Cleptomania infantil: o que é e como tratá-la?
Quando falamos em cleptomania, pensamos em um distúrbio que só é visto em filmes ou em certas pessoas específicas distantes de nós. Nunca imaginamos que nossos filhos possam entrar nessa categoria. No entanto, de acordo com a American Psychiatric Association, essa condição afeta 0,3-0,6% da população em geral e costuma começar durante a infância e adolescência. Por esse motivo, é conveniente que os pais saibam o que é a cleptomania infantil e o que fazer em relação a ela.
Vale ressaltar que qualquer roubo, quando cometido por uma criança, não é em si um indicador de cleptomania. Portanto, se seu filho rouba um doce de uma loja ou se apropria do dinheiro que você tinha na carteira, não pense que ele é um cleptomaníaco. Será importante enfrentar o ocorrido educando para a responsabilidade e os valores, mas não há motivo para alarme.
O que é cleptomania infantil?
A cleptomania é um distúrbio psicológico raro, mas grave, que envolve um desejo incontrolável de roubar itens. Está incluída no principal manual de diagnóstico de psiquiatria (DSM-V) sob o título “Transtornos disruptivos, do controle dos impulsos e da conduta”; e, como dissemos, não se trata de um roubo apenas.
Nesse caso, os objetos ou o dinheiro roubados não são necessários para a pessoa e não são apropriados pelo que valem monetariamente. Esse ato não é cometido como forma de vingança ou explosão de raiva. O que de fato ocorre é que surge um forte sentimento de tensão antes de cometer o roubo, que só é aliviado pela gratificação que se sente após cometê-lo.
Quais são as causas?
Embora uma causa exata que leva à cleptomania não seja conhecida, foram encontradas alterações cerebrais que podem estar na base do distúrbio. É assim que Buzsik e Foila o descrevem em seu artigo publicado em 2021.
Especificamente, nessa condição parece haver um desequilíbrio em certos neurotransmissores. Por um lado, foram encontrados baixos níveis de serotonina em pessoas com cleptomania, que às vezes melhoram com o uso de drogas que regulam essa via.
Por outro lado, a liberação de dopamina que o roubo produz e um desequilíbrio no sistema opioide do cérebro também podem desempenhar um papel, dificultando o controle dos impulsos.
Sintomas e diagnóstico de cleptomania infantil
Se seu filho roubou itens ou dinheiro em várias ocasiões, você pode estar preocupado que ele tenha esse diagnóstico. No entanto, existem algumas características que devem estar presentes no comportamento da criança que diferenciam essa situação do roubo normal:
- A criança rouba itens que não precisa, têm pouco valor ou podem ser facilmente obtidos por outros meios. Além disso, ela não os usa ou desfruta deles, mas os acumula, joga fora ou os dá.
- Sente grande ansiedade e tensão interna antes de roubar, mas sente alívio depois de roubar.
- Apesar disso, após cometer o furto sente-se culpada, envergonhada e arrependida.
- Quando se apropria de dinheiro ou objetos, o faz sozinho e não na companhia de outras crianças. Além disso, não é um ato planejado ou premeditado, mas impulsivo.
- Ela tenta esconder o que está acontecendo e, mesmo se sentindo mal com isso, não consegue evitar de continuar roubando.
- Comete furtos tanto em espaços públicos (lojas ou centros comerciais), como em casa (rouba dinheiro dos pais) ou na escola (rouba dinheiro ou objetos dos colegas).
Tratamento para a cleptomania infantil
Lembre-se de que é raro encontrar um caso de cleptomania na infância, os casos mais comuns são furtos esporádicos por outros motivos. Mas se você acha que as descrições acima identificam a situação do seu filho, é crucial procurar um profissional da área. É difícil para a família lidar sozinha com a situação, pois não se trata de incutir valores, mas de lidar com um distúrbio psicológico.
Embora ainda sejam necessários mais estudos a esse respeito, a psicoterapia cognitivo-comportamental parece ser a abordagem mais eficaz para tratar a cleptomania infantil. Isso é afirmado no artigo publicado no International Journal of Behavioral Consultation and Therapy . Graças às técnicas dessa vertente, a criança pode ser ajudada a controlar os impulsos, fazer com que o roubo não gere prazer e aprender a adquirir essa gratificação e excitação por outros meios.
Além disso, lembre-se de que a cleptomania costuma ter comorbidades (ou seja, outras doenças psicológicas que ocorrem ao mesmo tempo). Ansiedade, depressão, vícios e transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros, se sobrepõem ao principal, por isso também será necessário abordá-los a partir da psicoterapia.
É necessário até mesmo o acompanhamento com medicamentos em alguns casos. Seja como for, a colaboração da família será fundamental para colocar em prática as técnicas sugeridas pelo profissional e estabilizar os ganhos.
O que devo fazer se meu filho roubar?
Se seu filho roubar, considere se suas ações atendem ou não aos critérios de cleptomania mencionados acima. Pois, como dissemos, é possível que os furtos sejam motivados por outras causas e não pelo referido transtorno.
De qualquer forma, se você suspeitar que seu filho tem cleptomania infantil, não ignore e procure orientação profissional. Caso contrário, o distúrbio pode progredir e piorar. E, se existirem outras razões subjacentes ao seu comportamento, um psicólogo infantil poderá orientar você sobre as melhores medidas a tomar.
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