Teorias sobre a aquisição da linguagem
A linguagem infantil começa com o estágio pré-linguístico. Esta fase abrange desde o nascimento até aproximadamente os 12 meses. Em seguida, vem o estágio linguístico, durante o qual as crianças iniciam um complexo processo de desenvolvimento da linguagem, no qual começam a adquirir e a lidar com a linguagem de maneira funcional.
Esse processo de desenvolvimento da linguagem já foi explicado a partir de diferentes perspectivas. Vamos ver as teorias sobre a aquisição da linguagem que são mais conhecidas.
Teorias sobre a aquisição da linguagem
Teoria do condicionamento operante de Skinner ou Teoria comportamental
Skinner considera que o desenvolvimento da linguagem depende exclusivamente dos estímulos externos. Para esse autor, a aquisição da linguagem ocorre por meio de mecanismos de condicionamento operante.
No início, as crianças imitam os sons que ouvem da linguagem adulta para, posteriormente, associar determinadas palavras a situações, objetos ou ações.
A aquisição do vocabulário e das regras gramaticais também é feita por meio do condicionamento operante e funciona da seguinte maneira: os adultos que interagem com a criança a recompensam através de elogios ou dando atenção quando ela faz uso apropriado da linguagem ou quando usa palavras novas.
No entanto, se a criança emprega frases mal construídas, pronuncia de forma incorreta ou diz palavrões, o adulto pune e desaprova essa linguagem incorreta.
A linguagem é algo muito complexo, e a Teoria Comportamental é insuficiente para explicá-la. Nenhum estágio do desenvolvimento da linguagem é contemplado. Para essa teoria, a linguagem é simplesmente uma somatória. Ela também não explica porque todas as crianças seguem um desenvolvimento semelhante da linguagem.
Contudo, o aspecto positivo dessa abordagem é que, em estudos posteriores, o contexto e a maneira de falar com a criança serão considerados.
Teoria psicolinguística de Chomsky: teoria inatista
Para Chomsky, a linguagem é gerada a partir de estruturas inatas. De acordo com esse autor, existe um fator chamado “dispositivo de aquisição da linguagem”. Esse fator é algo inato que existe nas estruturas biológicas e genéticas do indivíduo e que determina a aquisição e o desenvolvimento da linguagem.
A partir desse dispositivo, a criança é capaz de elaborar frases bem estruturadas e de entender como as regras gramaticais devem ser usadas.
A teoria inatista considera que não há relação alguma entre linguagem e pensamento e que ambos os processos são independentes. Por isso, os estudos atuais não estão de acordo com essa teoria. No entanto, existe um consenso de que o ser humano tem uma tendência inata para aprender a linguagem.
Teoria de Bruner: teoria pragmática
A teoria de Bruner tenta encontrar uma terceira via que leve em conta o construtivismo e a interação social. Ele quer preencher a lacuna entre o impossível e o milagroso (a imitação de Skinner e a condição inata de Chomsky).
Bruner concentrou os seus estudos na interação social. Ele considerava que devem existir estruturas de interação adequadas para que a aprendizagem possa ocorrer, o que ele chamou de andaime. Esse autor introduziu o conceito de “sistemas de suporte para a aquisição da linguagem”.
Dentro desse sistema de suporte, Bruner descreve o baby talk, ou a linguagem infantil, que é usada pelos adultos para se dirigir à criança. A ideia é ajudá-la a extrair a estrutura e as regras da linguagem. Bruner defendia que a criança aprenderia a falar por meio da interação com a mãe.
O baby talk é caracterizado por ser uma linguagem lenta, breve, repetitiva e simples, que se concentra no que é concreto (o aqui e o agora). Pesquisas mostraram que até mesmo crianças de quatro anos usam essa linguagem para falar com crianças menores.
Teoria de Piaget, uma das teorias sobre a aquisição da linguagem
Para Piaget, linguagem e pensamento são dois processos intimamente relacionados. Os processos e as estruturas cognitivas são anteriores ao aparecimento da linguagem. O desenvolvimento adequado dos processos cognitivos permite o aparecimento e o desenvolvimento da linguagem. Porém, uma vez adquirida, a linguagem serve para um maior desenvolvimento do pensamento.
A teoria de Vygotsky: abordagem sociocultural
Vygotsky acredita que a linguagem e o pensamento se desenvolvem de forma independente até o segundo ano de vida. Posteriormente, a criança começa a desenvolver uma “linguagem egocêntrica”, ou seja, ela fala consigo mesma para resolver um problema e para relaxar diante das tensões. Assim, a linguagem se torna um instrumento regulador do comportamento.
É a partir dos quatro anos de idade que a criança começa a ter a confluência de linguagem e pensamento. Ela consegue passar de uma fala egocêntrica externalizada para um discurso interior.
A partir desse momento, a linguagem se intelectualiza e o pensamento é verbalizado, ou seja, há uma confluência entre linguagem e pensamento. Assim, para Vygotsky, a linguagem, que começa como um fenômeno social, acaba sendo um fenômeno intrapsíquico individual.
Para ter em mente quanto às teorias sobre a aquisição da linguagem
Considerando os pontos mais reconhecidos das diferentes teorias, podemos dizer que as crianças têm uma capacidade inata que as predispõe ao aprendizado da linguagem.
Além disso, para que a linguagem se desenvolva corretamente, é necessário oferecer à criança um ambiente adequado que permita, de forma ativa, a construção da linguagem e do pensamento.