Diferenças entre educar crianças e adolescentes
A infância e a adolescência apresentam seus próprios desafios na hora de educar. A necessidade que uma criança tem de estar perto de seus pais é muito diferente, e às vezes até contrária, do que um adolescente experimenta. Vamos ver um pouco mais sobre essas diferenças.
No cérebro da criança e do adolescente
Álvaro Bilbao, no seu livro El cerebro del niño explicado a los padres refere-se ao fato de termos três tipos de cérebros, cada um com as suas próprias características e contribuição particular. Estes são os seguintes:
- Reptiliano: é o mais primitivo e trata da nossa sobrevivência.
- Emocional: é aquele que nos ajuda a buscar emoções agradáveis e evitar ou resolver as desagradáveis. Além disso, nos permite distinguir essas emoções umas das outras.
- Racional: é aquele que nos permite tomar decisões, organizar e raciocinar, entre outras funções.
O desafio com as crianças, segundo Siegel e Payne Bryson em seu livro O Cérebro da Criança, é a integração: ou seja, acompanhá-las nesse processo que as leva a usar os três cérebros. Isso porque, em tenra idade, elas usam mais o cérebro reptiliano e o emocional.
No caso dos adolescentes, vale ressaltar que os jovens já desenvolveram e aprenderam normas, regras de convivência e limites. Ou seja, eles já estão “com o cérebro cheio”, nas palavras de Siegel e Payne Bryson. Porém, será também uma fase de desafios, de refazer alguns caminhos e de começar a exercer sua autonomia. É nesse ponto que os jovens muitas vezes confrontam seus pais, pois precisam construir sua própria identidade.
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Quais diferenças existem entre educar crianças e adolescentes?
Algumas das diferenças que podemos estabelecer são as seguintes:
A demanda por atenção é diferente
A experiência dos pais indica que as crianças exigem muita atenção em atividades bastante previsíveis e repetitivas. Por exemplo, higiene (trocar fraldas ou escovar os dentes), comer e brincar, entre outras. Além disso, elas precisam de proximidade e contato físico junto com demonstrações de afeto.
Por sua vez, os adolescentes já são mais independentes e não precisam que os auxiliemos em atividades como as mencionadas. No entanto, eles precisam que tenhamos outros alertas ativados. Nomeadamente: primeiras experiências sexuais, contato com substâncias como o álcool ou drogas ou o uso que fazem da internet e das redes, entre outros.
De forma alguma isso significa que os adolescentes não precisam de afeto. No entanto, a educação com jovens requer um equilíbrio medido entre proximidade e distância. Ou seja, esteja perto, mas não invada seu espaço.
Interesses e preocupações
É claro que em cada fase da vida, nosso cérebro muda e expandimos nossa experiência. Portanto, algumas coisas nos chamam mais a atenção do que outras, enquanto com muitas outras nos desencantamos.
Por exemplo, espera-se que, entre o primeiro e o segundo ano de vida, as crianças sintam medo e angústia ao se separarem dos pais. Contudo, isso também pode acontecer com um adolescente, em raras circunstâncias, como se eles tiverem que se separar devido a uma cirurgia ou uma longa viagem.
No caso do adolescente, ele pode começar a se preocupar com sua aparência física, sua imagem corporal ou com a opinião de seus amigos. Além disso, surgem algumas questões existenciais, como quem eu sou e o que faço neste mundo.
Pessoas de referência
Quando as crianças são pequenas, a família e os adultos próximos são suas figuras de referência. Esse grupo então se expande, principalmente quando a criança passa a frequentar outros espaços, como creche ou escola.
Na adolescência ocorre a “desidealização” dos pais: ou seja, os pais tornam-se pessoas de carne e osso, com seus defeitos e virtudes. Nesse sentido, agora é o grupo de pares que se torna uma figura de confiança e referência para o jovem. Nessa época, os adolescentes começam a passar mais tempo com os amigos do que com a família e passam mais tempo fora de casa.
Algumas recomendações sobre as diferenças ao educar crianças e adolescentes
Além das diferenças, entre as os pontos principais que podemos levar em conta para acompanhar a educação de crianças e adolescentes, encontramos os seguintes:
- Definir limites. Isso implica, no caso das crianças, explicar por que é importante respeitar certas regras (protegê-las ou evitar a dor, entre outras). No caso dos adolescentes, os “sim e não” já estão mais claros, mas é preciso relaxar e negociar novas regras, como horários, saídas e autorizações.
- Mostramo-nos receptivos e abertos, dispostos a ouvir e estar presentes. No caso dos adolescentes, apesar de se distanciarem, é importante que nos aproximemos deles, nos interessemos por suas atividades e perguntemos como estão.
- Ser um exemplo. Os pequenos sempre observam como agimos, o que dizemos e fazemos.
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Dê o que seu filho precisa em cada estágio
É importante saber quais são as características e diferenças de cada fase da vida para atuar a partir de uma educação respeitosa. Caso contrário, corremos o risco de acelerar o processo, pressionando-o e não dando o tempo necessário para cada aprendizado.
Entender a diferença entre educar crianças e adolescentes nos permite dar respostas mais adequadas e empáticas. Além disso, escolha melhores estratégias. Ao mesmo tempo, não se trata de comparar se educar crianças ou adolescentes é melhor ou pior, mas simplesmente diferente.
Por fim, não devemos nos confundir e acreditar que os adolescentes não precisam mais de nós como pais ou adultos. O carinho e a atenção devem estar sempre presentes, só que se transformam na medida em que nós e as relações mudam.
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- Bilbao, Alvaro (2015) El cerebro del niño explicado a los padres.Plataforma Actual.
- Siegel D. y Payne Bryson T. (2020). El cerebro del niño. Alba Editorial.