Transtorno de acumulação compulsiva em crianças

O quarto do seu filho está cheio de objetos inúteis? Ele sofre diante da ideia de se desfazer deles? Nesse caso, pode ser que ele tenha um transtorno de acumulação compulsiva.
Transtorno de acumulação compulsiva em crianças
Elena Sanz Martín

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 27 dezembro, 2022

Muitas crianças colecionam objetos sem valor real, tais como pedras ou adesivos. E a maioria delas mantém o quarto mais bagunçado e intransitável do que os seus pais gostariam. No entanto, nos pequenos que sofrem do transtorno de acumulação compulsiva, essas características são exacerbadas e impedem o funcionamento normal da vida diária.

Se a criança sofre dessa condição, os conflitos familiares provavelmente serão constantes e o ambiente doméstico vai se tornar desagradável para todos. Enquanto os pais ficam desesperados para fazer com que o filho se livre da enorme quantidade de objetos que acumula, para a criança, a simples ideia de pensar nisso se torna um verdadeiro pesadelo. Então, o que acontece durante esse transtorno? Como ele pode ser tratado?

Transtorno de acumulação compulsiva em crianças

O que é o transtorno de acumulação compulsiva em crianças?

O transtorno de acumulação compulsiva é caracterizado pela incapacidade de se desfazer de objetos e posses. A criança afetada geralmente adquire e guarda elementos dos mais diversos, com ou sem valor real, e se sente incapaz de se desfazer deles. Esse não é um comportamento de colecionismo, uma vez que os objetos acumulados não têm relação entre si nem seguem um padrão. A criança pode acumular de tudo, desde brinquedos até papéis, pedras ou rolos de papel higiênico.

Da mesma forma, a quantidade de objetos acumulados é tão grande que os espaços da criança acabam se tornando inabitáveis. A preocupação com os seus pertences monopoliza, muitas vezes, a energia mental do pequeno e a ideia de ter que se desfazer de algum deles produz um grande desconforto. Ou seja, as suas reações emocionais diante dos objetos são muito intensas, ainda que estes não possuam nenhum valor real ou simbólico.

Por que ocorre?

Ainda não estão claras as causas que levam ao aparecimento do transtorno de acumulação compulsiva. No entanto, existem algumas evidências que parecem indicar 50% de influência de fatores genéticos. Além disso, na maioria dos casos, há alguma outra patologia mental associada, como, por exemplo, o transtorno de ansiedade ou os transtornos de humor.

Da mesma forma, parece ser mais frequente em crianças com TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade). Também é possível que a ocorrência de um evento traumático ou estressante desencadeie o aparecimento dos sintomas ou cause o seu agravamento.

Por outro lado, é importante ressaltar que se trata de um transtorno crônico e progressivo. Os casos durante a infância e a adolescência são raros, mas, se aparecerem, é provável que progridam e aumentem de gravidade com o passar dos anos. Por esse motivo, é importante intervir o mais rápido possível.

Tratamento do transtorno de acumulação compulsiva em crianças

O tratamento desse distúrbio pode ser difícil porque a pessoa afetada não está consciente de que tem um problema. Geralmente, procura-se ajuda para os outros transtornos comórbidos que aparecem e somente então a tendência à acumulação compulsiva é detectada. Além disso, ao tentar retirar os pertences da criança, ela vai reagir com raiva, frustração e irritação em relação aos adultos.

Transtorno de acumulação compulsiva em crianças

A intervenção dependerá, em grande medida, da idade da criança, uma vez que crianças menores de 9 anos ainda não possuem as habilidades cognitivas necessárias para a aplicação de certas técnicas psicoterapêuticas. Nesse caso, os pais terão um papel fundamental. Em primeiro lugar, para evitar que a criança adquira e colecione novos pertences e, em segundo lugar, para incentivá-la a se desfazer progressivamente dos objetos que já possui.

Quando a criança tem mais de 10 anos, é possível (e recomendável) aplicar a psicoterapia cognitivo-comportamental. Essa abordagem terá como objetivo ajudar a criança a compreender os seus sentimentos e a origem do transtorno, e a modificar os seus pensamentos e comportamentos.

Será importante trabalhar os vazios emocionais e os medos que levam à acumulação para que a criança possa sentir segurança. E, da mesma forma, será necessário ensinar e reforçar a tomada de decisões e a autoconfiança. Assim, ela poderá descartar os objetos progressivamente.

Da mesma forma, se houver qualquer outro transtorno mental, é essencial abordá-lo de forma específica, pois ele pode estar exacerbando os sintomas de acumulação. De qualquer forma, apesar da dificuldade que o tratamento pode acarretar, é importante realizá-lo. Caso contrário, estaremos comprometendo o bem-estar e o futuro da criança.


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