Como falar sobre a morte com as crianças?

Você não sabe como falar sobre uma questão tão complexa quanto a morte com as crianças? Clareza, honestidade e validação – esses são os pontos principais.
Como falar sobre a morte com as crianças?
María Alejandra Castro Arbeláez

Revisado e aprovado por a psicóloga María Alejandra Castro Arbeláez.

Escrito por Equipo Editorial

Última atualização: 17 agosto, 2020

Falar sobre a morte com as crianças é um desses deveres que muitos pais evitam a todo custo. Como explicar o fim da vida aos pequenos se muitas vezes, mesmo adultos, ainda não assimilamos essa questão totalmente?

Na verdade, a morte está presente no cotidiano das crianças. Elas podem vê-la quando esmagam uma formiga, quando descobrem que o animal de estimação do amiguinho morreu, nos desenhos animados e, às vezes, precisam enfrentá-la diretamente, com a perda de alguém próximo.

Se estivermos falando de crianças, ao discutir qualquer assunto com elas, existe uma regra fundamental: agir com naturalidade. Mas como isso pode ser feito? 

A idade das crianças influencia a maneira de explicar sobre esse assunto?

A resposta é afirmativa. É essencial levar em consideração a idade maturacional ao falar sobre a morte com as crianças. Não é a mesma coisa discutir o assunto com uma criança de 3 anos do que com outra de 10, tanto pelo tipo de linguagem que vamos usar quanto pelo que elas são capazes de interpretar sobre a morte.

Até os 5 ou 6 anos de idade, as crianças pensam que a morte é algo temporário e que, certamente, tem pouco a ver com elas. A partir dos 6 anos é que elas começam a entender que todos nós vamos morrer um dia e que isso é definitivo. É muito comum que algumas crianças comecem a sentir angústia e a ter pesadelos ao se dar conta disso.

Nessa fase, a maior preocupação é perder a mãe ou o pai, pois as crianças se perguntam quem cuidará delas quando isso acontecer. Nesse ponto, é conveniente falar com elas claramente, sem enganá-las, mas também sem assustá-las demais. Não sabemos quando vamos morrer e isso é um fato, mas não é preciso dizer a elas que isso pode acontecer a qualquer momento.

Durante a adolescência, os jovens desenvolvem suas crenças e teorias filosóficas sobre o assunto. É nesse momento que eles já têm um bom entendimento do que a morte implica.

falar sobre a morte com as crianças

Quando devo falar sobre a morte com as crianças

Aqui ocorre o mesmo que com o sexo: nunca é cedo demais. É preciso estar aberto para ouvir as dúvidas das crianças e, desde o início, ser muito claro com elas.

Pratique a escuta ativa toda vez que elas tiverem uma preocupação. Ou seja, não tenha pressa em responder, seja paciente e preste atenção no que elas realmente quiserem saber. Ouça suas perguntas sobre a morte e tente respondê-las com sinceridade.

Se vocês assistirem a um desenho animado ou lerem uma história na qual alguém morre, aproveite a ocasiãoObserve a reação delas e até mesmo pergunte se elas conseguem entender o que está acontecendo. Dessa forma, você terá uma ideia mais clara do que se passa na cabeça delas.

No entanto, se vocês enfrentarem a morte de um parente, um amigo ou até mesmo de um animal de estimação, lide com isso o mais rápido possível e não presuma que, porque a criança é pequena, ele não sente nada. É provável que ela não entenda completamente o que está acontecendo, mas ela sabe que é uma coisa séria e merece toda a sua atenção e apoio.

“É essencial levar em consideração a idade maturacional ao falar sobre a morte com as crianças. Não é a mesma coisa discutir o assunto com uma criança de 3 anos do que com uma de 10”.

4 considerações práticas

  • Independentemente de suas próprias crenças, você deve tentar deixar claro para a criança que a morte é algo universal e irreversível.
  • As crianças levam tudo ao pé da letra, então você deve ser muito claro, usando frases como: “Ela não vai mais respirar, comer nem se mexer”. Geralmente usamos metáforas e, por isso, as crianças realmente pensam que a avó está no céu ou dormindo. Evite frases como: “Ela se foi” ou “Ela está descansando em paz”, pois isso as confunde.
  • Mostre sua dor. Não se esconda se sentir vontade de chorar, pois você é o exemplo para elas. Se elas virem você expressar seus sentimentos, também vão expressá-los. Isso vai ajudá-las a entender a morte como uma perda dolorosa e inevitável.
  • Ao falar sobre a morte com as crianças, sempre valide suas emoções, sejam elas quais forem. A reação das crianças diante da morte pode ser muito diferente. Enquanto algumas podem chorar, outras dão meia volta e seguem fazendo suas coisas. Não as force a nada, mas fique atento ao comportamento delas.
falar sobre a morte com as crianças

Ajudar nunca é demais

Você pode oferecer ferramentas para que as crianças expressem seus sentimentos, além de criar um ambiente seguro para que isso possa ser feito. Convide-a para desenhar ou encenar uma peça com as bonecas favoritas. Isso vai te fornecer muitas informações sobre como ela se sente.

Também há muita literatura infantil que pode te ajudar a falar sobre a morte com as crianças. Por exemplo, essas três histórias:

  • A árvore das lembrançasde Britta Teckentrup.
  • Não é fácil, pequeno esquilode Elisa Ramón e Rosa Osuna.
  • E o que vem depois de mil?, de Anette Bley.

Por fim, não devemos nos esquecer de que estamos diante do luto e que viver todas as suas fases é importante para a boa saúde emocional da criança. Portanto, permita que a negação, a raiva e a tristeza apareçam até que chegue a aceitação.


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