"Ditadura das crianças": Quando os filhos mandam nos pais
A conexão entre pais e filhos tem início no momento em que a gravidez é descoberta. Essa relação vai se desenvolvendo cada vez mais, assim como a criança, que aprende sobre o mundo e sobre si mesma. No entanto, o que tem acontecido atualmente é que são os filhos que mandam nos pais, os quais perdem totalmente sua figura de autoridade.
Em uma entrevista para o programa Saia justa, do canal GNT, a psicanalista Marcia Neder, autora do livro “Déspotas mirins, o poder nas novas famílias”, comenta sobre o fenômeno cunhado por ela com o nome de “pedocracia”.
“A pedocracia é alimentada pela idealização da maternidade. Qual é o ideal que temos da maternidade? Uma mãe que abre mão da sua vida para se dedicar ao filho. Por que as mães embarcam na idealização, por que se sentem santas mães, proibidas de ter raiva, de perder a paciência? Aí vem uma culpa fenomenal. Acima da dor dela, tem o que ela aprendeu, que é a suprema felicidade e o bem-estar do seu filho”.
Com o objetivo de evitar comportamentos indesejados (mas que são naturais na infância) como discussões, manhas, birras, etc., os pais optam por não se impor, e com isso acabam atraindo ainda mais desordem e caos para a vivência familiar.
De acordo com a psicanalista, vivemos em uma cultura na qual a criança é idolatrada, pois os pais têm uma enorme necessidade de serem amados pelos filhos. “E eles dizem que ‘se não dermos alguma coisa a eles, eles ficam chateados e dizem que não amam a gente’. É uma inversão total de valores”.
Marcia define o termo “infantolatria” como “a instituição da mãe como súdita do filho e o adulto se colocando absolutamente disponível para a criança”. Com isso, a criança simplesmente não é responsabilizada por seu comportamento. “Um bebê não tem poder para determinar como será a dinâmica familiar. Se isso acontece, é porque os pais promovem”.
As consequências de quando os filhos mandam nos pais
Marcia afirma ainda que os pais serão cobrados por essa escolha no futuro. “Ele olhará ao redor e verá outras pessoas se realizando independentemente dele. A criança que acha que o mundo tem que parar para ela passar não consegue imaginar isso acontecendo e não está preparada para lidar com a menor das frustrações. Em algum ponto, acusará os pais de terem sido omissos”.
Para diversos especialistas, o desenvolvimento físico e psicológico dos seres humanos começa ainda no ventre da mãe e continua durante a infância, a adolescência, a vida adulta… por toda a vida. Cada criança é única e possui desejos e necessidades diferentes. Obviamente, é necessário carinho e cuidado, mas também é essencial que exista disciplina, limites e amizade.
“É mais fácil deixar a criança ser rei. É mais fácil do que aguentar o chilique. Dá trabalho educar. Para evitar isso, é bem claro: estabelecer quem é pai e quem é mãe, quem é adulto e quem é criança. Se você não estabelece desde o início, tentar estabelecer depois fica complicado”.