Meningite em crianças: sintomas, causas e tratamento
O cérebro é um órgão essencial para a vida humana. Junto com outros órgãos, forma o sistema nervoso central (SNC) e desempenha um papel “executivo” no corpo. Esse aparelho é revestido por membranas (meninges) e uma camada líquida (líquido cefalorraquidiano) que o protegem de lesões externas, como traumatismos ou infecções. Quando as meninges ficam inflamadas, a condição resultante é chamada de meningite.
Como ocorre a meningite?
A inflamação das meninges tem várias causas, mas na maioria das vezes é produzida por infecções. Após a entrada de germes no organismo (principalmente pelas vias respiratórias superiores), são acionados mecanismos para contornar o sistema de defesa.
Alguns germes avançam e conseguem ter acesso à corrente sanguínea e, posteriormente, penetram nas barreiras que protegem o SNC. Uma vez lá, eles se alojam no líquido cefalorraquidiano e começam a se replicar, causando os sintomas característicos da doença.
Quais germes causam a meningite?
Na maioria das vezes, a causa da meningite é viral. Esses quadros podem aparecer de forma isolada ou por surtos (ou seja, vários casos ocorrem ao mesmo tempo e em um determinado local).
Dependendo do vírus e de onde estivermos no mundo, será a época do ano em que eles estarão mais presentes. Os vírus mais frequentes são os que causam diarreia (Enterovírus), embora outros como herpes, sarampo, parotidite (caxumba) ou gripe também tenham sido isolados, segundo esta publicação da Associação Espanhola de Pediatria (AEP).
A meningite também ocorre devido a infecções bacterianas, que geralmente são mais graves e abruptas do que as anteriores. As bactérias que as produzem variam de acordo com a idade, e sua frequência também é determinada pelas taxas de vacinação da população. Na Espanha, por exemplo, de acordo com os Ministérios da Saúde, do Consumo e do Bem-Estar Social, as mais frequentes de acordo com a faixa etária são:
- Recém-nascidos: Streptococcus agalactiae, Escherechia coli e Listeria monocytogenes.
- Bebês e crianças pequenas: Streptococcus pneumoniae (Pneumococo), Neisseria meningitidis (meningococo) e Haemophilus influenzae tipo b.
- Adolescentes e jovens adultos: meningococo e pneumococo.
- Adultos: pneumococo, meningococo e H. influenzae tipo b.
Quem corre maior risco de adoecer?
O risco de contrair a doença está diretamente relacionado ao grau de maturidade do sistema de defesa do organismo, denominado sistema imunológico.
Crianças pequenas não possuem as defesas necessárias para combater os germes que causam a meningite, portanto, 80% das vezes a condição ocorre em crianças com menos de 10 anos de idade, de acordo com este estudo publicado na revista Infectología Pediátrica .
Além das crianças, pessoas com deficiências imunológicas, como câncer ou infecção pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), também apresentam maior risco de adoecer.
Como se transmite?
Os germes que causam a meningite são transmitidos de pessoa para pessoa. Normalmente, quem o carrega, com ou sem sintomas de doença, o libera por meio de secreções nasais ou gotas de saliva.
O germe entra no novo hospedeiro pela boca ou pelo nariz, e colonizará as respectivas membranas mucosas. Dependendo do estado imunológico do hospedeiro, ele permanecerá no mesmo local, causando um quadro localizado (como catarro nas vias aéreas superiores) ou entrará no sangue produzindo uma infecção disseminada. De acordo com as mesmas informações da AEP, que já mencionamos acima, apenas em uma pequena porcentagem dos casos essa infecção evolui para meningite.
É importante ressaltar que um alto percentual de adolescentes e adultos será portador desses germes sem saber (portadores assintomáticos), podendo transmiti-los aos mais vulneráveis, como as crianças.
Sinais e sintomas de meningite em crianças
Os sintomas variam dependendo da idade do paciente e da causa. Isso também se aplica ao curso da doença (progressão rápida ou lenta), bem como à gravidade (leve, moderada ou grave).
De acordo com a idade, e levando em consideração as informações do estudo já mencionado publicado na revista Infectologia Pediátrica, os principais sintomas são os seguintes:
- Os recém-nascidos apresentam manifestações inespecíficas, mas muito marcantes. É comum notar mudanças de temperatura (febre ou hipotermia), recusa de alimentos, alterações no estado de consciência (irritação extrema ou sonolência), vômitos repetidos ou agitação permanente. Em alguns casos, também podem ocorrer convulsões.
- Em lactentes (com menos de 1 ano): febre, recusa de alimentos, vômitos, irritabilidade, convulsões ou tendência acentuada ao sono. É comum que a fontanela fique saliente e pareça mais tensa do que o normal.
