A síndrome da adolescência normal

Arminda Aberastury e Mauricio Knobel são os autores do livro "Adolescência normal. Um enfoque psicanalítico". Eles consideram a adolescência como uma fase de processo e desenvolvimento na qual o adolescente passa por momentos de desequilíbrio e extrema instabilidade.
A síndrome da adolescência normal
Marta Crespo Garcia

Escrito e verificado por a pedagoga Marta Crespo Garcia.

Última atualização: 27 dezembro, 2022

A seguir, vamos falar sobre o que a síndrome da adolescência normal significa. Veremos que nada mais é do que uma série de comportamentos inerentes e normais durante a fase da adolescência.

A convivência social e as estruturas sociais nos fazem ver que muitos comportamentos são estabelecidos, administrados e regidos pelos adultos. A partir desse ponto de vista, os comportamentos juvenis podem ser entendidos como comportamentos semipatológicos. No entanto, do ponto de vista da psicologia evolucionista, esses comportamentos parecem ser coerentes, lógicos e normais.

Sintomas da síndrome da adolescência normal

Esses comportamentos e desequilíbrios formam uma identidade semipatológica, que os autores chamam de síndrome normal da adolescência. A seguir, vamos ver os sintomas dessa síndrome.

Busca de si mesmo e da identidade

O primeiro sintoma da síndrome da adolescência normal se refere à busca pela identidade. O adolescente precisa construir a sua própria identidade e, por isso, precisa se conhecer tanto a nível biológico quanto social. Assim, a consequência final da adolescência é o autoconhecimento completo.

Durante essa busca pela identidade, o adolescente às vezes recorre à uniformidade ou tendência grupal, que oferece segurança e estima pessoal. Por sua vez, a uniformidade produz a “dupla identificação massiva”, na qual todos se identificam com todos.

A síndrome da adolescência normal

Outras vezes, os adolescentes recorrem à identidade negativa, baseada em figuras reais negativas. Eles consideram que é melhor ser alguém mau e indesejável do que não ser nada. Contudo, também existem outros tipos de identidade nas quais o adolescente faz essa busca por si mesmo, tais como identidades transitórias, ocasionais ou identidades circunstanciais.

A tendência grupal, um dos sintomas da síndrome da adolescência normal

Conforme já dissemos, durante a busca pela identidade, o adolescente recorre e se apoia na uniformidade, ou seja, no grupo. O grupo proporciona a segurança e a estima pessoal de que ele precisa para enfrentar a busca pela sua identidade, para encontrar o seu eu.

Assim, em algumas ocasiões, as ações do grupo representarão uma oposição às figuras parentais. O espírito de grupo que surge é tão intenso que o adolescente se sente mais apegado a ele do que ao núcleo familiar. Da mesma forma, o grupo também vai representar uma nova forma de identidade, que será diferente daquela do ambiente familiar.

O grupo, então, constitui a transição necessária ao mundo externo para alcançar a individualização da vida adulta. No entanto, essa união com o grupo acarretará em comportamentos de desafeto, crueldade, indiferença e falta de responsabilidade, típicos da psicopatia, porém normais na adolescência.

Necessidade de intelectualizar e fantasiar

Intelectualizar e fantasiar são formas típicas do pensamento adolescente. Essas atividades atuam como mecanismos de defesa para compensar a perda da identidade infantil, bem como as perdas que ocorrem dentro de si.

O contínuo dilema da identidade do adolescente costuma ser angustiante e o obriga a se refugiar em seu mundo interior. Essa fuga para o seu mundo interior é uma espécie de ajuste emocional, um autismo positivo no qual há uma maior preocupação com os princípios éticos, filosóficos e sociais. Surgem, então, as grandes teorias filosóficas, os movimentos políticos, as ideias de salvar o mundo, etc.

Da mesma forma, o fato de estarem fechados em seu mundo interior também os leva a escrever versos, romances, contos e a se envolver em atividades literárias e artísticas.

A síndrome da adolescência normal

Crises religiosas

O adolescente pode se manifestar como um ateu exacerbado ou um místico muito fervoroso. O mesmo indivíduo pode passar por períodos místicos muito devotos e por períodos de ateísmo total. Esses comportamentos são normais, pois são consistentes com a situação mutante e flutuante do seu mundo interior.

Surge também uma preocupação metafísica. O adolescente começa a se questionar sobre quem ele é, o que é, o que fazer consigo… Essas perguntas são tentativas de acalmar a angústia que o seu ego vivencia na busca por uma identificação positiva. Da mesma forma, essas perguntas o ajudam a enfrentar a morte definitiva do seu eu corporal infantil.

Deslocamento temporal

No adolescente, pensar sobre o tempo e o espaço adquire características muito especiais. Ele tem uma certa dificuldade para “controlar” bem o tempo. As urgências são enormes e os atrasos são irracionais.

Por outro lado, as modificações biológicas e as mudanças corporais incontroláveis ​​são vividas pelo adolescente como um fenômeno psicótico. Seu corpo se torna uma área onde convergem demandas biológicas e sociais.

