A dissociação em crianças e adolescentes

A somatização do desconforto pode ser uma das consequências da dissociação em crianças e adolescentes. É quando o corpo tenta processar e se encarregar de uma situação traumática ou complexa.
A dissociação em crianças e adolescentes
Maria Fátima Seppi Vinuales

Escrito e verificado por a psicóloga Maria Fátima Seppi Vinuales.

Última atualização: 13 maio, 2023

Diante de uma situação de impacto, talvez você imagine que vai reagir de uma determinada maneira. No entanto, quando chega a hora, você pode se surpreender com sua própria resposta. Acontece que às vezes a circunstância excede sua capacidade de agir em uma direção. É assim que funcionam os mecanismos de defesa. Abaixo você pode encontrar informações sobre como a dissociação funciona em crianças e adolescentes.

O que é a dissociação em crianças e adolescentes?

Em termos gerais, a dissociação refere-se à separação ou desconexão da realidade. Geralmente está associada a situações de trauma e grande estresse, por isso é acionada como um mecanismo de defesa. Nesse sentido, crianças e adolescentes se veem expostos a uma experiência que não conseguem tolerar ou resolver. Dessa forma, para se proteger, corpo e mente se desconectam e se distanciam do fato.

Quais situações podem levar à dissociação em crianças e adolescentes?

Situações de abuso, episódios de violência ou evento traumático, entre outros, podem levar crianças e adolescentes à dissociação.

Algumas delas podem ser as seguintes:

  • Ser vítima ou testemunha de violência.
  • Situações de abuso.
  • Experiências de descaso e abandono.
  • Parentalidade baseada no medo e na ameaça.
  • Evento traumático, como um acidente (ser testemunha ou vítima), entre outros.
  • Bullying crônico.

Sintomas de dissociação

Alguns dos sinais mais frequentes de dissociação em crianças e adolescentes são os seguintes:

  • Amnésias: há apagões sobre certos episódios. A criança ou o adolescente não se lembra de ter estado presente e não se reconhece como parte ou protagonista de um evento que outras pessoas, sim, se lembram.
  • “Tudo em branco”: muito semelhante ao ponto anterior. Quando uma criança vivencia um episódio de violência, talvez ela o bloqueie. É como estar no lugar, mas sem estar lá. Naquele momento, aquele “tudo em branco” foi uma saída funcional e defensiva. No entanto, a dissociação também pode interferir em outras áreas da vida e levar a pessoa a se desconectar de outras situações. Sem dúvida, isso afeta sua participação, seu prazer e também seu aprendizado e desempenho.
  • Emoções alheias ou sem motivo: muitas vezes, acontece que crianças ou adolescentes relatam sentir-se tristes ou com muita angústia, mas não conseguem identificar a origem.
  • Entorpecimento emocional: nenhuma situação desencadeia uma emoção.
  • Expressões psicossomáticas: muitas vezes, essa repressão ou ocultação do trauma leva ao “desligamento” da mente. No entanto, esse desconforto persiste e busca uma forma de se manifestar ou transformar. Como isso acontece? Por exemplo, através de manchas ou alergias na pele. Além disso, também pode se manifestar por meio de comportamentos regressivos (crianças que voltam a molhar a cama à noite ou chupar o dedo, entre outras coisas).
  • Pesadelos ou dificuldades para dormir: por exemplo, os adolescentes podem acordar no meio da noite assustados com um pesadelo. Ou também podem não conseguir voltar a dormir. No caso das crianças, também podem ocorrer pesadelos e medo de dormir com a luz apagada, entre outros.
  • Comportamentos de risco: especialmente em adolescentes. Pode se manifestar através de relações sexuais desprotegidas, abuso de drogas, direção em alta velocidade e outros.
Muitas vezes, o pequeno não é estimulado a compartilhar certas experiências por medo ou vergonha. Então, você pode entrar em contato com um profissional para que o acompanhe em seu processo de cura.

Como agir diante da dissociação em crianças e adolescentes?

Além dos sinais de dissociação, é sempre importante levar em consideração a história e o contexto da criança ou do adolescente. Aqui estão os pontos-chave para entender o que acontece com as crianças e os adolescentes, quando se trata de um comportamento decorrente de um trauma ou de um comportamento temporário e esperado em seu estágio evolutivo. Conhecer a criança ou o adolescente é o que nos permitirá avaliar a situação e entendê-la.

Algumas das recomendações a ter em conta na dissociação em crianças e adolescentes são as seguintes:

  • Crie um espaço para um diálogo respeitoso e atencioso. Procure oferecer um ambiente afetuoso, escuta ativa e empatia. Permita que a criança ou o adolescente pense, sinta e expresse suas emoções.
  • Valide as emoções. Diante de situações complexas, não existe uma forma universal de resolvê-las. Cada um faz o que pode com os recursos que tem. Muitas crianças e adolescentes não se reconhecem e não entendem o que está acontecendo com eles. Como adulto, você deve ser capaz de ajudá-los a nomear o que acontece e sustentá-los no caminho da descoberta.
  • Ajude a se conectar com o aqui e agora. As técnicas de relaxamento e mindfulness, adaptadas às diferentes idades, são muito úteis. Elas servem para ajudar as crianças e os adolescentes a se conectarem, a estarem presentes, a focarem a atenção e a “evitar que a cabeça divague”.
  • Peça ajuda a um profissional. Às vezes, a dor de uma criança ou adolescente diante de uma situação traumática é muito maior do que um adulto pode suportar sem as ferramentas certas.

Aceite para continuar

Com tempo e com ajuda, crianças e adolescentes devem ser capazes de transformar sua dor em resiliência. Dessa forma, eles podem se fortalecer frente a adversidade. Dessa maneira, é possível criar novas condições, assim como o poder de aceitar, perdoar e curar. Para isso, será necessária uma rede de contenção que os acompanhe e sirva de suporte. Essa rede deve ser capaz de oferecer cuidado e visão de aprendizado e otimismo de vida.


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