O que é o transtorno de estresse traumático pós-parto?
A gravidez, o parto e o puerpério são processos naturais para os quais o corpo da mulher está preparado, e que devem ser experiências aceitáveis e até positivas. No entanto, em alguns casos, essas experiências são vividas como muito negativas, angustiantes e passíveis de ameaçar a sua integridade e a do bebê. E nesse contexto, um transtorno de estresse pós-traumático pós-parto pode ser desencadeado.
Não podemos perder de vista que o parto é um evento extremamente intenso, cheio de incertezas e no qual ocorrem inúmeros e impressionantes processos físicos e emocionais. Se o parto não foi respeitado, se a mulher não recebeu atenção empática ou não estava bem preparada psicologicamente para enfrentá-lo, a experiência pode ser muito traumática.
As consequências desse transtorno impactam não apenas o bem-estar da mãe, mas também o funcionamento familiar e até na capacidade de vínculo com o bebê. Portanto, é essencial tomar as medidas adequadas para prevenir e tratar adequadamente este problema.
A seguir, explicamos quais são seus sinais para que você reconheça essa condição a tempo.
O que é o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) pós-parto?
O TEPT pós-parto é uma das condições psiquiátricas mais comuns entre as mulheres que acabaram de dar à luz.
Estima-se que uma em cada três mulheres pode vivenciar o nascimento de seus filhos como um evento traumático e apresentar sintomas relacionados a isso. De fato, 6% das puérperas desenvolvem o quadro clínico completo, que pode ser extremamente incapacitante e ter consequências graves.
Esse transtorno ocorre quando a mãe vivencia o parto como um evento capaz de colocar em risco sua integridade ou a de seu bebê. Você sente que sua vida ou a de seu filho está em perigo como resultado de um tratamento indigno ou inadequado ou percebe a sensação de desamparo e falta de controle total.
Os sintomas do estresse pós-traumático pós-parto são semelhantes aos derivados de qualquer outra situação vivenciada como trauma, mas, neste caso, giram em torno da experiência de dar à luz. Assim, as principais manifestações são as seguintes:
- Pesadelos, flashbacks e memórias intrusivas sobre o momento do parto.
- Esforços repetidos para evitar qualquer pessoa, situação ou estímulo que lembre aquele momento traumático. Por exemplo, a mulher não quer ir às consultas obstétricas ou até se recusa a ficar sozinha com o bebê.
- Ocorrem distúrbios do sono, dificuldades de concentração e episódios de sobressalto exagerados. Além disso, o humor fica irritável ou ansioso.
- A mulher pode experimentar desinteresse, distanciamento e apatia, bem como embotamento emocional.
- É comum que sensações físicas, como palpitações ou falta de ar, apareçam ao lembrar do parto.
Por que ocorre o TEPT pós-parto?
Infelizmente, muitas mulheres vivenciam o parto como uma experiência negativa ou traumática, embora nem todas experimentem esse transtorno.
Assim, cabe perguntar o que leva algumas mães a desenvolverem seus sintomas? Em geral, a presença de certos fatores de risco, como os seguintes:
- Histórico de problemas psiquiátricos, depressão ou transtornos de ansiedade.
- Histórico de abuso, doença grave ou vários eventos estressantes da vida.
- Experiências obstétricas traumáticas anteriores, como partos instrumentais e cesarianas de emergência.
- Grande estresse, medo e preocupação durante a gravidez em relação ao parto. Isso pode acontecer em novas mães, devido à incerteza e à falta de informação e preparo para esse momento. No entanto, naquelas que já tiveram mais filhos, também pode ser devido a uma experiência ruim anterior.
- A falta de apoio no puerpério e as dificuldades em processar o ocorrido (um parto que não atendeu às expectativas).
Prevenção e tratamento
O estresse pós-traumático pós-parto é um transtorno muito incapacitante e uma das principais causas de sofrimento e desconforto. No entanto, é pouco compreendido (ao contrário da depressão pós-parto) e muitas vezes não recebe a atenção que merece.
A mulher que sofre com isso pode sentir ansiedade, raiva, culpa e muita tristeza e até mesmo ter dificuldades em estabelecer um vínculo saudável com seu bebê ou projetar futuras gestações. Em suma, não só a sua pessoa, mas toda a dinâmica familiar é afetada.
Para evitar que esse problema continue, é fundamental que os profissionais de saúde respeitem os processos de parto, proporcionem às famílias um tratamento digno, humanizado e empático e não infantilizem ou invalidem a mulher durante o parto. A violência obstétrica é mais comum do que se pensa e pode causar sérias consequências emocionais.
Além disso, na medida do possível, é necessário que a mulher vá ao parto informada e preparada. Isso ajudará você a se empoderar, a encarar o evento com mais destaque, a ter uma ideia de como tudo pode acontecer e a tomar decisões pertinentes. Bem, as mulheres devem manter o controle sobre o processo sempre que possível.
Por outro lado, uma vez desencadeado o TEPT pós-parto, é fundamental não olhar para o outro lado e procurar atendimento psicológico o mais rápido possível. A psicoterapia focada no trauma, o EMDR e a terapia cognitivo-comportamental demonstraram ser intervenções eficazes, mas são necessárias mais pesquisas. E, claro, um maior alerta e melhor atenção a este transtorno oculto e silenciado.
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