Além disso, se o adolescente negar a passagem do tempo, ele poderá manter a criança dentro de si como um objeto morto-vivo. Esse fato está relacionado ao sentimento de solidão típico dos adolescentes. Da mesma forma, isso causa períodos em que eles se fecham em seus quartos, isolando-se e se retraindo.

Porém, a verdadeira capacidade de ficar sozinho é um sinal de maturidade que só será alcançada depois dessas experiências de solidão, às vezes, angustiantes.

A evolução do autoerotismo à heterossexualidade

Vai desde o autoerotismo até a heterossexualidade genital adulta. Nessa evolução, o adolescente passa da masturbação ao exercício genital. Ao aceitar a sua genitalidade, o adolescente começa a procurar um parceiro.

Assim, surgirá a paixão impetuosa, de grande intensidade e, às vezes, ignorada pelo parceiro. Mais tarde, no final da adolescência, aparece a relação genital completa. Mesmo assim, os relacionamentos serão de natureza bastante exploratória e preparatória.

Ao mesmo tempo, as fantasias e experiências passadas são intensificadas. Elas repetem o caminho da fase genital anterior (masturbação) e a atividade lúdica de aprendizagem (toque, danças, jogos, etc.). Outros comportamentos adolescentes relacionados à sexualidade são a curiosidade sexual, o exibicionismo e o voyeurismo.

“Penso que a estabilização da personalidade não é alcançada sem passar por um certo grau de conduta ‘patológica’ que devemos considerar inerente à evolução normal dessa etapa da vida”.

-Mauricio Knobel –

Outros sintomas da síndrome da adolescência normal

A síndrome da adolescência normal

Atitude social reivindicatória

O processo de mudança que a adolescência acarreta não depende apenas do próprio indivíduo. A família e a sociedade também influenciam e determinam o comportamento dos adolescentes. Enquanto a sociedade impõe restrições à vida do adolescente, ele, com a força da sua personalidade, tenta mudá-la.

Segundo Knobel, “a atitude social reivindicatória do adolescente é praticamente indispensável”. O adolescente sente que as suas oportunidades estão severamente restringidas. Ao mesmo tempo, ele precisa se adaptar às necessidades que o mundo adulto impõe. Então, ele descarrega o seu ódio contra isso e desenvolve atitudes destrutivas.

Contradições sucessivas em todas as manifestações do comportamento

O comportamento do adolescente é dominado pela ação. É a forma de expressão mais típica nessa fase da vida. Na verdade, ele não consegue manter um comportamento rígido, permanente e absoluto, embora muitas vezes tente.

No entanto, o mundo adulto não parece tolerar as mudanças no comportamento do adolescente. Os adultos não aceitam que o adolescente possa ter identidades ocasionais, circunstanciais e transitórias, e exigem um comportamento adulto dele.

O fato de manter um determinado comportamento linear indicaria uma alteração da personalidade do adolescente. Por isso, fala-se de uma “anormalidade normal”, de uma instabilidade permanente do jovem. É por isso que o adolescente não consegue manter um comportamento rígido, permanente e absoluto.

Separação progressiva dos pais

Implica o desprendimento dos pais com relação ao filho que não é mais uma criança. Para o adolescente, essa separação é uma situação complicada. No entanto, ele se sente feliz por ter mais independência.

Muitos pais ficam angustiados e assustados diante do crescimento dos filhos e revivem suas próprias situações. Alguns pais até mesmo negam o crescimento dos filhos e, ao mesmo tempo, os filhos veem os pais com características persecutórias muito marcantes. Esse comportamento levará a situações de conflito.

Por outro lado, o adolescente entra em conflito consigo mesmo. Ele não sente a dependência dos pais da mesma forma que quando era criança, mas também não tem a independência de um adulto.

Flutuações constantes do humor e do estado de espírito

Os fenômenos da depressão e do luto vão acompanhar o adolescente durante todo o processo de mudança. Os lutos sofridos pela perda dos objetos parentais e do seu próprio corpo infantil vão determinar a maior ou menor intensidade das mudanças de humor e de seus sentimentos. Típico da adolescência.

Por outro lado, as aspirações que o adolescente possui e que nem sempre são satisfeitas podem causar um sentimento de fracassoEsses fracassos o forçam a se refugiar em si mesmo. Assim, emergem os comportamentos autistas, o sentimento de solidão e a típica situação de frustração e desânimo. Também surgem os momentos de tédio que geralmente são tão característicos dos adolescentes.

Para se ter em mente sobre a síndrome da adolescência normal

O destino da adolescência é se integrar ao mundo dos adultos. Para isso, o adolescente terá que aceitar a sua nova imagem e se desligar do seu mundo infantil, no qual vivia muito confortavelmente.

Durante essa fase de processo e desenvolvimento, o adolescente deverá buscar a estabilidade da sua personalidade. No entanto, esse equilíbrio não será alcançado sem passar por um certo grau de comportamentos “patológicos”, os quais, contudo, devem ser considerados inerentes à evolução normal durante essa fase da vida.


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  • Aberastury, A. (2004). La adolescencia normal: un enfoque psicoanalítico. In La adolescencia normal: un enfoque psicoanalítico (pp. 168-p).
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