Evolução da expressão gráfica em crianças

Por meio da expressão gráfica, as crianças aprendem a codificar e comunicar suas experiências. Portanto, o desenho tem uma importante função educativa para o seu desenvolvimento.
Evolução da expressão gráfica em crianças
Marta Crespo Garcia

Escrito e verificado por a pedagoga Marta Crespo Garcia.

Última atualização: 27 dezembro, 2022

Conforme as crianças vão mudando e crescendo, sua expressão criativa também muda. Ao conhecer as etapas existentes na evolução da expressão gráfica, também podemos saber quais são os desenhos característicos para cada idade.

No entanto, não é fácil dizer onde fica o fim de uma etapa e o início de outra. Além disso, como bem sabemos, cada criança tem um ritmo próprio que deve ser respeitado.

O que é a expressão gráfica?

A expressão gráfica é uma linguagem expressiva. É uma forma de representação e comunicação que permite comunicar através de materiais plásticos e diferentes técnicas que favorecem o processo criativo.

Além disso, a expressão gráfica é um meio que auxilia as crianças em seu desenvolvimento maturacional, cognitivo e motor. Ao mesmo tempo, promove a autoestima, a criatividade, a sensibilidade e a percepção. Portanto, deve ser vista como um meio, não um fim. O fundamental para o desenvolvimento da expressão gráfica é a liberdade de expressão, não a criação de obras-primas.

Todas as crianças desenham o que é típico para cada idade e cada faseNos primeiros anos, elas desenham de maneira bastante previsível, já que atravessam diferentes fases. Essas expressões são caracterizadas por um grafismo típico, mas, com o passar do tempo, cada criança vai desenhar o que a define individualmente.

Evolução da expressão gráfica em crianças

Porém, não é possível especificar onde começa uma fase e termina a outra, pois cada criança tem o seu próprio ritmo de amadurecimento. O que se pode afirmar é que essas fases acontecem de forma ordenada durante a infância.

O que nos diz a evolução da expressão gráfica em crianças?

As diferentes fases da evolução da expressão gráfica devem ser entendidas como um instrumento de orientação e conhecimento para o educador e para a família, nunca para um diagnóstico fechado ou para rotular a criança.

Em cada fase, é possível observar as projeções que influenciam significativamente os desenhos da criança, de modo que eles nos informam o que é mais importante em sua vida e como ela se sente por dentro.

Portanto, podemos considerar o desenho como um meio privilegiado que serve para nos colocar no lugar da criança, para que possamos compreendê-la melhor e nos adaptar de forma compreensiva às suas emoções.

Entretanto, para isso, precisamos conhecer a ordem geral de evolução. Por meio do conhecimento das fases da expressão gráfica, poderemos avaliar, compreender e investigar o desenvolvimento infantil. Dessa forma, poderemos extrapolar as características individuais de cada criança.

Fases da evolução da expressão gráfica

As fases da evolução da expressão gráfica através do desenho foram estudadas por diversos autores. A seguir, vamos apresentar a proposta de Viktor Lowenfeld, que pesquisou as modificações sofridas pela linguagem gráfica das crianças conforme elas vão amadurecendo em seus aspectos físicos, intelectuais e afetivos.

Garatuja (2 a 4 anos, aproximadamente) 

Nessa fase, não existe uma motivação para representar os objetos ou as pessoas, apenas uma motivação para o movimento. Lowenfeld se aprofunda nessa fase falando sobre três tipos diferentes de garatuja:

  • Garatuja desordenada (18 meses)

Aos 18 meses, a criança começa a se expressar graficamente por meio de rabiscos desordenados e sem sentido. Não há controle motor, não se usa o punho, muito menos os dedos, para controlar o movimento.

É comum o pequeno nem sequer olhar enquanto desenha. O importante é a atividade motora. Não há intencionalidade e a criança se diverte com o movimento enquanto rabisca.

  • Garatuja ordenada (2 anos)

O pequeno controla seus movimentos e descobre a relação entre eles e os traços no papel. Essa descoberta o leva a realizar novos experimentos e movimentos para variar os resultados. A garatuja desordenada agora se torna um conjunto de linhas curvas, percursos e formas fechadas.

“Tornar visível algo que não existia antes é uma experiência emocionante”.

Nessa fase, a criança já se concentra ao desenhar, até mesmo experimentando métodos para segurar o lápis e o papel, embora ainda não exista intencionalidade. As únicas intenções são o movimento e a repetição dos padrões que vai descobrindo. O pequeno se diverte principalmente com o movimento e o controle visomotor.

