9 maneiras de ensinar as crianças a odiar a leitura

Junto com um prodígio como o pedagogo e escritor Gianni Rodari, repassamos aqui os erros mais comuns na hora de tentar atrair as crianças para a literatura. Você alguma vez cometeu algum deles?
9 maneiras de ensinar as crianças a odiar a leitura
María Alejandra Castro Arbeláez

Revisado e aprovado por a psicóloga María Alejandra Castro Arbeláez.

Escrito por Equipo Editorial

Última atualização: 10 maio, 2018

Na ânsia de apresentar às crianças o fascinante mundo dos livros, os adultos muitas vezes cometem erros. Segundo o escritor e pedagogo italiano Gianni Rodari, há várias formas de ensinar as crianças a odiar a leitura. Infelizmente, usamos essas formas mais vezes do que imaginamos.

Os benefícios da leitura são inegáveis, tanto para as crianças quanto para os adultos. Ela permite uma melhor comunicação, amplia a disponibilidade de vocabulário e expressões, estimula a imaginação, a concentração e a incorporação de conhecimentos, entre muitas outras coisas.

Por tudo isto e também por uma preferência pessoal, muitos pais costumam recorrer a diversas estratégias para que as crianças se tornem adeptas dos livros. A má notícia para eles é que isto nem sempre dá resultado. De fato, muitas vezes dá errado.

De acordo com Gianni Rodari, um pedagogo, escritor e jornalista italiano falecido em 2017, é possível ensinar as crianças a odiar a leitura, por mais paradoxal que isto possa parecer. Como? Basta cometer alguns erros simples para provocar aversão quando o que queríamos era despertar o interesse.

9 maneiras de ensinar as crianças a odiar a leitura, segundo Rodari

Este escritor trouxe enormes contribuições no âmbito da pedagogia, sobretudo em todo o relacionado com a literatura. Além disso, foi um criador de obras infantis de sucesso.

Muitos de seus artigos foram publicados pela imprensa italiana nas décadas de 1960 e 1970. Neles, assim como em seu famoso ensaio Gramática da Fantasia, Rodari dava conselhos aos pais, professores e alunos sobre a escrita de histórias.

Entretanto, ele também oferecia valiosas reflexões sobre os erros que estes agentes cometem no processo educacional. Um deles se intitulava 9 formas de ensinar as crianças a odiar a leitura, e detalhava os seguintes pontos:

1.- “Apresentar o livro como uma alternativa à televisão”

Para Rodari, negar uma forma de entretenimento para substituí-la por outra é totalmente contraproducente. O que se consegue, afirma, é criar uma oposição que resulta na rejeição de uma delas.

desestimular a leitura nas crianças

A leitura é uma atividade que traz enormes benefícios para as crianças.

2.- “Apresentar o livro como uma alternativa para os quadrinhos”

Esse pedagogo afirmava que o fato de uma criança gostar de ler quadrinhos não implica que outras formas leitura lhe agradem. Ele afirmava que, se em algum caso o gosto por outros tipos de leituras não existir, isto nos indica que as causas de tal interesse são diferentes das que geram o gosto pelas histórias em quadrinhos.

3.- “Dizer para as crianças de agora que as crianças de antigamente liam mais”

Não devemos comparar as crianças de agora, a famosa geração millennial, com o passado. Elas vivem em contextos totalmente diferentes e as ferramentas ao seu alcance também são outras, assim como os estilos de vida também mudaram.

4.- “Achar que as crianças têm muitas distrações”

Não é porque uma criança tem mais tempo livre que ela vai se aproximar da leitura. Segundo Gianni Rodari, isso tem mais a ver com o lugar que os livros ocupam em uma cultura e em uma família em particular.

5.- “Colocar a culpa nas crianças se elas não gostam de ler”

Por que seria culpa das crianças o fato de não se sentirem atraídas pelos livros? Há muitas famílias nas quais os próprios pais não leem nem mesmo um jornal. No entanto, são muito exigentes para com os seus filhos e suas pretensões literárias.

Gianni, além disso, destaca a responsabilidade do Estado, da escola pública e da “alta cultura”. De acordo com suas palavras, esta é “sempre demasiado aristocrática para se encarregar de deveres pedagógicos”.

6.- “Transformar o livro em um instrumento de tortura”

Este autor era contrário à ideia de conceber os livros como sendo um instrumento para realizar atividades “mais sérias” e não como um fim louvável em si mesmo. Para ele, isto era um instrumento de tortura que preparava para uma vida de sofrimento.

A escola vê a criança como um meio sobre o qual se deve emitir um julgamento.

7.- “Negar-se a ler para as crianças”

Ler um conto, um poema ou uma história curta para as crianças —inclusive desde pequenas— é uma excelente maneira de formar um vínculo de amor. Além disso, estimula sua capacidade comunicativa e, obviamente, é um ótimo caminho para aproximar a criança da leitura.

Gianni Rodari, a leitura

Muitas crianças gostam de ler em grupo ou com amigos.

8.- “Não oferecer escolhas suficientes”

Um erro que muitos adultos cometem é dar de presente um determinado livro para uma criança e, se ela não o ler, concluir que ela não gosta de leitura. Por acaso nós também lemos a primeira coisa que aparece pela frente? Por que não damos às crianças a possibilidade de escolher um tema ou um livro que lhes interesse?

9.- “Obrigar a ler”

Essa é a forma mais eficiente de ensinar as crianças a odiar a leitura. Poucas coisas desagradam mais as pessoas do que aquelas que são obrigadas a fazer. Acontece até com as paixões.

Quando alguém faz alguma coisa por simples divertimento, nunca vai deixar de gostar dela. Entretanto, ao ser encarada como um trabalho ou um dever, a liberdade é reprimida e o prazer se transforma em um tormento.

“Já faz centenas de anos que os pedagogos não deixam de repetir que, da mesma forma que não se pode forçar uma árvore a florescer fora de época, quando não existem as condições adequadas, também não se pode obter nada das crianças através da obrigação”

—Gianni Rodari—

Se você é mãe e tem interesse que seu filho desenvolva o gosto pela literatura, é muito bom refletir sobre essas atitudes. Esses métodos para ensinar as crianças a odiar a leitura saíram das mãos de uma referência, portanto com certeza têm, pelo menos, um pouco de razão.


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  • Rodari, G. (2002). La gramática de la fantasía. Booket.

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