As crianças em famílias reconstituídas
Muitos casamentos terminam em divórcio. E, sem dúvida, estamos enfrentando um fenômeno cada vez mais comum na nossa sociedade: as crianças em famílias reconstituídas.
Nova família reconstituída com crianças
O mais comum é que as pessoas, após uma separação, queiram iniciar um novo relacionamento. Porém, o mais provável é que um dos dois, ou ambos, tenham filhos dos casamentos anteriores. E a coisa fica ainda mais complicada quando o novo casal tem filhos juntos, além daqueles que já tinham.
Então, temos o que conhecemos como famílias reconstituídas, onde as crianças vivem com um dos pais, com o seu novo parceiro e, provavelmente, também com os seus filhos.
Para as crianças, pode ser difícil lidar com essa situação. A adaptação à nova configuração familiar dependerá, basicamente, do quanto a separação dos próprios pais tiver sido superada e de como eles lidam com o assunto.
Assim, se a separação foi amigável e as crianças não foram envolvidas em problemas de adultos, a adaptação às decisões subsequentes dos pais será muito mais fácil. Por outro lado, se os pais, ou um deles, não tiver assimilado a situação, os filhos viverão a nova vida dos pais com muita angústia e dificuldade.
Possíveis dificuldades para as crianças em famílias reconstituídas
- Quanto menores os filhos, mais fácil será para eles se adaptarem à nova situação. Eles certamente aceitarão a nova vida do pai ou da mãe com naturalidade. No entanto, um dos períodos mais difíceis geralmente ocorre entre os 10 e os 14 anos. Durante esse período, é muito possível que as crianças encarem a nova situação de maneira desafiadora. Elas podem não entender o papel do novo parceiro dos seus pais. Daí a típica frase: “Você não manda em mim” ou “Você não é minha mãe”. Por outro lado, a partir dos 15 anos de idade, os adolescentes já estão mais à margem da família e não são tão afetados desde que haja um bom relacionamento.
- Se os pais não terminaram o relacionamento em bons termos, é muito provável que as crianças se sintam mal por estar com a nova família. Elas podem se sentir culpadas e até mesmo mentir para um dos pais para não ferir os seus sentimentos. Lembro-me de uma menina que dizia à nova companheira do pai: “Eu não conto para a minha mãe que me dou bem com você porque ela iria chorar”. As crianças querem que os seus pais estejam felizes. Uma criança só consegue aceitar a nova família se ambos os pais tiverem aceitado a separação. Caso contrário, elas ficarão em uma situação muito difícil, pois verão o novo companheiro como um rival.
- Quando há outros filhos do novo casal. Primeiramente, é necessário verificar se eles têm um bom relacionamento entre si. O mais apropriado seria fazer com que se encontrassem esporadicamente, estabelecessem uma amizade e, gradualmente, introduzi-los no relacionamento amoroso dos pais. Pode ser que haja ciúmes entre eles. Se o casal decide começar a convivência juntamente com os filhos, é necessário ter em mente que os filhos vêm de duas famílias diferentes, certamente com regras, costumes e hábitos muito diferentes.
- Nascimento de um irmão em comum. Caso o casal tenha um novo filho, é muito importante que os outros não se sintam deslocados, pois o bebê terá o pai e a mãe, e isso poderia causar ciúmes. Por outro lado, o nascimento de um filho em comum pode ajudar a fortalecer o vínculo familiar.
- Reproduzir o modelo de família nuclear. Isso é um erro, porque uma família reconstituída nunca poderá funcionar da mesma forma que uma família nuclear, e esperar que isso aconteça nos traria muitas frustrações.
Dicas para melhorar a convivência com as crianças em famílias reconstituídas
- Espaço e tempo. É necessário que as crianças tenham o seu espaço na nova família, tanto o espaço físico quanto o espaço para estar com os seus respectivos pais. Uma recomendação seria tentar passar um tempo a sós com os seus filhos para fazer atividades com eles, além de passar tempo em família juntos. É importante encontrar um equilíbrio para que ninguém se sinta excluído. O seu novo parceiro também deve cultivar o relacionamento dele com os seus filhos e, assim, ganhar o seu afeto e confiança.
- Paciência. Cada criança tem o seu próprio ritmo. Algumas vão se adaptar mais facilmente, enquanto outras terão mais dificuldade. É necessário ter paciência e dar tempo a elas. Segundo os especialistas, a idade mais difícil para as crianças se adaptarem a uma nova família é entre os 10 e os 14 anos.
- Regras. As crianças encontrarão rotinas, costumes e preferências muito diferentes na nova família. O que era normal em uma família, poderá ser estranho na outra. Por esse motivo, é muito importante estabelecer regras de convivência na nova família. Essas regras devem ser decididas dentro do novo núcleo familiar entre todos os integrantes. Embora seja bom para ambos os pais manterem as mesmas rotinas, essas regras não precisam ser as mesmas em cada casa. As crianças podem entender perfeitamente que cada casa tem o seu jeito e também regras diferentes. O importante é que elas saibam o que é esperado delas em cada situação.
- Envolver todos os integrantes. Em uma família reconstituída, é importante que todos os integrantes se sintam reconhecidos e importantes. Para isso, é essencial fazer atividades juntos, dividir responsabilidades, combinar as regras e compartilhar espaços e tempo entre todos.
- Definir limites. Não devemos ter medo de estabelecer limites para as crianças. Muitos pais se sentem mal porque acreditam que a situação já é difícil o bastante para os pequenos. Eles temem que, se colocarem limites para as crianças, elas se voltarão contra eles.
Assim, embora o fato de estarem dentro de um novo núcleo familiar seja uma enorme mudança para as crianças, se esses pontos forem levados em consideração, a adaptação será muito mais fácil para todos, tanto para os pequenos quanto para os adultos.
Além disso, não podemos nos esquecer de que a nova família nunca poderá funcionar como se fosse uma família nuclear, pois ela não é. Se eliminarmos essas expectativas de uma família ‘normal’, também vamos nos libertar de muitas frustrações e, assim, tudo se tornará mais fácil para todos.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Puig, L. (2019), Porque 1 + 1 no siempre son dos: Guía de soporte para las familias reconstituidas. Amazon.