O difícil momento da despedida de um filho que não nasceu

O difícil momento da despedida de um filho que não nasceu
María Alejandra Castro Arbeláez

Escrito e verificado por a psicóloga María Alejandra Castro Arbeláez.

Última atualização: 08 setembro, 2017

Despedir-se de um filho que não nasceu pode ser muito mais complicado do que as pessoas imaginam. Sem dúvida é um dos momentos mais difíceis pelo qual uma pessoa pode passar. Um golpe impossível de ser evitado, uma queda que é quase impossível de se levantar.

Leva tempo demais para digerir essa perda, mesmo que a pessoa nunca chegue a compreender o que passou. São horas e horas pensando nisso, se lembrando de cada momento da gravidez. Sentir a decepção de ter chegado tão perto, e a tristeza de ter podido chegar triunfantes ao final da gestação.

Consome mais tempo ainda deixar para trás essas compreensíveis e lógicas lágrimas e trocá-las por sorrisos, porque é difícil parar de pensar no que podia ter acontecido, naquilo que sonhamos e projetamos. E é mais duro ainda pensar no que a vida finalmente quis que acontecesse.

Chega um momento da sua vida, no qual se despedir se torna urgente. Despedir-se de maneira definitiva para que já não reste mais nada mal resolvido entre os dois. Deixá-lo em paz naquele lugar onde possa descansar. Para isso é fundamental fazer um ritual de despedida.

Mesmo que essa técnica pareça absurda, ela, sem dúvida alguma funciona, porque os rituais curam as feridas que carregamos. Trata-se de uma ajuda a mais para conseguir digerir aquilo é difícil para nós, aquilo que nos machuca. Superar as mais cruéis perdas e as emoções negativas que elas trazem consigo.

Despedir-se de um filho que não nasceu, como fazer isso?

Nessa hora em que impera a confusão e a angústia, sobram perguntas, medos e, principalmente, o sentimento de culpa. Provavelmente, você nunca vai achar as respostas que busca. A verdade é que esses medos devem ser trabalhados, tanto quanto essa culpa infundada que não para de crescer.

Não importa a raiva que você sente, porque a imagem desse futuro próximo não para de crescer. Esse lugar onde coabitam os mais profundos desejos e as mais arraigadas expectativas se torna obscuro. Por isso, o sofrimento é inevitável, e junto dele o esgotamento emocional, prestes a acontecer.

O panorama que se apresenta é devastador. E nesse contexto, o rito de despedida do filho que não nasceu se torna uma ferramenta fundamental, pode-se dizer que é até mesmo vital. Não é para menos, porque se trata de uma boa arma para usar nesse duelo.

Para que serve um rito de despedida do filho que não nasceu?

Muitas pessoas se perguntarão por que é necessário esse rito. Em primeiro lugar, para que a mãe se despeça do bebê, porque, com certeza, não sabem que existe uma lacuna real a respeito disso. Logo, em nossa sociedade não há tempo nem lugar para esse triste adeus, que é mais duro do que imaginam.

Em segundo lugar, com essa atitude é possível dar ao filho que não nasceu uma identidade, ao mesmo tempo em que se reserva um lugar na família para ele e também seu espaço na sociedade. Isso porque existe uma série de detalhes relativos ao duelo perinatal que surpreenderão negativamente você, por mais frios e duros que sejam.

Com relação ao exposto anteriormente, o terceiro motivo pelo qual é urgente fazer esse rito de despedida tem a ver com o fato de se conseguir digerir emocionalmente esse infeliz incidente. Dessa forma, é possível lutar nesse duelo. Não se trata de se esquecer do fato, mas sim de aprender a conviver com ele.

Como se despedir de um filho que não nasceu?

A verdade é que não existe nada preestabelecido em relação aos ritos de despedida. Cada casal é único, mãe ou pai, a pessoa escolhe o modo em quer deixar para trás essa esperança que escorre pelos dedos. Cada um pede que a criança vá em paz, assim como pedem que o mesmo aconteça para cada um.

Sem dúvida, isso vai depender da maneira que querem que esse filho que não nasceu seja lembrado. Os especialistas recomendam que é bom fazer algo simples. Vale lembrar que não falamos necessariamente de um rito religioso, pelo contrário, pode ser um rito simbólico.

Plantar uma árvore, escrever uma carta com tudo o que sentimos antes, durante, e depois de sua partida. Isso pode ser feito em momento íntimo ou rodeado por quem gosta de você, o rito pode ser dividido em várias atividades por dia, ou durar vários dias. Você deve fazer aquilo que vier de dentro de você: acender uma vela, um incenso, óleos aromáticos; tudo aquilo que aproxima você desse ser tão especial.

Simplesmente se trata de encontrar aquilo que realmente ajuda você a se despedir dele. Você deve deixar essas emoções e pensamentos correlacionados, sepultados no passado. Só assim você poderá se dedicar a viver o presente. Desfrutar do sentimento de plenitude que esse filho, mesmo sem ter chegado a este mundo com vida, nos proporcionou.

Os restos mortais dessa pessoa que foi, é, e fará parte do nosso mundo, pode descansar nesse lugar especial, que nos une espiritualmente. Na natureza, envolto por árvores centenárias, à beira do mar ou em cima da montanha.

Dedicar uma canção, compartilhar palavras tão significativas quanto simples, e capazes de expressar tudo isso. Outra alternativa é criar uma caixa onde fiquem guardadas as lembranças. Ultrassonografias, memórias, a roupinha de bebê pela qual ficamos obcecados e, inclusive, alguma foto da gravidez. Claro que são provas de sua existência e um belo registro desse momento fugaz de nossa vida.

Imagem de capa de Tagie Do


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