Por que há crianças que se esforçam enquanto outras não

Há crianças que se esforçam para alcançar aquilo a que se propõem, enquanto outras se recusam até mesmo a tentar. Parece que os elogios que fazemos a elas têm a ver com isso. Você quer saber por quê?
Por que há crianças que se esforçam enquanto outras não
Mara Amor López

Escrito e verificado por a psicóloga Mara Amor López.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Há crianças que se esforçam enquanto outras não e, certamente, muitos de nós já passamos por essa situação na qual um dos nossos filhos se esforça e persevera para conseguir algo, enquanto o outro se recusa inclusive a tentar, mesmo que ambos tenham sido educados da mesma forma e com os mesmos valores. Por quê? Veremos neste artigo.

Há crianças que, desde pequenas, são muito independentes e querem fazer as coisas por conta própria, esforçando-se até conseguir algo, enquanto outras são mais dependentes e seguem a lei do mínimo esforço. Estas últimas, se falham em algo, não tentam novamente. Veremos o que pode causar essa diferença entre duas crianças que, mesmo tendo sido criadas com os mesmos valores, são diferentes.

Por que há crianças que se esforçam enquanto outras não?

A psicóloga Carol Dweck trabalhou durante muitos anos em pesquisas sobre a questão do esforço, da perseverança e da motivação em crianças. Através desses estudos, ela chegou à conclusão de que existem dois tipos de mentalidade de acordo com a atitude da criança em relação ao esforço:

crianças que se esforçam
  • Mentalidade fixa (fixed): são aquelas crianças que têm uma mentalidade fechada e pensam que suas habilidades ou capacidades dependem da inteligência e que, além de tudo, isso é impossível de mudar. Elas pensam que se não são boas em alguma coisa é porque não nasceram para isso e, consequentemente, não se esforçam.
  • Mente aberta ou de crescimento (growth): são aquelas que pensam que aquilo que não sabem atualmente poderão saber no futuro e que o seu sucesso dependerá de aspectos como esforço, perseverança e trabalho.

Para entender melhor esses dois tipos de mentalidade, vamos dar um exemplo. Uma criança que está aprendendo a escrever, ao tentar escrever uma palavra uma ou duas vezes sem conseguir, deixa de tentar porque pensa que não é boa nisso e ponto final, ou seja, que ela não tem capacidade para isso. No entanto, uma outra criança que pensa que tem a capacidade de escrever bem vai se esforçar, tentando quantas vezes forem necessárias até conseguir.

Características das crianças que têm uma mentalidade fixa

  • Evitam desafios que acham que não vão conseguir superar.
  • Não acreditam que possam alcançar algo que desejam através do esforço.
  • Consideram que qualquer erro equivale ao fracasso e, por isso, não conseguem aprender com os seus erros.
  • Diante de conselhos ou críticas construtivas, ficam na defensiva.

Características das crianças que têm uma mentalidade aberta

  • Para esse tipo de criança, o esforço está relacionado ao processo de aprendizagem, então elas pensam que o esforço vai permitir que melhorem qualquer uma das suas habilidades ou capacidades.
  • Assumem os desafios que surgem como algo necessário e não fogem deles. Essas crianças os enfrentam e se esforçam para superá-los. São pessoas resilientes.
  • Entendem que os erros fazem parte da aprendizagem e que as falhas são oportunidades para continuar aprendendo.
  • Aceitam qualquer conselho e crítica construtiva, uma vez que isso é considerado uma contribuição benéfica para a sua aprendizagem.

Crianças que se esforçam enquanto outras não, de acordo com os elogios que recebem

Agora podemos nos perguntar por que há crianças que pensam que podem alcançar o que desejam através do esforço enquanto outras não. De acordo com a pesquisa de Carol Dweck, isso ocorre devido ao tipo de elogio que as crianças recebem dos familiares, dos pais, dos amigos, etc. Assim, podemos falar de dois tipos de elogio:

  • elogio dirigido à inteligência ou habilidade da criança“Como você é esperto; Você é um gênio da matemática; Você se sai bem em tudo…”.
  • Elogios que se referem ao esforço da criança“Boa tentativa, você quase conseguiu; Você consegue, basta tentar; Você pode conseguir; Com o seu esforço, você já alcançou o que se propôs a fazer…”.

Para que isso pudesse ser comprovado, Dweck analisou crianças desde os 14 meses até os 8 anos. Aquelas que recebiam elogios por causa do seu esforço demonstravam interesse e se esforçavam nos desafios propostos, enquanto aquelas que recebiam elogios por causa das suas habilidades mostravam pouco interesse em  enfrentar os desafios.

Sem percebermos, será que estamos elogiando os nossos filhos de formas diferentes?

Podemos examinar as nossas consciências e pensar se elogiamos cada um dos nossos filhos de maneiras diferentes para conseguir obter uma resposta sobre o assunto. Sempre há tempo para consertar o que não estivermos fazendo bem.

Então, comece a trocar frases como “Deixe que agora eu faço” por “Tente você mesmo, veja como se sai”. Ou “Viu como você é bom nisso?” por “O seu esforço te recompensou e você conseguiu o que queria, muito bem”. Todo cérebro é capaz de se moldar e de mudar se receber os elogios necessários para mudar a sua atitude diante do esforço e a sua forma de encarar a vida.

Agora você já viu porque pode haver crianças que se esforçam enquanto outras não. É importante nos observarmos e percebermos as mensagens que enviamos aos nossos filhos através das nossas frases. Todos os pais desejam incentivar os filhos para que sejam pessoas bem-sucedidas no futuro, mas, às vezes, isso é feito de forma equivocada.

Lembre-se de que nunca é tarde para mudar algo que, sem querer, não estamos fazendo bem. Troque os elogios relativos às habilidades ou capacidades do seu filho por elogios relacionados ao esforço, à perseverança e à motivação da criança para alcançar aquilo a que ela se propuser a fazer.


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  • Dweck, C. (2012). Mindset: Changing the way you think to fulfil your potential. Hachette UK.
  • Yeager, D. S., & Dweck, C. S. (2012). Mindsets that promote resilience: When students believe that personal characteristics can be developed. Educational psychologist, 47(4), 302-314.
  • Dweck, C. (2017). Mindset: la actitud del éxito. EDITORIAL SIRIO SA.

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