Desenvolvimento do sistema respiratório fetal
O sistema respiratório garante a sobrevivência fora do útero da mãe. Embora se desenvolva rapidamente durante o estágio fetal, só estará totalmente maduro depois do nascimento. Na verdade, esse processo termina por volta do segundo aniversário de vida do bebê.
Uma vez ocorrido o parto, todo esse maquinário será acionado pela primeira vez e a vida do bebê dependerá de seu correto funcionamento.
É fundamental conhecer o desenvolvimento do aparelho respiratório fetal para entender a importância de cuidar da saúde da gestante para garantir que a gestação chegue a termo.
O sistema respiratório fetal
O sistema respiratório fetal é composto por diversas estruturas além dos pulmões, os quais serão fundamentais para o desenvolvimento adequado desse órgão.
Por exemplo, para conseguir esticar as vias aéreas, é necessário a entrada do líquido amniótico na boca por meio dos movimentos respiratórios fetais.
Uma vez dentro das vias aéreas, as substâncias contidas nesse líquido estimulam as células brônquicas a se multiplicarem e favorecem a ramificação da árvore respiratória. E como consequência desse alongamento, promove-se o desenvolvimento dos músculos da caixa torácica, responsáveis pela respiração do feto.
Antes do nascimento, o bebê terá desenvolvido as estruturas necessárias para garantir a respiração e a troca dos gases do ar, que são as seguintes:
- Os pulmões
- As vias aéreas superiores (como a laringe) e as vias aéreas inferiores (como traqueia, brônquios e bronquíolos).
- Caixa torácica, composta de ossos, músculos e ligamentos.
- Vasos sanguíneos pulmonares
- Terminações nervosas
- Mecanismos de defesa e desintoxicação.
Fases do desenvolvimento fetal do sistema respiratório
Todo esse processo ocorre de forma organizada e sequencial. Embora as idades possam variar, em geral podem ser estabelecidos períodos de tempo caracterizados pelos eventos-chave que neles ocorrem.
A seguir listaremos os estágios de desenvolvimento do sistema respiratório fetal:
1. Estágio pseudoglandular
Inclui o período que se segue à etapa embrionária, na qual as principais estruturas das vias aéreas e dos pulmões são formadas. Vai da 6ª à 16ª semana de gestação.
Nessa etapa, todas as principais divisões das vias aéreas estão concluídas. No final, a traqueia estará bem diferenciada dos brônquios segmentares e subsegmentares que estão localizados no interior dos pulmões. Embora essas estruturas continuem a crescer em diâmetro, elas não se ramificam mais.
Além disso, durante essas semanas haverá o fechamento das paredes que separam a cavidade torácica (onde estão os pulmões) da cavidade abdominal (onde estão os órgãos digestivos).
2. Estágio canalicular
Da semana 16ª à 24ª semana, a pequena via aérea começará a tornar sua estrutura mais complexa, formando as estruturas necessárias para a troca gasosa que ocorrerá quando o ar entrar nos pulmões pela primeira vez.
Essas unidades de troca são chamadas ácinos e são constituídas por tubos respiratórios muito pequenos (bronquíolos) e vários sacos chamados alvéolos. Dentro deste último, finalmente ocorrerão a entrada de oxigênio no corpo e a saída de substâncias residuais, como o dióxido de carbono.
3. Estágio sacular
Esse período começa no final do segundo trimestre e termina no final da gravidez (24ª à 38ª semanas). A importância dessa etapa é que durante ela as unidades de troca se tornam mais complexas até ficarem em condições ideais para serem utilizadas no final da gestação.
Durante essas semanas, os ácinos se expandem e se cercam de vasos sanguíneos que transportarão o oxigênio que entrar no corpo para o coração e o resto do organismo.
Além disso, começará a ser produzida uma substância chamada surfactante, essencial para a expansão dos pulmões e a entrada do ar que respiramos.
4. Estágio alveolar
Ao contrário das anteriores, essa fase começa durante a gravidez (36ª semana) e termina na vida pós-natal, aproximadamente quando a criança completa 2 anos. Embora a essa altura o feto já tenha desenvolvido todas as estruturas necessárias para respirar, elas representarão apenas uma porcentagem de todas as estruturas observadas em um pulmão adulto.
