Teorias explicativas sobre o desenvolvimento social
Existem várias teorias explicativas sobre o desenvolvimento social. Em resumo, essas teorias nos explicam como o ambiente social influencia o desenvolvimento da criança nos âmbitos cognitivo, emocional e social.
Desde que nascemos, somos seres sociais destinados a viver em um mundo social e, por isso, precisamos de outras pessoas para nos desenvolver e evoluir.
Desde bebê, a criança vai se tornando ela mesma por meio da interação com as outras pessoas, em um processo contínuo de socialização. Ela é influenciada pela presença e atuação dos outros e, ao mesmo tempo, influencia e determina o comportamento dos outros em relação a ela.
Existem diferentes teorias explicativas sobre o desenvolvimento social que explicam como a interação com as outras pessoas influencia o desenvolvimento cognitivo, emocional e pessoal da criança. Entre elas, vamos mencionar as desenvolvidas por Lev Vygotsky, Erik Erikson e Urie Bronfenbrenner.
Teorias explicativas sobre o desenvolvimento social
Teoria sociocultural de Lev Vygotsky
Lev Vygotsky foi um psicólogo russo e precursor do construtivismo social. Sua teoria se baseia no aprendizado sociocultural. Nesse sentido, ele considera que o ambiente social é fundamental para a aprendizagem da criança. Portanto, a aprendizagem é a integração de dois fatores, o social e o pessoal.
Vygotsky trabalhou com vários conceitos para compreender o desenvolvimento social e a aprendizagem da criança. A seguir, veremos cada um deles.
Funções mentais
Para Vygotsky, existem dois tipos de funções mentais:
- Inferiores: são as funções com as quais nascemos, que são inatas para nós e biologicamente determinadas.
- Superiores: são as funções mentais adquiridas e desenvolvidas por meio da interação social.
Habilidades psicológicas
No desenvolvimento cultural da criança, as funções mentais se desenvolvem e aparecem duas vezes. Primeiramente, elas aparecem no nível social e, então, no nível individual.
A atenção, a memória e a formulação de conceitos aparecem primeiramente no nível social (função interpsicológica) e, gradualmente, tornam-se uma função individual (função intrapsicológica). Dessa forma, todas as funções superiores se originam por meio da interação com outras pessoas.
Zona de Desenvolvimento Proximal
Vygotsky definiu a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) como “a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com colegas mais capazes”.
Portanto, a ZDP é o momento em que ocorre a aprendizagem, permitindo que a criança desenvolva as suas funções mentais superiores progressivamente.
Ferramentas psicológicas
Para Vygotsky, as ferramentas psicológicas são todos os objetos que servem para ordenar as informações externamente (símbolos, escrita, obras de arte, desenhos, linguagem…), sendo a linguagem a ferramenta mais importante, já que é o meio através do qual a criança se comunica com o entorno social.
É possível dizer que as ferramentas psicológicas são a ponte entre as funções mentais inferiores e superiores. Elas mediam os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos.
Mediação
Quando nascemos, temos apenas funções mentais inferiores, uma vez que as superiores ainda não se desenvolveram. Conforme a criança vai interagindo com os outros, ocorre a aprendizagem. Assim, as crianças aprendem por meio de mediadores instrumentais e sociais.
Entretanto, o que aprendemos depende das ferramentas psicológicas que temos e, por sua vez, estas dependem da cultura em que vivemos. Como consequência, a nossa forma de pensar, sentir e agir é mediada culturalmente.
Outras teorias explicativas sobre o desenvolvimento social
Teoria psicossocial de Erik Erikson
Assim como Vygotsky, Erikson dá especial importância aos aspectos sociais e culturais no desenvolvimento da personalidade. Erikson desenvolveu a teoria psicossocial. Nela são descritos oito estágios (conflitos) entre a infância e a velhice. Essas etapas são influenciadas pela interação social, e cada uma delas apresenta um novo desafio (conflito entre as necessidades e as demandas sociais) que a pessoa deve resolver.
Uma vez resolvido o conflito de cada estágio, isso levará ao desenvolvimento de novas competências. Cada estágio terá dois resultados possíveis:
- A conclusão bem-sucedida de cada estágio leva a novas competências e, portanto, a uma personalidade saudável e a interações bem-sucedidas com as outras pessoas.
- O fracasso em um estágio pode ter como resultado uma capacidade reduzida para completar os outros estágios, levando a uma personalidade e um senso de identidade pessoal menos saudáveis.
Estágios psicossociais
- Estágio 1. Infância. Confiança versus desconfiança (0 a 18 meses).
- Estágio 2. Primeira infância. Autonomia versus vergonha e dúvida (18 meses a 3 anos).
- Estágio 3. Idade do jogo. Iniciativa versus culpa (de 3 a 5).
- Estágio 4. Adolescência. Indústria (produtividade) versus inferioridade (5 a 13 anos).
- Estágio 5. Juventude. Identidade versus confusão de identidade (13 a 21 anos, aproximadamente).
- Estágio 6. Maturidade. Intimidade versus isolamento (21 a 40 anos, aproximadamente).
- Estágio 7. Idade adulta. Generatividade versus estagnação (40 a 60 anos, aproximadamente).
- Estágio 8. Velhice: Integridade versus desespero (60 anos, aproximadamente, até a morte).
Teoria ecológica de Urie Bronfenbrenner
Bronfenbrenner propõe uma perspectiva ecológica do desenvolvimento do comportamento humano. Ele considera que o desenvolvimento e a aprendizagem são produtos da interação do sujeito com o ambiente. Por isso, o ambiente da criança e todos os sistemas dos quais ela faz parte influenciam o seu desenvolvimento cognitivo, moral e relacional.
O ambiente ecológico apresentado por Bronfenbrenner é um conjunto de sistemas com diferentes níveis. Além disso, esses níveis estão interligados: cada nível contém o outro e eles dependem um do outro.
Sistemas da teoria ecológica
- Microssistema. É o ambiente mais interno e imediato em que o indivíduo se desenvolve (família, escola, amigos…).
- Mesossistema. Compreende a inter-relação de dois ambientes ou microssistemas. Nele, a pessoa em desenvolvimento interage e participa ativamente (família-escola, família-amigos…).
- Exossistema. São ambientes que não incluem a pessoa em desenvolvimento diretamente. No entanto, eles podem afetar o seu ambiente e, portanto, o seu desenvolvimento. Um exemplo, no caso de uma criança, seria o local de trabalho dos seus pais. A criança não participa desse ambiente, mas este pode influenciar o seu desenvolvimento de forma implícita (disponibilidade de tempo, estresse dos pais…).
- Macrossistema. São os elementos da cultura em que a pessoa se desenvolve. É o conjunto de valores, religiões, tradições, etc. Esse nível influencia como os outros sistemas podem se expressar.
- Cronossistema. Tem a ver com a dimensão temporal. De acordo com o momento da vida em que a pessoa se encontra, os acontecimentos do seu ambiente vão afetá-la de diferentes formas.