A importância de ensinar sobre os mitos do amor romântico aos seus filhos
Sem que percebamos, os filmes, a literatura e a música se tornaram uma referência para nós. E, com isso, também a mensagem transmitida por eles. As histórias nas quais encontrar o amor parece ser o mais importante nos marcaram profundamente. Por isso, continue lendo e descubra a importância de ensinar sobre os mitos do amor romântico aos seus filhos.
As novas gerações devem entender que essas histórias de ficção são, no fim das contas, apenas ficção. Desde a infância, a indústria cinematográfica mais “melosa” nos transmite uma mensagem muito forte: o amor pode tudo.
Essa afirmação pode ser altamente perigosa para a população mais jovem porque, se não houver um senso crítico bem estabelecido, uma percepção errada da realidade pode ser desenvolvida. Ou seja, um conceito de amor que não é real será incutido.
O que são os mitos?
Antropologicamente, entende-se que um mito é um conjunto de crenças que não são verdadeiras, mas que são consideradas socialmente corretas. O antropólogo Lévi-Strauss considerava o mito como um objeto histórico cujo conteúdo muda e cuja estrutura se adapta à vida social.
Assim, os mitos não são algo estático, mas sim processos dinâmicos e versáteis, que vão se adaptando às circunstâncias e ambientes distintos. Para Lévi-Strauss, os mitos estabelecem modelos de comportamento a serem seguidos pela sociedade, uma vez que ela os considera verdadeiros.
Dessa forma, os mitos justificam comportamentos e atitudes que estão de acordo com a mensagem que eles transmitem e que a sociedade assume como uma “verdade”. É o que acontece com os mitos do amor romântico: comportamentos nocivos e violentos são justificados em torno da crença de um amor ideal.
Mitos do amor romântico
O projeto Detecta Andalucía reuniu uma série de falácias e falsas crenças sobre o ideal do amor romântico, as quais são um risco para o estabelecimento de relações de desequilíbrio de poder entre os casais.
Esse projeto elaborou uma classificação de 19 mitos, agrupando-os em quatro grupos:
- “O amor pode tudo”. Esse primeiro grupo reúne os mitos que transmitem uma crença de que o amor “verdadeiro” perdoa tudo. Com isso, o conflito é normalizado e uma compatibilidade entre amor e abuso é elaborada.
- “O amor verdadeiro predestinado”. Esse segundo grupo é liderado pelos mitos da “metade da laranja” e da complementaridade. É transmitida a mensagem de que existe apenas um amor “verdadeiro” na vida. Isso justifica ter que suportar relacionamentos prejudiciais.
- “O amor é o mais importante e exige dedicação total”. Nesse grupo, os mitos colocam o amor conjugal como o centro e a referência da existência. Isso leva à despersonalização e à renúncia da intimidade.
- “O amor é posse e exclusividade”. Por fim, há uma referência aos mitos do ciúme, que dão origem a uma justificação das relações possessivas: “se não há ciúme, não há amor”.
Por que é importante ensinar sobre os mitos do amor romântico aos seus filhos?
Certamente, o pensamento crítico é a arma mais poderosa contra os mitos. De fato, se não estabelecermos um pensamento crítico sólido nos nossos jovens, eles não serão capazes de manter distância desses mitos, os quais levam à aceitação, normalização e justificação de comportamentos abusivos e ofensivos.
Incentive o amor-próprio nos seus filhos. Sem dúvida, o amor-próprio é a chave para estabelecer relacionamentos saudáveis e evitar parceiros tóxicos.
“Amar a si mesmo é o começo de um romance para toda a vida.”
-Oscar Wilde-
Ensine para os seus filhos que um relacionamento saudável é baseado na confiança. O ciúme pode levar a justificar o controle entre o casal, algo que nunca deveria ser permitido.
O mito da metade da laranja transmite a mensagem de que só é possível ser feliz com um parceiro. É necessário ensinar desde a infância que a felicidade de cada um depende da própria pessoa. Assim, ensine para os seus filhos que eles já são uma “laranja inteira” e que eles não dependem de outra pessoa para se sentirem completos.
É verdade que os filmes que defendem um amor ideal ajudam a fugir dos problemas, mas é necessário manter certa distância.
Ajudar os seus filhos a estabelecer relacionamentos conjugais saudáveis não se trata de evitar esse tipo de conteúdo, mas sim de simplesmente manter uma perspectiva e desenvolver um pensamento crítico sobre o assunto.
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