Bullying religioso: o que é e como afeta os adolescentes?
Acreditamos que estamos na era em que somos mais tolerantes e conscientes da diversidade. No entanto, as escolas nos apresentam um quadro muito diferente. Casos de bullying contra minorias, aqueles alunos que se destacam por alguma diferença física, psicológica ou cultural, estão na ordem do dia. E, especificamente, o bullying religioso está mais presente do que nunca na sala de aula.
De acordo com dados coletados pelo Southern Poverty Law Center, o racismo parece ser a principal motivação por trás da maioria dos incidentes de ódio nas escolas. Além disso, há um aumento do sentimento anti-semita e anti-muçulmano que leva a ataques contra menores de minorias religiosas e étnicas.
Dado que as consequências para essas crianças e adolescentes podem ser graves e prolongadas, hoje queremos incentivar você a refletir sobre isso e oferecer orientações para detectar a situação e agir nesses casos.
O que é bullying religioso?
O bullying religioso é o bullying que ocorre por causa da religião que o aluno professa. Parte do ódio e discriminação contra a pessoa que é diferente (como em outros casos) e se baseia na fé, práticas ou vestimenta do menor que estão relacionadas ao seu credo.
Como o site Stopbullying.gov afirma, o uso de roupas como hijab ou patka (turbante) pode desencadear esses ataques. Além disso, o fato de seguir certas tradições, como o jejum, a abstinência de certos alimentos ou a oração, é motivo de discriminação nas escolas e pode levar a diferentes formas de assédio:
- Comentários ofensivos sobre as práticas ou crenças religiosas da criança.
- Insultos, zombarias, ameaças ou humilhações.
- Rejeição social que se manifesta isoladamente da vítima.
- Bullying físico, que pode incluir bater, empurrar ou lutar para forçar a pessoa a remover o traje religioso.
- Cyberbullying, que transfere essa discriminação e comentários de ódio para as redes.
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Que impacto tem nos adolescentes?
A adolescência é uma fase crucial na formação da personalidade e na organização do caráter; e sofrer bullying de qualquer tipo nesses anos pode ter repercussões graves e duradouras. No entanto, quando falamos de bullying religioso, ele tem consequências particulares, uma vez que a fé está profundamente ligada às crenças pessoais, à identidade e à herança cultural.
Sabemos que sofrer bullying aumenta o risco de ansiedade, solidão, baixa autoestima, automutilação e problemas de saúde em geral. Além disso, está associado ao tabagismo, consumo de drogas ilícitas e à presença de distúrbios psicossomáticos. Isso é afirmado em uma meta-análise publicada no World Journal of Psychiatry.
Mas, além disso, de acordo com um artigo da Global Public Health, o bullying etnocultural e religioso está significativamente associado a sintomas de depressão, ideação suicida e lesões infligidas intencionalmente por outrem. Portanto, os efeitos desse tipo de assédio são particulares.
Por outro lado, o bullying religioso pode atrapalhar o desenvolvimento espiritual dos adolescentes, levá-los a questionar sua fé, considerá-la motivo de vergonha ou levá-los à se afastar da fé.
Levando em conta que a espiritualidade é uma esfera de grande importância no ser humano e que pode até servir como fator protetor para a saúde integral, privar alguém desse tipo de crescimento interior é uma consequência importante.
Descubra mais: Bullying: como detectar e tratar?
Como pais: podemos detectar o bullying religioso?
Por vezes, as crianças e os adolescentes não comunicam a situação de bullying que estão sofrendo. Isso pode ser por constrangimento, medo de mais retaliações ou sensação de que ninguém pode ajudá-los. Assim, é fundamental que pais e professores estejam atentos para detectar aqueles sinais que podem indicar que algo não vai bem. Alguns dos mais comuns são os seguintes:
- O adolescente não quer assistir às aulas.
- Parece não ter amigos na escola.
- Não fala sobre estar na aula ou mentiras.
- É irritável, mal-humorado ou apático. Há uma mudança em seu humor.
- Tem distúrbios nos padrões de sono ou alimentação ou queixa-se de dor somática.
- Expressa antipatia por suas roupas e, principalmente, por aquelas roupas que simbolizam sua religião.
- Começa a questionar suas crenças, a se desinteressar ou relutar em participar de atividades religiosas que antes costumava desfrutar.
O que podemos fazer sobre isso?
Em geral, o bullying religioso é baseado em concepções errôneas que os alunos têm sobre as crenças ou religião de seus colegas. De acordo com um relatório realizado pelo Trinity College Digital Repository, parte de uma série de estereótipos e generalizações como a de que os judeus são materialistas, antipatrióticos ou desleais. Ou que os muçulmanos são todos terroristas ou apoiam o terrorismo.
Por isso, o ponto de partida deve ser a formação dos alunos voltada para o respeito à diversidade, para que se livrem desses estereótipos nocivos e arraigados.
Além disso, os centros educacionais devem tomar medidas para prevenir o aparecimento desses cenários de bullying, adotando medidas eficazes como o método KiVa, que tenta fornecer aos pais e alunos ferramentas que reduzam essas altercações.
No entanto, a partir de casa também podemos tomar algumas medidas, como comunicar o que está a acontecer à escola ou às autoridades se necessário, bem como oferecer ao adolescente algumas ferramentas para enfrentar a situação.
Por exemplo, um estudo da Revista de Psicodidáctica sugere que receber apoio de pais ou adultos em casa ajuda jovens vítimas de bullying a manter níveis mais altos de satisfação com a vida, apesar de sua situação. Mas, além disso, será necessário reforçar sua autoestima e ensinar-lhes estratégias de enfrentamento adequadas, para as quais pode ser muito positivo recorrer a um psicólogo infanto-juvenil.
Um apelo à consciência
Em suma, em uma sociedade cada vez mais marcada pelo multiculturalismo, o bullying religioso pode se tornar um grande problema. E, sem dúvida, nenhuma pessoa deve sofrer bullying em nenhuma circunstância, sendo os adolescentes os mais vulneráveis nessa situação.
Para as vítimas, isso pode causar sérios danos à sua saúde psicológica e bem-estar emocional e pode limitá-las quando se trata de crescimento pessoal, relacionamento com outras pessoas e desenvolvimento espiritual. Por isso, é importante que desde casa possamos detectar a situação, oferecer apoio e incentivá-los a fazer terapia quando necessário.
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