Há esperança para a leucemia infantil: a terapia genética
O tratamento mais recente contra um dos tipos de câncer mais frequente na população infantil não só conseguiu abrandar a progressão da doença, como também conseguiu revertê-la. A terapia genética representa uma nova forma de esperança para as crianças que sofrem de leucemia de células B na infância.
Mas, para entender a leucemia, precisamos primeiramente saber quais células são afetadas e como elas se originam. Tudo começa na medula óssea, um tecido esponjoso de cor branca, localizado dentro dos ossos longos, tais como fêmur, bacia e esterno.
Na medula óssea, há um pequeno número de células-tronco que dão origem aos diferentes tipos de célula encontrados no sangue: a série linfoide (linfócitos) e a série mieloide (glóbulos vermelhos, plaquetas e alguns glóbulos brancos). Então, como o câncer de células B começa?
O que é a leucemia infantil?
Todo câncer surge quando o nosso corpo começa a produzir células em um ritmo descontrolado, com a particularidade de que essas células anormais não morrem. Visto que o nosso corpo é composto de células, o câncer pode aparecer em qualquer órgão do corpo.
No caso da leucemia infantil, o câncer se origina na medula óssea, de modo que as células afetadas são as células do sangue, mais especificamente aquelas que dão origem aos glóbulos brancos ou às células mieloides, os mielócitos.
Essas células cancerosas, às vezes, permanecem na medula óssea, embora geralmente alcancem a corrente sanguínea, disseminando assim a doença e, em alguns casos, invadindo outras partes do corpo, tais como os linfonodos, o baço, o fígado e o sistema nervoso central.
Tipos de leucemia infantil
De acordo com as diferentes características, a American Cancer Society classifica a leucemia infantil nos seguintes subtipos: aguda ou de crescimento rápido, crônica ou de crescimento lento, de células mieloides ou de células linfoides.
- Leucemia linfoide aguda (LLA). É a mais frequente. Afeta as células linfoides, aquelas que vão formar os glóbulos brancos. É conhecida como leucemia de células B.
- Leucemia mieloide aguda (LMA). Origina-se nas células mieloides. Representa a maioria dos casos de leucemia remanescente.
- Leucemia linfoide crônica (LLC). É muito pouco frequente em crianças. Afeta os glóbulos brancos na medula óssea.
- Leucemia mieloide crônica (LMC). Essa variação tem origem nas células hematopoiéticas, aquelas que dão origem aos glóbulos vermelhos e plaquetas, de tal forma que ela invade a corrente sanguínea. É pouco comum em crianças.
Uma nova forma de esperança: a terapia genética
Recentemente, o hospital Clinic de Barcelona tratou várias crianças com LLA de células B que não responderam ao tratamento convencional.
Foi aplicada, então, uma nova terapia genética que ainda está em fase experimental em humanos: a tisagenlecleucel. Esse tratamento foi aprovado pelo FDA em 2012 e é distribuído pela empresa farmacêutica Novartis. Mas o que exatamente é a terapia genética?
A terapia genética
A terapia genética é um tratamento ajustado a cada paciente. Nessa terapia, genes específicos são introduzidos em determinadas células do paciente a fim de combater a doença. Dessa forma, é possível evitar a rejeição de transplantes e aumentar a eficácia do tratamento, projetando alvos específicos para atacar o câncer.
Planejamento do tratamento para a leucemia infantil
O processo ocorre em várias etapas e leva cerca de 22 dias para ser concluído.
- Primeiramente, as células do sangue do paciente são extraídas e os linfócitos T são isolados.
- Então, em laboratório, eles são manipulados geneticamente. Uma sequência de DNA é incluída para produzir uma proteína chamada CAR (Chimeric Antigen Receptor).
- A CAR é responsável por reconhecer outra proteína localizada na superfície das células cancerígenas, a CD19.
- Os Linfócitos T (LT) modificados do paciente são cultivados em laboratório até que sejam obtidos bilhões deles.
- Em uma fase final, o LT modificado é inoculado no paciente na forma de infusão endovenosa.
Como o binômio T-CAR / CD19 funciona?
Imagine a célula como uma esfera em cuja superfície brotam algumas estruturas em forma de galho, cada uma com uma morfologia característica. Esses galhos serão responsáveis pela relação da célula com o ambiente e com as outras células.
No caso específico em questão, os LTs modificados do paciente expressam na sua superfície um ‘galho’ muito específico, o CAR, que reconhece outro ‘galho’ específico na superfície dos LB, o CD19. Assim que o linfócito T reconhece a célula B cancerígena, ele pode proceder à sua eliminação.
No entanto, nas palavras do Dr. Francis Collins, diretor do NIH:
“Muitas questões precisam ser consideradas antes que possamos proclamar as abordagens imunoterapêuticas ao câncer como um sucesso incondicional.”
-Dr. Francis Collins-
Sucessos e falhas da imunoterapia na leucemia infantil
Nos resultados observados após 3 meses da aplicação do tratamento, segundo o Instituto Nacional do Câncer (NIH), 80% dos pacientes que não responderam satisfatoriamente à quimioterapia convencional apresentaram uma remissão clara da doença.
No entanto, devemos ser cautelosos diante desse sucesso da imunoterapia tendo em vista os efeitos colaterais observados e que devem ser levados em consideração. O Dr.Collins apresentou um relatório no qual os pontos a seguir devem ser destacados:
- A proteína CD19 está presente nos linfócitos B, de tal forma que a LT-CDR não distingue entre as células saudáveis e as cancerígenas, devendo o paciente ser tratado para imunossupressão.
- Aparecimento da Síndrome de liberação de citosina, que é remediada após a aplicação da medicação oportuna.
- Presença de efeitos colaterais neurológicos, tais como confusão e convulsões, que parecem ser revertidos sem serem tratados.
Sem dúvida, esse tratamento inovador representa uma nova esperança para as famílias dessas crianças que estavam sem outros caminhos possíveis a seguir.
Apesar de ainda não ter sido aperfeiçoada e estar em fase experimental, os seus bons resultados facilitaram a aprovação da imunoterapia para o tratamento de outros tipos de câncer, tais como HPV ou linfomas.
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