- Em crianças com mais de 1 ano, observa-se a forma clássica de apresentação: febre alta, cefaleia, vômitos, rigidez de nuca e outros sinais de irritação das meninges (como desconforto ocular à luz ou fotofobia ). Em alguns casos, convulsões ou sinais de comprometimento neurológico também podem aparecer, como paralisia muscular ou visão dupla (diplopia).
Como a meningite é diagnosticada?
Quando houver suspeita de sinais e sintomas da doença, será importante realizar uma punção lombar para obter uma amostra de líquido cefalorraquidiano para exame. De acordo com os dados obtidos, poderemos diferenciar se a causa é viral ou bacteriana e, neste último caso, isolar o germe causador por meio de uma cultura.
Além da punção lombar, é aconselhável fazer um exame de sangue para diferentes determinações, inclusive uma hemocultura para detectar a presença de germes. Nos casos em que for necessário, pode ser realizado um exame de imagem, como uma tomografia computadorizada.
Qual é o tratamento da meningite em crianças?
A opção de tratamento dependerá do quadro clínico inicial, da idade do paciente e da sensibilidade das bactérias aos antibióticos comumente usados nesse ambiente.
Em caso de suspeita de meningite bacteriana, o tratamento com antibióticos deve ser iniciado o mais rápido possível. O ideal seria depois de colher as amostras de cultura, mas nem sempre isso será possível.
A escolha do antibiótico vai depender de muitos fatores, mas estará estabelecido nos padrões de atendimento de cada instituição. Uma vez que o germe causador tenha sido obtido na cultura, o medicamento pode ser adaptado à sensibilidade do microrganismo em questão.
Não há evidências claras sobre o uso de corticosteroides, portanto, essa opção estará sujeita às condições particulares do paciente.
Pode deixar sequelas nas crianças?
Nos casos mais graves, a meningite bacteriana pode deixar sequelas de longo prazo. Mesmo assim, sabe-se que, com o tratamento adequado, a mortalidade é reduzida para menos de 10% em crianças com mais de um mês de idade.
Embora nem sempre ocorram, as seguintes complicações foram descritas em pacientes que tiveram meningite bacteriana:
- Distúrbios visuais.
- Surdez.
- Convulsões recorrentes.
- Transtornos comportamentais.
- Dificuldades no desenvolvimento da linguagem.
- Problemas de aprendizagem.
Em contrapartida, a meningite viral costuma ter um bom prognóstico e as sequelas são excepcionais.
Como prevenir a meningite em crianças?
Os germes causadores da meningite são frequentes em nosso ambiente normal. Na verdade, muitas vezes quem os carrega desconhece essa condição, pois os adultos nem sempre apresentam sintomas.
É importante manter boas práticas de higiene, como lavar frequentemente as mãos, se distanciar de pessoas com sintomas respiratórios, ventilação adequada das salas e evitar aglomerações.
Em caso de contato com doença documentada por meningococo ou H. influenzae tipo b, é necessário iniciar um tratamento preventivo com antibióticos pós-exposição. Dessa forma, podem ser evitadas doenças graves causadas por esses germes.
Atualmente, existem vacinas disponíveis para prevenir as infecções pelos diversos microrganismos causadores da meningite e muitas delas estão incluídas no calendário de vacinação obrigatório de vários países.
Quando se trata de meningite em crianças…
A meningite é uma doença potencialmente grave e, em muitos casos, evitável. Afeta principalmente crianças pequenas e pode estar associada a complicações graves em longo prazo. Felizmente, temos várias estratégias de prevenção, como a vacinação, que não só oferecerá proteção individual, mas também terá um efeito de proteção comunitária.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Prober C et al. Central Nervous System Infections. Chapter 603. En: Kliegman R, Stanton B, St Geme J, Schor N. Nelson Textbook of Pediatrics. 20° edition. Elsevier. Philadelphia, USA. 2016.
- Carrasco Colom J. Meningitis. Sociedad Española de Infectología Pediátrica. 2011-2019. Disponible en: https://enfamilia.aeped.es/temas-salud/meningitis
- Ministerio de Sanidad, Consumo y Bienestar Social. Gobierno de España. Preguntas y respuestas sobre la vacunación frente a la meningitis. Marzo 2019. Disponible en: https://www.mscbs.gob.es/profesionales/saludPublica/prevPromocion/vacunaciones/docs/Preguntas_respuestas_Vacunacion_frente_meningitis.pdf
- Baquero Artigao F, Vecino López R, del Castillo Martín F. Meningitis Bacteriana. Protocolos diagnóstico-terapéuticos de la AEP: Infectología pediátrica. Asociación Española de Pediatría. 2008. Disponible en: https://www.aeped.es/sites/default/files/documentos/meningitis.pdf