Ter um filho indesejado

Quando a maternidade não é desejada, ela é vivida com angústia e frustração. Além disso, o desenvolvimento emocional desse filho não desejado pode ser seriamente afetado. Aqui vamos mostrar o porquê.
Ter um filho indesejado
Elena Sanz Martín

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 08 abril, 2023

Para algumas mulheres, a maternidade é um presente. E essas, sem dúvida, são as melhores condições em que uma criança pode crescer. Mas o que acontece quando a mulher que engravida não quer ser mãe? O que acontece se, naquele momento, ela não tiver os meios econômicos ou os recursos emocionais para assumir outra vida? Quando nasce uma criança indesejada, as consequências tanto para a mãe quanto para a criança podem ser graves.

Estima-se que, na Espanha, ocorram cerca de 240 mil gestações indesejadas por ano, das quais aproximadamente a metade termina em aborto. Isso faz com que cerca de 120 mil crianças nasçam sem que sua chegada tenha sido planejada e procurada por seus pais. E embora isso nem sempre indique que o filho não é amado, muitas vezes a maternidade é vivida com angústia e frustração. Isso, sem dúvida, afeta a mulher e a criança a nível psicológico e emocional.

As consequências de ter um filho indesejado

Uma gravidez não planejada geralmente é vivida como um evento estressante ou uma responsabilidade imposta que não queremos ou não podemos assumir. E, pelo mesmo motivo, desde o primeiro momento pode gerar altos níveis de ansiedade nas mulheres.

Em alguns casos, depois de refletir e ponderar sobre a situação, consegue-se uma percepção diferente, mais flexível e positiva a esse respeito. Porém, quando essa evolução não ocorre, ter um filho indesejado pode trazer consequências emocionais significativas para os pais.

Em primeiro lugar, há um risco maior de as mulheres desenvolverem depressão durante a gravidez ou no pós-parto, podendo até mesmo surgir ideação suicida.

Ao ter um filho indesejado, podem ocorrer alterações emocionais, como episódios depressivos e transtornos de ansiedade, além de um sentimento excessivo de culpa ou profunda insatisfação com a própria vida.

Consequências de ser uma criança indesejada

Para além das repercussões que esta situação pode ter nos pais, geralmente é a criança quem sofre o maior impacto. Verificou-se que desde quando está dentro da barriga o bebê percebe as emoções da mãe e é influenciado por elas. Assim, essas crianças vivenciam estresse, medo e ansiedade materna durante a gravidez.

Além disso, após o nascimento, é comum que haja dificuldades em estabelecer vínculo de apego com o bebê. Os pais podem estar fisicamente ausentes ou emocionalmente indisponíveis para a criança, de modo que a criança pode sofrer privação de afeto e negligência, maus-tratos ou abandono por parte dos pais. Dessa forma, ela pode crescer se sentindo inadequada, indigna e desamparada.

Em outros casos, os pais podem tentar compensar seus sentimentos em relação ao filho sendo superprotetores ou excessivamente controladores. Mas, dessa forma, apenas impedem o seu pleno desenvolvimento individual.

Possíveis problemas psicológicos da criança indesejada

As condições emocionais em que ocorre a paternidade fazem com que as crianças indesejadas cresçam sentindo-se rejeitadas ou não amadas. Por isso, a necessidade de aprovação costuma ser uma constante em suas vidas. Baixa autoestima, ansiedade e depressão são condições muito presentes, mas também há maior risco de começar a usar substâncias e ter reprovação escolar.

Por outro lado, as relações com os outros também são afetadas. Por isso, é possível que se isolem ou estabeleçam relações de dependência. Além disso, é mais provável que tenham dificuldades no trabalho por causa dessa insegurança intrínseca que as acompanha.

Muitas vezes, crianças indesejadas podem ter uma sensação incômoda de não se encaixar, de não pertencer e de não serem suficientes.

Como superar e lidar com a situação

Ter um filho indesejado é provavelmente um dos maiores desafios que você enfrentará ao longo da vida. No entanto, diante das possíveis consequências negativas, é importante que você tome providências para tentar minimizar o impacto. Para isso, as seguintes reflexões são essenciais:

  • Aceite a realidade da sua situação, sem se julgar ou se punir. A culpa só causa sofrimento e não nos move a agir. Em contrapartida, a responsabilidade sim.
  • Se você decidiu levar a gravidez até o fim e criar seu filho, é importante procurar ajuda. Você pode achar a maternidade estressante e angustiante, e pode achar difícil se relacionar emocionalmente com o bebê. A consulta com um psicólogo perinatal pode te ajudar muito nesses aspectos.
  • O acompanhamento profissional também pode ensinar você a regular suas emoções, modificar sua perspectiva e encontrar estratégias de enfrentamento que permitam que você se sinta mais satisfeita com sua situação e ofereça um melhor ambiente de crescimento para seu filho.

Aceite a realidade e busque apoio

Aceitar sua realidade permitirá que você a administre e melhore sua satisfação e seu bem-estar emocional. Além disso, você evitará vários problemas psicológicos de desenvolvimento de seu filho que podem afetá-lo seriamente no futuro. Portanto, para o bem de ambos, procure os recursos de apoio necessários.


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