Como evitar transmitir nossos medos aos nossos filhos?

Na tentativa de proteger os nossos filhos, podemos criar uma carga emocional e psicológica desnecessária. Vamos conversar sobre como evitar transmitir nossos medos a eles.
Como evitar transmitir nossos medos aos nossos filhos?
Sharon Capeluto

Escrito e verificado por Sharon Capeluto.

Última atualização: 05 outubro, 2023

Toda vez que você encontra um cachorro na rua, você atravessa a calçada. Seu filho quer se aproximar para acariciá-lo, mas você proíbe gritando: Não toque nele, ele vai te morder!” Situações semelhantes se repetem duas, três ou quatro vezes e a criança já não quer saber de cães. Agora, o pequeno prefere mantê-los o mais longe possível, pois teme que o machuquem.

Acontece então que os pequenos adquirem medos que não são inteiramente seus. A boa notícia é que é possível mudar o caminho e, assim, evitar que os pequenos absorvam nossos medos.

Medos que são transmitidos de geração em geração

Transmitir medos às crianças é algo que acontece com frequência, embora geralmente o façamos inconscientemente. O mesmo vale para crenças, traumas ou feridas emocionais não resolvidas. No entanto, isso não significa que as pessoas estão predestinadas a repetir os padrões de seus ancestrais. Conscientizar-se sobre essas questões e ter vontade de trabalhá-las ajuda a quebrar o ciclo e criar novas formas de se relacionar com o mundo.

Mas lembre-se de que uma criança não pode fazer isso sozinha, pois ainda não possui recursos suficientes para enfrentar um desafio tão complexo. Se ele quiser, vai fazer isso quando for adulto. No entanto, é melhor evitar o problema do que ter que resolvê-lo. Por isso, é importante que os pais tenham cuidado com suas mensagens, se o que procuram é evitar transmitir seus medos aos filhos.

Transmitir nossos medos tem consequências negativas para o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças.

Recomendações para evitar transmitir nossos medos

Todos nós temos medos: de aranha, de altura, do dentista, da solidão, da rejeição ou do fracasso, entre outros. Como podemos ver, alguns medos são tangíveis e outros são mais abstratos. Seja qual for o caso, as pessoas podem estar mais ou menos conscientes de seus medos. Nesse sentido, devemos saber que os medos inconscientes são os mais suscetíveis de serem transferidos para outras pessoas.

A seguir, compartilhamos com você as principais estratégias para evitar que seus filhos adquiram os mesmos medos que você.

Identifique seus medos

Registrar seus próprios medos é essencial para não espalhá-los para outras pessoas. Cuidar deles torna sua transmissão menos provável. Nesse sentido, você poderá reconhecê-los através de um trabalho de introspecção. Para fazer isso, faça perguntas profundas a si mesmo e assuma uma atitude ativa com o que está acontecendo ao seu redor.

É verdade que tomar consciência do que assusta pode envolver um processo profundo e complexo. Para conseguir isso, você pode seguir estas orientações:

  • Preste atenção às suas emoções: o medo muitas vezes se manifesta através de sentimentos de nervosismo, ansiedade e insegurança.
  • Observe seus pensamentos: pensamentos que surgem em situações desafiadoras ou estressantes podem indicar medos subjacentes.
  • Faça uma lista de seus medos: reserve um momento para pensar conscientemente sobre objetos, cenários ou ideias que o assustam.

Enfrente seus medos

Depois de aceitar seus medos, permita-se indagar sobre a origem deles. Compreender a natureza de seus medos e saber como eles afetam você o ajudará a lidar com eles com mais eficácia. Para evitar que seus filhos herdem seus medos, é essencial trabalhá-los. Se você considerar necessário, pode procurar ajuda profissional para resolver certas fobias.

Da mesma forma, se seus filhos perceberem que você enfrenta situações difíceis com coragem, provavelmente seguirão seu exemplo. Lembre-se de que você é seu principal modelo. Ao contrário do que muitos acreditam, ser vulnerável na frente dos filhos é bom.

É fundamental naturalizar os medos e entender seu caráter humano. Não temos que escondê-los, mas fazer com que as crianças vejam a importância de enfrentá-los.

Cuidado com suas palavras e suas ações

É verdade que quase tudo no mundo representa um perigo potencial. O simples fato de existir nos expõe constantemente ao risco. Portanto, é compreensível que reajamos inconscientemente ou impulsivamente quando acreditamos que nossos filhos estão à beira do perigo.

É quando resolvemos os problemas para eles ou tentamos evitar o estrago de forma abrupta e desmedida: “Desce daí, é muito perigoso!” Uma alternativa mais saudável é estimular sua independência, fornecer estratégias de enfrentamento e tentar manter a calma diante de uma situação que pode ser prejudicial aos pequenos.

Você e seu filho são pessoas diferentes

Em suma, trata-se de entender que seus medos são seus e que não devem limitar a vida do seu filho. É verdade que esses medos podem ajudar você a tomar precauções para proteger seu filho, mas é essencial que você se baseie em fatos objetivos e assuma uma postura calma e flexível.

Por exemplo, o fato de você ter pavor de animais não deve ser um impedimento para que seu filho visite parques e reservas naturais. Nesse caso, você pode optar por não acompanhá-lo nesses passeios e permitir que ele vá com outro adulto de sua confiança. Além disso, você pode conversar com ele sobre os cuidados que devem ser tomados. Então, é válido que você tenha medo de animais, mas isso não deve se tornar uma proibição para seu filho.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Paniagua, M. A. T., & Mendoza, N. P. V. (2011). La transmisión transgeneracional del psiquismo. Uaricha, Revista de Psicología, 8(16), 45-52.
  • Rodríguez Ascate, J. (2019). Consecuencias de la sobreprotección en los niños de preescolar.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.