Politraumatismo e gravidez

A associação entre politraumatismo e gravidez está mais frequente devido às mudanças na atividade laboral das gestantes e seus deslocamentos. Saiba mais sobre politraumatismo e gravidez neste artigo.
Politraumatismo e gravidez
Miriam Barriga Sánchez

Escrito e verificado por a enfermeira Miriam Barriga Sánchez.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

A associação entre politraumatismo e gravidez está se tornando mais frequente devido ao aumento da atividade laboral das gestantes, ao fato de continuarem no trabalho até o final da gestação e ao maior uso do carro para os deslocamentos.

A combinação desses fatores levou a um aumento dos traumatismos obstétricos e da morbidade e mortalidade da gestante e do feto.

A gestante apresenta características físicas e fisiológicas diferentes daquelas da mulher que não está grávida, sendo importante conhecê-las para tratar o politraumatismo e a gravidez da melhor forma possível.

Politraumatismo e gravidez

Os traumatismos se tornaram a principal causa de morte não obstétrica durante a gravidez, e dentro do binômio mãe-feto, pode haver lesões tanto derivadas do próprio trauma quanto decorrentes da situação materna.

As alterações anatômicas e fisiológicas que ocorrem nas mulheres durante a gravidez são capazes de modificar a resposta do seu corpo diante de um mesmo trauma. Assim, os efeitos de um traumatismo na gravidez serão condicionados pelos seguintes fatores:

  • Idade gestacional.
  • Tipo e gravidade do traumatismo.
  • Alterações produzidas na fisiologia feto-placentária.

É essencial concentrar os cuidados iniciais na mãe para que, mais tarde, com a mãe estabilizada, o feto possa ser atendido.

cuidados iniciais na mãe

Sistema cardiovascular

Devido às mudanças que ocorrem durante a gravidez, a gestante apresenta um aumento no volume sanguíneo, o que torna essencial controlar qualquer hemorragia materna que possa ocorrer após o traumatismo.

Esse aumento no volume sanguíneo faz com que, em caso de hemorragia, a mãe demore mais para entrar em choque. Assim, a oxigenação do feto seria comprometida muito antes. É por isso que, embora a perda de sangue não pareça afetar o estado materno, ela deve ser tratada rapidamente.

Órgãos perineais

Também será importante examinar as lesões que possam aparecer na vagina, no períneo e no reto após o traumatismo, uma vez que isso poderia indicar o envolvimento de estruturas ginecológicas e obstétricas.

Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP)

Com relação à prática de RCP em gestantes, há controvérsias sobre quando realizar uma cesárea de emergência caso não seja obtida resposta após as manobras: se após um tempo definido de manobras de RCP ou enquanto elas estiverem sendo feitas.

Para a tomada de decisão, outros fatores devem ser levados em conta, tais como a viabilidade fetal (feto com mais de 24 semanas de gestação), o estado materno, entre outros.

Traumatismos penetrantes

O aumento do tamanho do útero durante a gravidez faz com que os órgãos abdominais se desloquem, aumentando, assim, o risco de danos no útero e diminuindo o dano em outras vísceras.

O músculo uterino, o líquido amniótico e o feto permitem absorver uma grande quantidade de energia dos objetos penetrantes, minimizando, assim, os danos a outros órgãos.

Politraumatismo e gravidez: lesões específicas da gestante

Há certas lesões que só podem aparecer quando há politraumatismo e gravidez:

Traumatismo uterino

Uma pancada no útero pode causar a ruptura do músculo uterino (miométrio) e do restante de suas camadas, tornando-se uma situação de emergência para a mãe e o feto.

A ruptura uterina pode ser completa ou incompleta e, geralmente, é acompanhada por estes sinais e sintomas:

  • Bradicardia fetal (a frequência cardíaca do feto diminui).
  • Dor abdominal.
  • Diminuição ou interrupção das contrações (se houver).
  • Taquicardia ou hipotensão materna por causa da perda de sangue.
  • Hemorragia vaginal.
  • Hematúria (sangue na urina).
  • Ascensão da apresentação fetal e partes fetais facilmente palpáveis, se o feto for empurrado para a cavidade abdominal.

O tratamento no caso de uma ruptura uterina se concentra na estabilização e anestesia materna, e na cirurgia (laparotomia) para remover o feto.

lesões específicas da gestante

Contrações uterinas

As contrações uterinas podem ocorrer antes do momento do parto: após um traumatismo, diante de situações estressantes, se houver desidratação, etc. É o problema obstétrico mais frequente causado pelo traumatismo.

Dependendo da situação apresentada pela mulher e pelo feto (bolsa de líquido amniótico intacta ou não, semanas de gestação, estado fetal e materno), existem diferentes ações que serão adaptadas a cada situação individual:

  • Monitoramento materno e fetal.
  • Administração de medicação tocolítica (para interromper as contrações).
  • Permitir que o parto continue.
  • Atitude de espera.

Descolamento da placenta

A partir de um traumatismo durante a gravidez, também poderia haver um descolamento prematuro da placenta normoinserida. Isso consiste no descolamento total ou parcial da placenta antes da expulsão fetal em uma gestação de mais de 20 semanas.

Essa situação representa uma emergência vital, uma vez que a placenta é o órgão que oxigena e nutre o feto e, se estiver completamente descolada, o feto deixaria de receber suprimento de sangue.

Alguns dos sinais e sintomas que podem aparecer são:

  • Hipóxia fetal.
  • Hemorragia visível (vaginal) ou interna.
  • Dor abdominal.
  • Coagulação intravascular disseminada.
  • Choque e outras complicações.

O tratamento diante dessa situação tem como foco a estabilização da mãe e a extração fetal (cesariana ou parto vaginal).

Hemorragia fetal-materna

A passagem do sangue fetal para a circulação materna é mais frequente em mulheres que sofreram traumatismos. As consequências dessa hemorragia estão relacionadas à sua intensidade e podem ser:

  • Sensibilização Rh em mães com Rh – e feto com Rh +.
  • Arritmias.
  • Anemia.
  • Morte fetal devido ao excesso de perda de sangue.

Para evitar a sensibilização Rh, todas as mulheres com Rh – receberão imunoglobulina Rh preventivamente. Da mesma forma, o estado materno e fetal será avaliado para decidir a atitude a ser tomada.

Ruptura prematura de membranas

Consiste na ruptura da bolsa de líquido amniótico antes do trabalho de parto se iniciar espontaneamente. Os seguintes fatores devem ser avaliados para determinar a atitude a ser tomada:

  • Semanas de gestação e maturidade fetal.
  • Quantidade de líquido amniótico perdido.
  • Risco de infecção.
  • Características do líquido amniótico.
Ruptura prematura de membranas

Politraumatismo e gravidez: lesões fetais

No traumatismo que ocorre durante a gravidez, a saúde fetal também está em jogo. Um dos problemas que o feto pode apresentar, além dos discutidos acima, é o risco de sofrimento fetal.

As consequências dos traumatismos no feto são causadas pelas alterações na oxigenação e perfusão placentária. O sofrimento fetal é diagnosticado através do monitoramento externo e seus sinais são:

  • Alterações na variabilidade da frequência cardíaca fetal.
  • Desacelerações fetais após as contrações uterinas.

Em relação a politraumatismo e gravidez, lembre-se…

Cada situação deve ser avaliada individualmente e, dependendo do estado materno e fetal, serão tomadas medidas diferentes.


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