Como são detectados os surtos psicóticos em adolescentes

Não devemos subestimar a ocorrência de um surto psicótico em adolescentes. O diagnóstico precoce facilita o início do tratamento e melhora o prognóstico.
Como são detectados os surtos psicóticos em adolescentes
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 28 abril, 2023

Um surto psicótico pode parecer algo intempestivo, mas geralmente há sinais que nos permitem antecipá-lo. Nesse sentido, a psicoeducação é um recurso valioso para ajudar as famílias e os pacientes a navegar da melhor maneira nessa doença mental e em suas recaídas. Vejamos então como detectar surtos psicóticos em adolescentes.

Como detectar surtos psicóticos em adolescentes

Em primeiro lugar, a psicose é uma doença mental caracterizada pela perda de contato com a realidade. Um surto psicótico afeta a percepção, o comportamento, o pensamento e as emoções.

Sintomas positivos

É possível detectar a psicose a partir dos chamados sintomas positivos. Estes são principalmente dois:

  1. Alucinações: referem-se à percepção de algo que não existe. As alucinações auditivas são as mais frequentes, embora também existam alucinações visuais, olfativas, táteis e outras relacionadas a sensações corporais.
  2. Delírios: referem-se a uma crença real para quem a vive, ainda que não seja para os outros. Por exemplo, o adolescente pode pensar que uma pessoa está olhando para ele para machucá-lo ou que o está perseguindo.
As alucinações são um dos sintomas positivos que permitem detectar um surto psicótico em adolescentes. Por exemplo, se ele afirma que alguém está falando com ele ou que ouve vozes.

Sintomas negativos

Existem também sintomas negativos. Eles são nomeados assim porque são comuns a outros distúrbios ou estados emocionais que muitas vezes são confusos. Em geral, eles afetam o comportamento social. Alguns deles são os seguintes:

  • Falta de higiene pessoal.
  • Mudanças no comportamento habitual. Também inclui mudanças de humor.
  • Dificuldades de motivação, atenção e concentração.
  • Déficit de memória.
  • Relutância, apatia e perda de prazer.
  • Sensação de estranhamento com a realidade e despersonalização.

É claro que, em relação aos sintomas negativos, é fundamental passar tempo com o adolescente e conhecê-lo. Caso contrário, podemos interpretar mal um comportamento. No entanto, um diagnóstico precoce contribui para o sucesso do tratamento.

A psicose não tem uma causa única

Por fim, além dos sinais, é preciso reconhecer que a psicose é um fenômeno multifatorial. Ou seja, não responde nem depende exclusivamente de uma única causa. A predisposição à vulnerabilidade, a genética, a influência do ambiente, as experiências traumáticas e o uso de substâncias são ingredientes que podem influenciar um surto psicótico.

Como acontecem os surtos psicóticos na adolescência

Em termos gerais, um surto psicótico passa por diferentes estágios. A saber:

  • Prodrômico: os sintomas aparecem, mas são tão difusos que podem passar despercebidos. Por isso, a psicoeducação é fundamental para o paciente e a família, pois permite a identificação de sinais de alerta.
  • Aguda: os sintomas positivos aparecem mais claramente.
  • Recuperação: pouco a pouco, os sintomas desaparecem ou diminuem. Existem alguns fatores que ajudam a melhorar. Por exemplo, tomar a medicação corretamente ou o apoio da família.
Em caso de surto psicótico, deve-se pedir ajuda ou dirigir-se a um serviço de urgência. Deve-se ter em mente que cada crise é vivida de forma diferente.

Como agir diante de surtos psicóticos em adolescentes

Algumas recomendações que podemos ter em conta antes e depois dos surtos psicóticos em adolescentes são as seguintes:

  • Mantenha a calma e ajude o adolescente. Um surto psicótico pode ser realmente confuso para a pessoa que o vivencia.
  • Busque descanso ou alguma atividade que faça bem ao jovem. Por exemplo, avalie se não há perigo e se a pessoa precisa se retirar para um lugar para ficar sozinha. Você deve aceitar e permitir que ela descanse. Dependendo da gravidade do surto, o retorno à vida cotidiana pode levar algum tempo.
  • Proponha a participação em alguma atividade tranquila e prazerosa. Isso não deve exigir demais, mas tem que ser uma distração.
  • Aconselhar tomar medicação. Se a pessoa se esquecer, devemos lembrá-la gentilmente.
  • Facilitar uma rotina. Dessa forma, favorece-se a responsabilidade e também uma certa autonomia. Convém não superproteger nem invalidar o adolescente quanto à sua capacidade. Além disso, envolva o jovem em tarefas de exigência gradual, de menor para maior.
  • Não permita agressão ou violência. Você precisa estabelecer limites. Talvez uma crise não seja o momento oportuno, mas não convém naturalizar a agressividade.

Encontre espaços para gerenciar emoções

Para a família e os amigos de uma pessoa com psicose, a situação é realmente angustiante. Normalmente, é comum cuidar da sua saúde mental e da sua recuperação. No entanto, é fundamental poder tomar medidas para o autocuidado. Só assim será possível facilitar uma resposta de ajuda oportuna quando a situação o exigir.

Por sua vez, é importante levar em consideração que a psicose pode apresentar recaídas. Sem dúvida, é uma situação difícil e vivida com muita frustração. Porém, trabalhar a inteligência emocional possibilita ressignificar cada crise e entender que ela faz parte do processo. Dessa forma, evitamos sobrecarregar esse momento com maior angústia. Como diz o ditado, “Um tropeço não é uma queda”.


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