implica necessariamente a criação de contextos educativos que respondam à diversidade das necessidades de aprendizagem, de forma a poder acolher todas as pessoas da comunidade, independentemente de sua origem social ou cultural ou de suas características individuais”.

-Talou Carmen-

Não é dar a todos o mesmo

Para entender o valor genuíno da inclusão escolar, primeiro precisamos esclarecer a distinção entre os termos igualdade e equidade, dois conceitos que muitas vezes são confundidos. Embora ambas as noções nos permitam raciocinar a justiça social com respeito, não é apropriado pensá-las como sinônimos.

Quando falamos de igualdade, nos referimos ao fato de que todas as pessoas são iguais perante a lei. Esta é uma garantia constitucional e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade ética. Todos os seres humanos devem ter todos os direitos garantidos, bem como a mesma obrigação de cumprir nossas responsabilidades de cidadão.

A igualdade confere a todos os mesmos recursos, sem privilegiar uns ou prejudicar outros. Por sua vez, a equidade reconhece a diversidade como um aspecto diferencial, a partir das necessidades particulares e situações específicas de cada pessoa.

Um sistema educacional baseado no princípio da equidade não dá a todos a mesma coisa, mas dá a todos o que eles precisam.

Não é um assunto destinado exclusivamente a pessoas com deficiência

A ideia de que a educação inclusiva é criada exclusivamente para pessoas com deficiências cognitivas, físicas ou mentais é absolutamente equivocada. A igualdade de oportunidades deve ser dirigida aos alunos como um todo. Devem ser incluídas as pessoas com deficiência, mas também aquelas que têm culturas, ideologias ou orientação sexual diferentes da maioria.

Com ou sem dificuldades de aprendizagem, todas as pessoas devem ter as mesmas oportunidades de acesso à educação. Aspectos e condições individuais nunca devem comprometer a socialização e a aquisição de conhecimentos e experiências enriquecedoras.

A UNESCO define a educação inclusiva como um processo cujo objetivo final é alcançar a inclusão social e a participação de todos a partir de estratégias educacionais que respondam à diversidade das demandas dos alunos. Especifica a importância de trabalhar particularmente com aqueles que correm risco de serem excluídos do sistema educacional e social (seja por deficiência, pobreza, distúrbios de aprendizagem e comportamento, entre outros).

A igualdade de oportunidades e o acesso à educação devem ser para todos os alunos, independentemente das condições individuais.

Não ocorre apenas em contextos com crianças

A imagem mental que surge para a maioria de nós quando se fala em inclusão escolar é a de uma sala de aula cheia de crianças. No entanto, jovens e adultos também fazem parte dos contextos acadêmicos e podem exigir estratégias especializadas para romper barreiras à aprendizagem e à plena participação nos ambientes escolares.

Inclusão não é integração

O conceito de integração adquiriu uma conotação negativa ao longo dos anos. Muitas vezes é questionado, pois pressupõe que o problema está no aluno. Ou seja, o foco estaria no déficit da pessoa. Consequentemente, busca homogeneizar a sala de aula e propõe uma padronização.

São os estabelecimentos que devem se adaptar

A inclusão reconhece a diversidade como um aspecto válido e valioso. Deste ponto de vista, o objetivo é reestruturar o sistema educacional e social em face de uma comunidade capaz de respeitar e enriquecer-se com as diferenças. Uma escola inclusiva facilita a remoção de barreiras à aprendizagem. É o sistema que se adapta a cada aluno e não o contrário.


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