Mascaramento autista: o que é?

Para uma pessoa diagnosticada com um transtorno do espectro autista, o mascaramento autista é uma camuflagem para seu comportamento. Isso tem consequências para a sua saúde.
Mascaramento autista: o que é?
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 04 julho, 2023

No mundo ainda há pouca aceitação da diversidade e prevalecem certos mandatos relacionados à beleza e à saúde. Assim, muitas pessoas são obrigadas a usar estratégias como mecanismo de defesa para esconder algum aspecto e “ser mais parecido” com os outros. Em pessoas com TEA (transtorno do espectro autista), o mascaramento autista pode ser uma forma de sobrevivência, embora não sem consequências para a saúde e o bem-estar. Vamos conhecer um pouco mais.

Sobre os Transtornos do Espectro Autista (TEA)

Vale lembrar que falamos de TEA com o objetivo de englobar uma série de distúrbios neurológicos sob um rótulo geral. Estes têm algumas características em comum, mas também diferem entre si. As compartilhadas referem-se a dificuldades de interação e comunicação e à presença de interesses restritos e comportamentos repetitivos. Dependendo do tipo de distúrbio, outras características diferenciais podem aparecer.

Além disso, fala-se em autismo de alto e baixo funcionamento, o que implica uma interferência menor ou maior das dificuldades do caso. Vale ressaltar que o mascaramento autista ocorre com mais frequência no primeiro caso.

  • Alto funcionamento: a criança geralmente tem menos dificuldade em se comportar socialmente.
  • Baixo funcionamento: o pequeno talvez não consiga entender algumas pistas sociais ou gestos faciais.

O que é mascaramento autista?

As crianças que praticam o mascaramento autista estão expostas a desgastes e pressões que exigem um esforço adicional, o que pode ter diferentes consequências para a sua saúde.

Corpos, emoções, estilo de vida, interesses. Sobre quase todas as esferas da vida, a sociedade estabeleceu algo como “a norma”, que se põe como o desejável. No entanto, deve-se reconhecer que nem todos temos o mesmo ponto de partida ou as mesmas possibilidades. Portanto, ser capaz de se adaptar torna-se uma exigência e um desafio.

Para pessoas que possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA), o mascaramento autista envolve disfarçar ou esconder algum aspecto de si mesmo na tentativa de agradar, passar despercebido ou não chamar a atenção. É assim que essas pessoas ensaiam certos comportamentos, por exemplo, tentar manter contato visual em conversas com outras pessoas ou controlar o impacto de certos estímulos.

Por outro lado, o mascaramento autista também costuma ser mais comum em mulheres do que em homens. Eles podem achar mais fácil simular um comportamento “neurotípico”. Por exemplo, os interesses restritos concentram-se em aspectos ou temas socialmente aceitáveis, como maquiagem ou preocupação com a estética.

Consequências do mascaramento autista para a saúde

Mas a que custo isso acontece? Assim como existem pessoas que fazem dietas rígidas para ter um corpo hegemônico e sofrem, o mesmo acontece com as pessoas com autismo. Nesse sentido, algumas das consequências do mascaramento autista são as seguintes:

  • Sintomas de ansiedade e depressão.
  • Sensação de não se encaixar e viver uma vida dupla.
  • Desconforto em ambientes desconhecidos.
  • Pesquisa de aprovação.
  • Insegurança e descontentamento consigo mesmo.
  • Impacto na autoestima com tendência de queda.
  • Tensão contínua para manter um determinado comportamento.
  • Alterações de humor e comportamento: irritabilidade, frustração e agressividade.
  • Dores físicas e corporais, como dores de cabeça ou dores de estômago.
  • Perda de interesse em frequentar lugares que antes os interessavam ou gostavam.

Por fim, vale lembrar que a prática do mascaramento autista impacta no diagnóstico precoce. Embora os TEAs sejam geralmente diagnosticados na infância, sua ocultação pode implicar em um atraso em nomeá-los. Sem dúvida, isso tem impacto na intervenção oportuna e na qualidade de vida das pessoas.



Muitos especialistas acreditam que a diferença na proporção de homens versus mulheres diagnosticados com TEA também se deve ao mascaramento.

Recomendações sobre mascaramento autista

Algumas das recomendações a ter em conta em pessoas com autismo são as seguintes:

  • Mostrar aceitação e destacar suas conquistas. Algumas ações aos nossos olhos são simples. No entanto, para uma pessoa com transtorno do espectro do autismo, fazer isso pode exigir muito tempo e esforço. É necessário que, sem condescendência, valorizemos a sua dedicação e empenho.
  • Transmitir mensagens positivas sobre a diversidade. Ensinemos a nos mostrar como somos, sem pretender ser uma cópia exata dos outros.
  • Ajudar a pensar em aspectos em que se consideram mais fortes. Por exemplo, ao compartilhar nossa própria experiência, podemos mostrar a eles que todas as pessoas têm pontos fortes e fracos e que não há nada de errado nisso. Dentro do espectro do autismo, existem aqueles que precisam de diferentes tipos de ajuda.
  • Tornar a diversidade visível. Por exemplo, por meio de filmes, pesquisas de referências ou livros sobre o assunto.


E se fosse você quem tivesse que fingir?

O mundo precisa de mais empatia e respeito. Vamos parar um pouco e tirar a prova: ao usar um sapato de tamanho menor ou pisar em salto agulha e dar alguns passos adiante, como nos sentimos? Meio estranho, não é?

Esse é o sentimento permanente de “não se encaixar apesar de tentar” que experimentam as pessoas que realizam o mascaramento autista. Em vez de ser capaz de desfrutar e estar totalmente presente em uma determinada situação, todo o seu ser está envolvido na camuflagem. Se 5 passos em calçados inadequados já nos incomodaram, imaginemos como é usar uma fantasia permanentemente.

Vamos abrir caminho para a aceitação e a compaixão. O mundo pode ser um lugar mais amigável para todos.


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