Como ensinar as crianças a serem automotivadas

Se seu filho se recusar a realizar certas tarefas que ele não gosta ou que são difíceis para ele, ensine-o a se motivar. Descubra como o conseguir.

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 23 maio, 2023

No dia a dia, as crianças têm de realizar múltiplas tarefas que podem não gostar ou não ter vontade de fazer no momento. Pode ser recolher seus brinquedos, arrumar a cama, tomar banho, fazer o dever de casa ou estudar para uma prova. A falta de motivação pode levá-las a não agir, a fazer a tarefa com raiva ou com reclamações, e criar um clima ruim em casa. Mas e se a chave for ensinar as crianças a serem automotivadas?

Lembre-se de que os adultos nem sempre estarão por perto e as crianças precisam aprender a orientar seu comportamento por conta própria. Talvez, com a intenção de fazer seu filho fazer o dever de casa, você tenha recorrido a insistências, ameaças ou recompensas. Mas isso não só não é positivo, como também, a longo prazo, deixa o pequeno sem ferramentas para gerir a sua própria motivação. Então, o que você pode fazer para ajudá-lo? Confira aqui.

O que é a motivação?

Um primeiro passo é entender o que é a motivação. Podemos defini-la como o processo psicológico ou emocional que impulsiona uma ação. E o faz de duas maneiras: dando direção à ação e injetando nela intensidade, força e perseverança.

Pense no seu filho quando ele joga uma partida de seu jogo favorito. Ele não hesita, sabe o que quer e coloca todos os seus recursos em ação para alcançá-lo. E o faz naturalmente, sem que ninguém precise insistir, simplesmente por convicção própria. Seria fantástico se esse grau de motivação estivesse presente em todas as tarefas diárias, mas não está. Portanto, vamos dissecar a motivação para ver do que ela é feita.

Do que depende a motivação?

Podemos entender que a motivação que uma criança sente em relação a uma tarefa é determinada por dois componentes:

1. O valor que é percebido na tarefa: de que forma e em que medida você considera que essa atividade é útil. Pode ser simplesmente porque você acha divertido, porque vai poupar seu trabalho mais tarde ou porque vai fazer você se sentir bem ou parecer bom para os outros. Em suma, percebe que tem algum valor, função ou utilidade.
2. O autoconceito: que imagem a criança tem de si mesma em relação a essa tarefa ou em que medida ela considera que será capaz de cumpri-la. Quanto mais positivo for o autoconceito a esse respeito, maior será a motivação para agir.

Quando ocorre a desmotivação?

Quando um desses dois parâmetros (ou ambos) falha, a falta de motivação fica evidente. São naqueles momentos em que a criança não quer cumprir a atividade, mas podem ser diversas situações e motivos:

• Se a criança sabe que é boa em uma tarefa, mas não percebe interesse ou valor nela, ela reagirá reclamando por ter que fazê-la.
• Por outro lado, se uma atividade é percebida como muito útil e necessária, mas a criança não confia em sua capacidade de realizá-la, ela se sentirá preocupada.
• Se a tarefa for percebida como de pouco valor e a criança também tiver um baixo autoconceito, o resultado será apatia total.

Em suma, só quando você identifica o valor da atividade e se sente capaz de realizá-la é que a motivação aparece. Pela mesma razão, é esse estado que devemos ajudar a criança a promover para ensiná-la a ser automotivada.

Como ensinar as crianças a serem automotivadas?

Para ensinar as crianças a serem automotivadas, devemos nos concentrar nos dois fatores anteriores. Aqui está o que você pode fazer sobre isso.

Ajudar a perceber o valor da tarefa

Se faltar o valor percebido da tarefa, você pode ajudar a criança a aumentá-lo das seguintes maneiras:

• Procure fazer do dever de casa um jogo. Por exemplo, se a criança é pequena e não tem motivação para arrumar o quarto, podemos inventar uma música para cantar enquanto o processo é feito. Se ela for um pouco mais velha, podemos usar um cronômetro e fazer uma pequena competição entre irmãos para ver quem recolhe tudo em menor tempo.
• Ajude a ver a utilidade da tarefa. As crianças acham difícil visualizar as consequências a longo prazo e tendem a se concentrar no imediatismo e na gratificação instantânea. Assim, por exemplo, podemos ajudá-las a ver que arrumar a cama pela manhã permitirá que ela esteja pronta na hora de dormir e que será mais confortável e agradável do que se estiver bagunçada.
• Incentive a antecipar emoções futuras. Você pode ajudar a criança a se projetar no futuro e ver como ela se sentiria. Por exemplo, talvez ela não queira estudar agora, mas tirar boas notas fará com que ela se sinta bem-sucedida, satisfeita e orgulhosa de si mesma.

Construir um bom autoconceito com elas

Por outro lado, se o que impede a automotivação das crianças é seu baixo autoconceito, podemos ajudá-las a melhorá-lo. No entanto, deve-se levar em consideração que isso não é único e pode variar dependendo da atividade. Por exemplo, seu filho pode ter muita confiança em matemática, mas não ter habilidade em música. Portanto, lembre-se de analisar cada situação especificamente. Apesar disso, existem vários pontos que podem ajudar a melhorar essa percepção de si mesmo:

• Use a comunicação para transmitir mensagens positivas a seu filho sobre suas habilidades. “Gosto muito do seu desenho, você tem muita criatividade!”, “A cada dia você está lendo melhor”, “A forma como você organiza os seus brinquedos é ótima”. Todas essas frases aumentam sua confiança e moldam seu próprio diálogo interno.
• Tente desenvolver na criança uma mentalidade de crescimento. Ou seja, incutir nela a ideia de que o resultado não é tão importante quanto o esforço, que os erros fazem parte do caminho e que a perseverança nos leva a melhorar. Assim, quando ela errar ou a atividade não der certo de primeira, ajude-a a entender isso como algo natural e uma oportunidade de melhorar.
• Deixe seu filho experimentar a conquista. Se seu pequeno achar uma determinada atividade difícil, ajude-o a praticar com tarefas relativamente simples e que estejam ao seu alcance. Dê explicações e orientações e incentive a tentar até conseguir a conquista. Esses pequenos avanços serão os que realmente construirão um bom autoconceito, pois serão baseados em sucessos que a criança realmente alcançou por seus próprios meios.

As crianças aprendem automotivação pelo exemplo

Como você pôde ver, todas as orientações acima envolvem a ajuda de um adulto que inicialmente é motivador. No entanto, passo a passo, a criança será capaz de desenvolver suas próprias ferramentas e aprenderá a ser automotivada. Por meio da prática e da repetição, ela aprenderá a antecipar as consequências de longo prazo e não se concentrar no imediatismo. Assim, saberá como encontrar suas próprias maneiras de tornar uma atividade mais divertida e poderá se orientar quando uma tarefa não funcionar na primeira vez.

Esses aprendizados, embora exijam prática e paciência, são estratégias extremamente valiosas, pois ajudam as crianças a serem mais independentes. Um pequeno que sabe regular as suas emoções e os seus procedimentos para aumentar a sua própria motivação está preparado para enfrentar todo o tipo de desafios. E, por fim, é isso que buscamos com a educação: autonomia para que as crianças naveguem pelo mundo sem precisar que estejamos sempre com elas.