Desde o nascimento até aproximadamente 2 ou 3 anos de vida, a superfície de troca gasosa continuará a aumentar, seja por meio da criação de novos ácinos ou de sua subdivisão com divisórias.
Além disso, a estrutura das unidades respiratórias também sofrerá modificações, a fim de poder fazer o trabalho respiratório de forma mais eficiente.
Surfactante: para que serve?
O surfactante é uma fina camada de um líquido oleoso que protege a superfície das unidades de troca gasosa. Por ser uma camada gordurosa, evita o colapso dos alvéolos após a expiração (quando exalamos o ar dos pulmões), para que possam voltar ao seu estado original e receber novamente o ar que inspiramos.
Além de gordura, o surfactante contém proteínas essenciais para a defesa contra microrganismos que podem entrar nos pulmões através do ar que respiramos.
Embora essa substância esteja presente no sistema respiratório fetal a partir da 23ª semana de gestação, a quantidade necessária para cumprir suas funções não será a adequada antes da 35ª semana de gravidez (Kallapur, 2020).
Isso traz como consequência a possibilidade de desenvolver a síndrome do desconforto respiratório (SDR) se o bebê nascer prematuro.
Embora a quantidade de surfactante liberada nos ácinos não seja suficiente antes dessa idade gestacional, sua produção pode ser induzida por medicamentos, como os corticosteroides.
No caso de uma patologia da gravidez que requeira o parto prematuro, esses medicamentos podem ser oferecidos à mãe entre a 24ª e a 34ª semana de gestação para acelerar a maturação pulmonar do bebê e reduzir os riscos.
Pronto para nascer!
O sistema respiratório começa a se desenvolver a partir do 25º dia após a concepção e só estará totalmente formado alguns anos após o nascimento.
Durante a gestação, ocorrem mudanças significativas que levarão à criação de um dos sistemas corporais primordiais à vida.
Embora o feto realize alguns movimentos respiratórios dentro da barriga da mãe, eles ainda não cumprem a função de respirar. Esse processo de troca gasosa é realizado pela mãe, por meio da placenta.
Quando a gravidez chega ao fim, após 37 semanas de gravidez, o feto terá todas as estruturas necessárias para respirar por conta própria. Com o passar das semanas, todas elas serão ainda mais aperfeiçoadas, reduzindo o risco de complicações respiratórias, como a SDR.
Por isso, é importante que a gestante faça todos os exames e tome todas as providências necessárias para que a gravidez chegue o mais próximo possível do termo. Já que, como em todos os aspectos da vida de nossos filhos, o amadurecimento é uma questão de tempo.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Kallapur S, Jobe A. Lung Development and Maturation. Chapter 62. En: Martin R, Fanaroff A, Walsh M. Fanaroff and Martin’s Neonatal-Perinatal Medicine, Eleventh Edition. Elsevier. Philadelphia. 2020. ISBN: 978-0-323-56711-4.
- Plosa E, Guttentag S. Lung Development. Capítulo 42. En: Gleason C, Juul S. Avery’s Diseases of the Newborn. Elsevier. Philadelphia. 2018. ISBN: 978-0-323-40139-5.
- Rozance P, Rosenberg A. Neonato. Capítulo 22. En: Gabbe S, Niebyl J, Simpson J, et al. Obstetricia. Embarazos normales y de riesgo. Elsevier. España. 2019. ISBN: 978-0-323-32108-2.
- KidsHealth from Nemours Children´s Hospital. Tus pulmones y el sistema respiratorio. KidsHealth [internet]. Disponible en: https://kidshealth.org/es/kids/lungs-esp.html. [Acceso julio 2021].
- Stanford Children´s Heath. Síndrome de dificultad respiratoria en bebés prematuros. [internet]. Disponible en: https://www.stanfordchildrens.org/es/topic/default?id=respiratorydistresssyndromerdsinprematurebabies-90-P05480. [Acceso julio 2021].
- Acevedo Gallegos S, Martínez Menjivar N, Gallardo Gaona JM et al. Efectos de los esteroides como inductores de maduración pulmonar en restricción del crecimiento intrauterino. Revisión sistemática.
Perinatología y Reproducción Humana. Volume 32, Issue 3, 2018, Pages 118-126, ISSN 0187-5337,
[internet] Disponible en: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0187533718300864. [Acceso julio 2021]