Minha criança é muito exigente: o que fazer?

Diante de uma criança exigente, é importante analisar nossos próprios comportamentos para detectar se somos nós mesmos que estimulamos esse comportamento.
Minha criança é muito exigente: o que fazer?
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 02 julho, 2024

Pensemos na seguinte cena: um filho pede ao pai um achocolatado. O adulto prepara para ele, mas quando chega à mesa, a criança diz que não está do jeito que ela gosta. Então, o pai observa que o copo tem leite morno, chocolate e uma colher de açúcar, não conseguindo ver onde errou. Logo em seguida, pergunta ao pequeno, ao que ele responde que o pai não bateu o chocolate antes de colocar o leite e que não o preparou em seu copo verde.

E então, como analisar essa situação? Há quem diga que se trata dos gostos da criança e que não há nada de errado em satisfazer seu desejo para que beba o leite batido em seu copo verde. Em certo sentido, há algum sentido nisso. Agora, essas medidas de curto prazo também podem ensinar outros tipos de comportamento? Sem perceber, talvez estimulemos a criança a ser muito exigente. A seguir, vamos ver o que é e o que fazer a respeito.

Características de uma criança exigente

Aqui está uma lista de alguns dos sinais que podem indicar que estamos lidando com uma criança exigente:

  • Quer tudo e quer agora.
  • Frequentemente, há uma baixa tolerância à frustração: quando não consegue o que deseja ou as coisas não acontecem do seu jeito, pode sentir raiva.
  • Pode ser rígida sobre como fazer as coisas. Por exemplo, quando quer algo, quer isso e não outra coisa, ou quer de uma certa maneira.
  • Pode ser bastante crítica com o comportamento dos outros.
  • Nunca está satisfeita.


Ao chegar a acordos com a criança, ela não só saberá que nem tudo corresponde ao seu capricho, mas também aprenderá que terá que fazer a sua parte para conseguir o que deseja.

Como acompanhar uma criança exigente?

A exigência não é uma qualidade negativa, pois é um convite para melhorar e crescer. No entanto, quando se torna hiperexigente, costuma ser negativa, tanto para o próprio bem-estar quanto nas relações com os outros. Portanto, se você acompanha a criação de um filho ou uma criança exigente, pode aplicar algumas das seguintes estratégias:

  • Ensinar a diferença entre pedido e exigência. O pedido sempre deixa a porta aberta para que as pessoas atendam a nossa demanda ou não. Implica respeito e consideração pelo outro. No entanto, a exigência nos deixa sem opções. A diferença é perceptível até na forma como é formulada a frase e no tom em que é expressa.
  • Ensinar a formular pedidos. Em relação ao ponto anterior, você pode ensinar a criança a fazer pedidos. Isso também implica acompanhar desde o desenvolvimento de habilidades sociais e empatia.
  • Definir limites. Os limites indicam que nem tudo pode ser feito a qualquer hora ou quando você quiser. As crianças precisam aprender a pensar em terceiros e não se deixar levar apenas pelo que querem. Estabelecer limites também ajuda a desenvolver o autocontrole.
  • Promover atitudes de gratidão. Devemos ensinar o valor das coisas e o esforço para alcançá-las.
  • Ensinar a ser paciente. A princípio, o conceito pode parecer muito abstrato para os pequenos, por isso é importante acompanhá-lo com exemplos.
  • Chegar a acordos. Acordos funcionam muito bem para regular um pouco a ansiedade e não ceder tudo de imediato. Você pode pensar em alternativas, como permitir que a criança coma biscoitos quando terminar o dever de casa.
  • Deixar que se esforce para conseguir o que quer. Devemos ajudar as crianças a estabelecerem metas alcançáveis para elas mesmas, mas é importante que aprendam o valor do esforço desde tenra idade.


O que devemos evitar com uma criança exigente

Às vezes, não percebemos que nossos próprios comportamentos estão reforçando o comportamento da criança. Aqui estão algumas situações a evitar:

  • Não é possível ceder a todos os seus pedidos, mesmo que a criança faça birra. De qualquer forma, você deve sempre tentar resolver o conflito a partir de uma gestão das emoções. Por exemplo, podemos convidar a criança a se expressar e explicar porque quer ou não tal coisa. Mas nossa resposta geral nem sempre pode ser um simples “sim”. Isso é contraproducente não apenas na família, mas em todas as outras áreas em que a criança participa.
  • Não devemos perder a paciência ou responder de forma desrespeitosa. Temos que ser um modelo ou exemplo a ser imitado. Os limites devem ser estabelecidos a partir do bom senso.
Se costumávamos dizer “Porque eu disse” como argumento para alcançar o comportamento desejado de uma criança, ela aplicará o mesmo raciocínio.

Devemos rever nossos próprios comportamentos

Durante a parentalidade, pais e adultos são modelos para as crianças. Por isso, diante de uma criança exigente, é necessário rever esses comportamentos que temos com ela. Por exemplo, se desde pequenas as acostumamos a mimá-las em tudo e a satisfazer seus caprichos, é de se esperar que elas esperem o mesmo a cada pedido.

Além disso, devemos revisar as explicações e os modos que usamos quando pedimos que façam algo. É possível que, muitas vezes, sejamos nós que o façamos a partir de um papel exigente.

É bom buscar alternativas positivas para fazer solicitações e dar explicações verdadeiras sobre por que determinadas solicitações ou permissões ocorrem ou não. Da mesma forma, devemos nos perguntar até que ponto somos tolerantes com os erros. Com crianças, apenas uma distância de idade nos separa. Elãs são tão pessoas quanto nós e têm os mesmos direitos, por isso devemos nos acostumar a tratá-las como gostaríamos de ser tratados.

A educação é um processo

Em suma, a paternidade é acompanhada de nuances. Às vezes é fácil dar alguns passos, mas outras vezes é o caos. No entanto, é importante não perder de vista que os adultos fornecem ferramentas para o desenvolvimento da criança, o que deve ser feito a partir de um local de apoio e respeito.

A educação não é algo que se consegue de um momento para o outro, mas é justamente a soma de intervenções ao longo de um processo. Nós mesmos devemos considerar se somos exigentes ou não e adaptar nossas medidas de acordo com aquela criança em particular e o ciclo de vida em que ela se encontra.


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  • Capano Bosch, Alvaro, González Tornaría, María del Luján, & Massonnier, Natalie. (2016). Estilos relacionales parentales: estudio con adolescentes y sus padres. Revista de Psicología (PUCP)34(2), 413-444. https://dx.doi.org/10.18800/psico.201602.008

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