Como ajudar seu filho com sobrecarga sensorial?

A sobrecarga sensorial pode ser difícil de identificar como tal. Além disso, dificulta que as pessoas, principalmente as crianças, realizem suas atividades diárias. Vamos ver como você pode ajudar seu filho com isso.
Como ajudar seu filho com sobrecarga sensorial?
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 18 junho, 2024

Luzes, sons, vozes, aplicações com mensagens, aromas, texturas. O dia a dia das pessoas está exposto a todas essas experiências simultaneamente. Pode parecer “normal” e a maioria já se acostumou. No entanto, essa sobrecarga sensorial ou superestimulação não passa despercebida pelo nosso cérebro e tem um impacto na nossa saúde.

Às vezes, parece difícil de controlar, como se tudo estivesse explodindo. A seguir, você poderá saber o que é sobrecarga sensorial e estratégias para lidar com ela.

O que é sobrecarga sensorial?

Nossos sentidos são responsáveis por captar sinais ou estímulos do ambiente por meio de receptores localizados em nosso corpo. Estes transmitem a mensagem ao cérebro, que analisa e interpreta a informação para que possamos compreender a experiência.

A sobrecarga sensorial refere-se a um excesso de informação, proveniente de um ou mais sentidos. É experimentada como uma “invasão”, como várias mensagens tentando chamar a atenção ao mesmo tempo. Esse fenômeno ocorre com mais frequência em pessoas com dificuldade ou distúrbio de processamento sensorial (TPS).

Em geral, a percepção de sobrecarga é mais frequente em pessoas com transtorno de déficit de atenção (TDAH) e transtornos do espectro autista (TEA). No entanto, também podem ocorrer em outros casos. Por exemplo, em pessoas com fibromialgia e em pessoas altamente sensíveis (PAS).

Fala-se também de uma sobrecarga sensorial nos primeiros anos da maternidade. Mães que passam muito tempo cuidando de seus filhos, expostas a sons, brincadeiras, luzes, contato e outros estímulos, muitas vezes relatam essa sobrecarga, somada ao estresse e ao cansaço.

Com base nessa sensação, as puérperas apresentam dificuldades para a tomada de decisões, para a concentração, para o manejo das emoções, entre outras situações.

Quando você pode sentir sobrecarga sensorial?

  • Em situação de cansaço extremo. Qualquer estímulo pode se tornar mais significativo ou avassalador.
  • Em uma sala onde há muitos estímulos presentes simultaneamente. Pode estar associado a um único sentido (por exemplo, muitas luzes em movimento ao mesmo tempo) ou podem ser estímulos percebidos por vários sentidos (luzes, pessoas muito próximas e sons muito altos). Sem dúvida, o contexto exerce grande influência na “saturação” dos sentidos, conforme explica o artigo publicado no The American Journal of Occupational Therapy.

Alguns dos sintomas que podem ocorrer são:

  • Irritabilidade.
  • Evitação de contato visual.
  • Alterações nos níveis de atividade: hiperatividade ou hipoatividade.
  • Inquietação, nervosismo.
  • Desconforto devido ao ruído, toque, entre outros.

Como consequência, seu filho pode sentir angústia, ansiedade e estresse. Também pode implicar isolamento, pois a criança sente que a situação está além dela e, portanto, decide ficar sozinha.

Da mesma forma, segundo Bellefeuille (2006), em muitos casos, os distúrbios do processamento sensorial não costumam ser bem diagnosticados, pois seus sinais são sutis e muitas vezes coincidem com outras dificuldades ou distúrbios.



Recomendações se seu filho tiver sobrecarga sensorial

Algumas dicas para ter em mente para agir contra a sobrecarga sensorial.

Ensine seu filho a identificar os sinais de alerta

Dessa forma, é possível aprender a se retirar precocemente de certas situações. Nos casos em que é impossível evitar a situação e você sabe que haverá estímulos intensos, você pode explicar à criança o que ela encontrará quando chegar a determinado local. Dessa forma, você a ajuda a se preparar.

Indique algumas estratégias para encontrar tranquilidade

Por exemplo, se seu filho se sentir sobrecarregado, ele pode tentar sair do local. Ele também pode se concentrar em exercícios respiratórios. Em alguns casos, também pode ser útil propor a realização de alguma atividade. Por exemplo, pintar mandalas.

Encontre um lugar tranquilo em casa onde seu filho possa relaxar quando necessário

Tente adaptar certos espaços da casa, com pouca luz, som ambiente, cores suaves. Dessa forma, seu filho se sentirá confortável e menos “exposto” ao ambiente. Juntos, vocês também podem se livrar de alguns itens “extras” do seu quarto. O minimalismo pode ajudar um pouco, pois você estaria em um lugar mais silencioso com pouco ou nenhum estímulo.

Por outro lado, o contato com a natureza também é recomendado. Você pode até avisar a escola sobre essa dificuldade para que ela não se torne um obstáculo ao aprendizado. Dessa forma, os professores podem colaborar na busca de estratégias para evitar expor seu filho à superestimulação.

Escolha com seu filho um único estímulo no qual se concentrar

Em um ambiente altamente invasivo, você pode sugerir que a criança use fones de ouvido e ouça música. Dessa forma, poderá se concentrar no som, em vez de ficar hipersensível a outros estímulos presentes.

Reserve “micro” momentos de silêncio durante o dia

Pode ser em intervalos de 5 minutos, o importante é que em diferentes momentos do dia seu filho possa “desligar” tudo o que acontece ao seu redor e se permitir um espaço de silêncio.

Lembre-se de que todas essas recomendações para combater a sobrecarga sensorial também podem ser aplicadas a pessoas que se sentem esgotadas e sobrecarregadas. Elas não se limitam aos casos em que há dificuldades no processamento sensorial.

Programe momentos de inatividade durante o dia

Hoje, muitos pequenos são “crianças com a agenda lotada”: da escola ao clube, do clube à aula de idiomas, depois uma visita aos avós e assim por diante. É importante não planejar tantas atividades e permitir que as crianças tenham algum tempo livre em que não sejam obrigadas a cumprir instruções ou obrigações.

Evite ou limite o uso de objetos que causam sobrecarga sensorial

Por exemplo, um carro que tem luzes coloridas, se move e também emite sons. Isso não significa que seu filho não possa usá-lo, mas talvez seja melhor reservá-lo para apenas alguns minutos de brincadeira. Você também deve levar em consideração as roupas, evitando certos tecidos e texturas.



Evitar a sobrecarga sensorial pode ser um grande desafio

Embora a sobrecarga sensorial seja mais frequente nos casos citados, vale a pena parar para pensar nas condições do cotidiano. Uma simples cena pode ajudar e mostrar a que estamos permanentemente expostos.

Você sai de casa no carro e começa a dirigir por uma rua principal. Há vários veículos à sua frente para prestar atenção, além de uma tela anunciando as melhores ofertas do dia em um supermercado. Você está com o rádio ligado e também, quando para no sinal vermelho, um veículo para ao seu lado com música alta. No banco de trás, seu filho com videogame…

Essa cena, ainda reduzida em estímulos, é o cotidiano de milhares e milhares de pessoas que, além de tudo isso, convivem com os seus pensamentos, preocupações e emoções. Então, como você se sintoniza em um mundo que constantemente convida e “compele” a um ritmo vertiginoso e superestimulado?

Talvez seja hora de pensar em estratégias para encontrar a calma em meio à tempestade sensorial em que vive nossa sociedade.


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