Educar sem falar “não”

As crianças precisam de limites para aprender a tolerar a frustração. Contudo, existem maneiras de fazer imposições que não envolvam, necessariamente, falar “não”.
Educar sem falar “não”
Elena Sanz Martín

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 27 dezembro, 2022

Provavelmente, quando você escutar pela primeira vez a proposta de educar sem falar “não”, vai pensar que é algo descabido e sem sentido. As crianças precisam de disciplina e, se elas não tiverem, podem virar tiranas. No entanto, tirar o “não” do nosso vocabulário não significa ser permissivo, nem eliminar os limites. Significa dar uma visão diferente para a criança.

Frear os impulsos inadequados dos nossos filhos e negar os seus pedidos inapropriados é algo que a maioria de nós faz por inércia. Às vezes, um “não” categórico é necessário, mas existem muitas outras vezes (a maioria) em que podemos redirecionar a conduta da criança sem a necessidade de recorrer a essa palavra.

Por que é importante educar sem falar “não”?

A palavra perde o significado

Por inércia, tendemos a falar “não” para os pequenos diante de numerosas situações da vida diária. Com um “não”, transmitimos uma mensagem clara e direta e esperamos obter uma reação imediata.

No entanto, quando utilizamos essa palavra em excesso, ela acaba perdendo seu significado. As crianças se acostumam a escutá-la e param de responder a ela.

Educar sem falar “não”

Ela já não significa um estímulo novo para elas. Às vezes, inclusive, é uma das palavras que elas mais escutam ao longo do dia. Dessa forma, o “não” começa a passar despercebido por elas. É recomendável reservar essa expressão para situações pontuais e urgentes, nas quais precisamos de verdade de uma mudança de conduta imediata.

Se o pequeno for agir de uma forma perigosa ou prejudicial, é necessário detê-lo e, nesse caso, um “não” firme e consistente é o que estamos procurando. Por outro lado, outros tipos de cenário não requerem tanta rapidez e nos dão a oportunidade de empregar outros tipos de técnicas educativas.

Ensinar antes de reprimir

Outro fator essencial que devemos levar em conta é que o objetivo da educação é ensinar as crianças a serem autônomas.

Trata-se de transmitir a elas os valores, os conhecimentos e as ferramentas necessários para que elas possam se desenvolver por si mesmas. Portanto, uma parte fundamental da educação consiste em explicar o mundo para elas.

Um simples “não” não fornece à criança muita informação sobre o que está acontecendo. Não indica para ela por que o seu comportamento é inadequado, quais são as consequências, nem o que é esperado dela.

Se colocarmos em prática outro tipo de estratégia educativa, vamos poder compartilhar com a criança conhecimentos que vão ser muito mais úteis para ela. Por que não queremos que ela aja dessa maneira? Quais são as consequências negativas de tal conduta? De que outra forma ela deveria se comportar em situações semelhantes?

Dessa maneira, aos poucos é estabelecido um vínculo mais sólido e saudável entre criança e adulto. Gera-se uma confiança entre ambos, já que transmitimos à criança que estamos ao lado dela para orientá-la, e não apenas para reprimir os seus impulsos. Uma vez que a criança se sinta respeitada, é mais fácil que ela coopere e demonstre menos resistência e comportamentos disruptivos.

Como educar sem falar “não”?

  1. Identificar quais condutas requerem um “não” firme e categórico e quais permitem utilizar outro tipo de estratégia.
  2. Compartilhar de antemão com a criança as regras que vamos aplicar. Por exemplo, se uma das nossas regras é que ela só pode jogar videogame durante uma hora, é preferível explicar isso para ela antes que ela comece a jogar.
  3. Expor as consequências naturais de cada conduta. Se a criança bater no irmão, temos que explicar para ela que, com esse comportamento, ela machuca o irmão e o deixa triste. E que, se ela bater no seu irmãozinho, ele não vai mais querer brincar com ela.
  4. Adiar a ação. Às vezes, as crianças nos pedem algo que é factível, mas que não está no momento adequado de ser feito. Em vez de falar “não”, podemos propor deixar a ação para mais tarde. Se, por exemplo, ela quiser ver um filme, mas já estiver perto da hora de dormir, podemos sugerir que ela veja o filme amanhã, depois que voltar do colégio.
  5. Redirecionar a conduta. Muitas vezes, em vez de negarmos algo categoricamente, podemos propor para a criança uma alternativa convidativa. Se não quisermos que ela veja televisão, podemos sugerir brincar juntos com algum jogo de tabuleiro.

Lembre-se: limitar o uso do “não” de modo algum significa ser permissivo, nem indulgente. Trata-se unicamente de educar de uma forma mais consciente e deliberada, compartilhando com a criança as razões para a negação, e oferecer outras saídas. Igualmente, há ocasiões pontuais nas quais é necessário dizer “não”.


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