Neurodiversidade em crianças: tudo o que você precisa saber

Algumas crianças têm funcionamento neurológico diferente de outras. Entender seus pontos fortes e desafios é fundamental para acompanhá-las em seu desenvolvimento. Saiba mais aqui!
Neurodiversidade em crianças: tudo o que você precisa saber
Elena Sanz Martín

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 21 março, 2023

Estamos acostumados a pensar que todas as pessoas são iguais, a menos que tenha um problema. Assim, os pais esperam que seus filhos reajam e se comportem exatamente como as outras crianças de sua idade. No entanto, quando isso não acontece, eles procuram maneiras de ajudá-los a se encaixar nesse molde. Mas e se o caminho não fosse tentar eliminar as diferenças, e sim aprender a respeitá-las? Para aprofundar essa ideia, queremos falar com você sobre neurodiversidade em crianças.

Esse é um termo que ganhou destaque nos últimos tempos, pois nomeia a realidade vivida por muitas pessoas que sentem, percebem e se relacionam com o mundo de uma forma diferente da usual. A neurodiversidade ajuda a explicar certos comportamentos e dificuldades. Assim, não só confere uma identidade aos pequenos que se sentem refletidos neste conceito, mas também ajuda os seus familiares a compreendê-los, a acompanhá-los e a dar sentido às suas diferenças.

O que é a neurodiversidade?

O termo neurodiversidade foi cunhado na década de 1990 pela socióloga e ativista Judy Singer. Com esta palavra, ela pretendia refletir as diferenças em termos neurológicos e de funcionamento cerebral que existem entre os seres humanos.

No entanto, do ponto de vista estatístico, grande parte da população compartilha as mesmas características. Essas pessoas, portanto, tornaram-se a norma e são conhecidas como neurotípicas. Por outro lado, existe uma certa minoria, entre 15 e 20%, que apresenta um desenvolvimento neurológico diferenciado. Nesse caso, elas são chamadas de neuroatípicas ou neurodivergentes.

Essas diferenças são observadas em certas áreas específicas:

  • Características neurológicas: Seu cérebro funciona de maneira diferente, então essas pessoas vivenciam a realidade, aprendem e interpretam as informações de maneira diferente.
  • Processamento sensorial: Elas percebem estímulos sensoriais (sons, luzes, cheiros e texturas) de forma exacerbada ou diminuída em comparação com o grosso da população.
  • Comunicação: Elementos como contato visual, metáforas e comunicação indireta ou conversa fiada não parecem confortáveis ou naturais para essas pessoas. Por sua vez, elas podem preferir uma linguagem direta e conversas intensas e profundas sobre temas de seu interesse.
  • Relações sociais: Elas podem não mostrar reciprocidade nas trocas sociais, precisam de mais tempo sozinhas do que outras ou têm emoções muito intensas ou variáveis. Isso geralmente dificulta as interações com outras pessoas e a formação de vínculos.
As crianças consideradas neurodivergentes são aquelas que apresentam um desenvolvimento neurológico diferente das chamadas neurotípicas.

A neurodiversidade em crianças

Tradicionalmente, são consideradas pessoas neurodivergentes aquelas que apresentam, entre outros aspectos, algum dos seguintes distúrbios ou condições:

  • Transtorno do espectro do autismo (TEA).
  • Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
  • Síndrome de Tourette.
  • Altas capacidades.
  • Distúrbios de aprendizagem, como dislexia, disgrafia ou discalculia.

Como a neurodivergência afeta vários campos

No entanto, o conceito foi ampliado para atender aquelas pessoas que, sem ter ou chegar a um diagnóstico clínico, se identificam com os desafios da neurodivergência. De qualquer forma, como estamos falando de um tipo de funcionamento neurológico, ele ocorre desde o início e acompanha a pessoa ao longo de sua vida. Pela mesma razão, em seus primeiros anos, as crianças já podem começar a sofrer as consequências de “ser diferentes”.

Como o mundo não foi feito para elas, essas crianças podem ter dificuldades em várias áreas:

  • Na escola (apresentam baixo rendimento e ansiedade).
  • Nas relações com seus pares (sofrem rejeição, incompreensão e dificuldade em fazer amizades).
  • Dentro da família, os vínculos entre pais e filhos podem ser tensos e o ambiente doméstico pode ser hostil devido à falta de informações sobre a neurodiversidade nas crianças.

Compreensão e respeito pelas diferenças

Precisamente, o objetivo da neurodiversidade como movimento é nos conscientizar de que as pessoas neuroatípicas não são defeituosas ou doentes, mas que são diferentes. Assim, o objetivo não é buscar adequá-las aos demais ou mudar sua forma de ser, e sim aprender a identificar, valorizar e respeitar essas diferenças.

Por um lado, devemos considerar que a neurodiversidade nas crianças é muitas vezes acompanhada de vantagens e qualidades muito positivas, como as seguintes:

  • Destacam-se pela criatividade, pensamento lateral e pela facilidade de encontrar soluções originais ou formas inovadoras de proceder.
  • São boas em fazer análises e encontrar padrões e relacionamentos que outros podem não conseguir ver.
  • Podem adquirir grande conhecimento e sabedoria sobre determinados temas e áreas de seu interesse.
A sociedade tem que se ajustar às crianças neurodivergentes e não o contrário. Por exemplo, o ambiente escolar deve ser adaptado ou, em casa, devem ser aplicadas pedagogias mais flexíveis e oferecidos os suportes e ajustes necessários para cada caso.

É a sociedade que deve se adaptar

Mas, além disso, a chave é entender que o mundo é de todos e que essas crianças não precisam se adaptar ao que a sociedade espera delas. Pelo contrário, é a sociedade que deve abrir-se à diversidade e compreender e respeitar as diferenças e necessidades desses pequenos. A questão é que a neurodiversidade humana é normal e valiosa, portanto não é uma deficiência a ser corrigida.

No entanto, isso não significa que esses pequenos não possam receber apoio. Pelo contrário, é muito importante que eles e seu ambiente próximo aprendam sobre a neurodivergência e formas e estratégias para desenvolver o potencial dessas crianças a fim de tornar suas vidas mais fáceis e gratificantes.

Acompanhe seu desenvolvimento com amor e empatia

Ser pai de uma criança neuroatípica é, sem dúvida, um grande desafio. Mas é fundamental que os pais entendam e respeitem como funciona o cérebro de seus filhos para acompanhá-los com amor, compreensão e empatia em seu desenvolvimento. Nesse sentido, é importante procurar um profissional, primeiro, para fazer uma avaliação e obter um diagnóstico. E, acima de tudo, receber orientações sobre quais recomendações aplicar no caso específico de cada criança.


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