A síndrome das crianças adotadas

Diante de qualquer processo de adoção, é preciso saber oferecer paciência, tempo e muito respeito pelos tempos de cada criança.
A síndrome das crianças adotadas
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 30 setembro, 2022

Todo processo de adoção apresenta desafios para a família. Isso requer grande sensibilidade e compreensão para poder acompanhar e compreender a história familiar que acompanha as crianças adotadas. Na maioria dos casos, elas viram seus direitos e cuidados básicos violados.

A grande alegria de ver muitos sonhos realizados e a expectativa de integrar este novo membro também vem acompanhada de outras emoções. Incertezas, dúvidas e frustrações são típicas de qualquer processo parental e carregam a nuance da síndrome das crianças adotadas. Eu estou agindo bem? Ninguém nos preparou para isso! Não imaginava que seria tão difícil! Espera-se que isso aconteça, razão pela qual todo o processo de adoção requer tempo e paciência. Vamos ver um pouco mais para nos prepararmos para enfrentar esse momento.

Características da síndrome das crianças adotadas

Em muitos casos, as crianças adotadas passaram por situações complexas. Isso pode ter impactado no estabelecimento do apego com figuras de referência. O apego é necessário para o desenvolvimento em todos os níveis: psicológico, físico, social e emocional.

Assim, podem ocorrer algumas das seguintes emoções ou situações, que fazem parte do que os especialistas chamam de “síndrome da criança adotada”.

  • Medo ou insegurança de ser abandonado.
  • Baixa autoestima, sentimento de não ser suficiente e de não ter valor.
  • Ansiedade, angústia e nervosismo.
  • Rejeição em relação à família ou o comportamento contrário de complacência, pois precisa ser aceito como é.
  • Pode haver alguns atrasos no desenvolvimento motor ou na aquisição da linguagem.
  • Comportamentos de regressão. Certas conquistas adquiridas podem retornar a estágios anteriores, como o treinamento dos esfíncteres.
  • Pode parecer que seu desenvolvimento é lento em comparação com outros pares ou que não avança, mas de repente avança rapidamente.
  • Na adolescência, podem se manifestar comportamentos de oposição, desafio ou rejeição à família. Às vezes, são formas de testar o apoio e o afeto.
  • Episódios de agressão e violência.
  • Cenas de angústia ou flashback. Muitas delas são produto de estresse pós-traumático.
A criança adotada costuma apresentar episódios de raiva, angústia e nervosismo. Muitas vezes essas reações surgem em decorrência do medo de ser abandonada e, em outras ocasiões, para colocar à prova seu apoio ou afeto.

Conhecer sua história anterior é fundamental para conhecer suas necessidades

A síndrome das crianças adotadas deve ser tratada com cuidado. A presença ou ausência de alguns indicadores como os mencionados ou a complexidade da situação depende muito do histórico anterior da criança. Algumas sofreram abuso, enquanto outras foram expostas a situações abusivas. Ou seja, seu desenvolvimento e suas necessidades vão depender de cada caso em particular, mas se há um denominador comum, é que todas elas precisam de apoio, carinho e reconhecimento de seus direitos.

Como lidar com a síndrome das crianças adotadas

Algumas das dicas para facilitar a adaptação das crianças adotadas e seu bem-estar são apresentadas a seguir:

  • Cada experiência ligada à adoção é única. Ou seja, não existe uma regra universal a ser cumprida ou um destino irrevogável. É muito importante ter isso em mente porque cada criança precisa de algo diferente.
  • Não é correto e não é aconselhável esconder dela sua própria história. As crianças adotadas têm o direito de conhecer suas origens. Agora, é importante poder se preparar, saber que podem surgir perguntas e certas emoções que não podem ser deixadas de lado depois. Esteja disponível e ofereça ajuda.
  • Fale sobre a diversidade de famílias que existem. Por exemplo, há lares onde há apenas um dos pais ou onde o casal é formado por homossexuais. Validar as múltiplas formas de existência da família e enfatizar a importância do amor, do respeito e do cuidado mútuo é fundamental.
  • Qualquer processo de adaptação requer tempo e paciência, tanto para a criança em questão quanto para a família e seus demais membros. O acompanhamento é necessário. Em alguns casos, os pais podem até ter dúvidas e exigir aconselhamento profissional.
  • É necessário acompanhar no manejo das emoções, pois elas podem flutuar sem explicação aparente. Por exemplo, as crianças podem ir do choro ao riso de um momento para outro.
  • Também deve ser considerado que a idade de adoção é uma variável a ter em conta. Outro ponto importante é que há casos de menores que vêm de outros países. Isso implica que talvez tenham sido socializados em outra língua e sob outros costumes. Nesse caso, não se deve presumir que eles entendam tudo o que fazemos ou o que acontece.
Dizer à criança que existem várias maneiras de formar uma família é importante. Saber que, além dos laços de sangue, o que deve prevalecer é o amor, o respeito e o cuidado mútuo.

Não devemos estereotipar a adoção

Para dar apoio e contenção, é necessário levar em conta quem temos à nossa frente. Devemos evitar estereotipar as crianças que foram adotadas para evitar preconceito ou estigma. Às vezes, esses preconceitos são instalados de fora e são altamente contraproducentes.

Colocar um rótulo pode funcionar como um destino inevitável. Isso só tornará mais difícil a confiança e o estabelecimento de um vínculo seguro. Pode até parecer que a adoção é algo ruim e a possibilidade de avançar está bloqueada. Devemos abandonar a ideia de adoção a partir do déficit e do negativo e apostar em facilitar todas as condições necessárias para um desenvolvimento saudável. Há famílias que estão dispostas a fazer isso com grande interesse em dar às crianças uma nova oportunidade e um novo começo.


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