  • Garatuja nominada (3 anos e meio)

De repente, a criança descobre que os seus desenhos fazem sentido e passa a nomeá-los (“essa é a mamãe”, “isso é um carro”, etc.). O pequeno começa a desenhar com intenção. Nessa primeira fase, a cor é simplesmente exploratória, pois as crianças começam a distinguir algumas cores, embora não as nomeiem.

Fase pré-esquemática: representação intencional (dos 4 aos 7 anos)

Aos 4 anos, a criança já controla os traços e começa a desenhar com intenção. Ela é capaz de desenhar representações mentais de objetos e figuras reconhecíveis pelo adulto. A figura humana é a primeira que consegue fazer, as clássicos formas humanas construídas com retas e círculos.

Ao desenhar esse boneco, a criança dá especial importância à cabeça, desenhando-a imensamente grande em relação ao restante do corpo. Ela é representada por meio de um círculo, incluindo mais ou menos detalhes que, pouco a pouco, devido à sua própria experiência perceptiva, vão sendo enriquecidos.

O tamanho das pessoas, dos objetos, etc., é desproporcional. Além disso, o tamanho é decidido em função da importância dada pela criança. Outra característica dessa fase é que as pessoas ou as coisas que elas desenham parecem flutuar. Além disso, as crianças usam as cores de forma emocional, porque usá-las é uma experiência maravilhosa, ainda que não as relacione.

Fase esquemática (7 a 9 anos)

Os desenhos ficam muito mais definidos e proporcionais. As figuras humanas já incluem todos os membros e têm detalhes definidos.

Nessa fase, a criança adquire o esquema espacial. Ela começa a relacionar os objetos e não os desenha isolados uns dos outros. Aos poucos, vai organizando o espaço. Para isso, ela passa a usar as linhas para representar o chão e, posteriormente, o céu. Além disso, também já consegue ver as relações lógicas entre os objetos e ela mesma e o ambiente.

O pequeno descobre que existe uma relação entre a cor e o objeto desenhado, por isso usa as cores de forma lógica e real.

Evolução da expressão gráfica em crianças

Fase do realismo (dos 9 aos 12 anos)

A criança tenta enriquecer o desenho para que as suas representações sejam mais realistas. Para isso, ela abandona as linhas geométricas e procura desenhar em terceira dimensão. A linha de base vai desaparecendo e a organização espacial se torna cada vez mais realista.

Ela começa a representar o que a caracteriza. Quanto mais experimentar e explorar novos materiais, mais criativa será a criança. Portanto, é aconselhável colocá-la em contato com todos os tipos de materiais e texturas.

Fase pseudo-naturalista (dos 12 aos 13 anos)

Nessa fase, a criança valoriza muito mais as suas criações artísticas. Ela começa a usar a perspectiva espacial, e a figura humana assume características sexuais bem definidas.

Nessa idade, as crianças já desenvolveram todas as suas habilidades motoras e de observação para fazer criações como as dos adultos, mas, em muitas ocasiões, são inibidas por sua autocrítica.

Fase da decisão (dos 13 aos 14 anos)

A criança decide qual técnica quer usar e aperfeiçoar. O que ela desenha nessa fase revela seus sentimentos (impressionismo sensorial), e existe um controle da expressão com um propósito determinado.

Aqui, a diferenciação entre os desenhos das crianças está bem definida. Existem dois tipos de sujeitos criativos:

  • O tipo visual. É um observador atento e contempla as coisas a partir do exterior. Primeiramente, considera o todo e depois analisa os detalhes. O tipo visual favorece a aparência. Relaciona-se com o impressionismo.
  • O tipo háptico. É essencialmente emocional. Projeta-se no seu desenho. Expressa as suas impressões sensoriais, cinestésicas e táteis. O tipo háptico privilegia o lugar do eu. Relaciona-se com o expressionismo.

Para ter em mente

É preciso ter em mente que a evolução da expressão gráfica tem fases ordenadas e consecutivas. Todas as crianças passarão por elas. Isso não significa que passem por essas fases exatamente na idade citada, pois as idades são apenas indicativas.

O importante é que os pequenos se divirtam desenhando e experimentando, já que o fundamental no desenvolvimento da expressão gráfica é a liberdade de expressão, não a criação de obras-primas.


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