Etapas na aquisição da linguagem escrita

Antes de aprender a ler e escrever convencionalmente, a criança já possui critérios para admitir que uma ortografia pode ou não ser lida.
Etapas na aquisição da linguagem escrita
Marta Crespo Garcia

Escrito e verificado por a pedagoga Marta Crespo Garcia.

Última atualização: 15 outubro, 2022

A escrita e a leitura são instrumentos e ferramentas para acessar e produzir a linguagem escrita, mas ler e escrever são tarefas separadas. Em seguida, vamos nos concentrar na escrita. Veremos as diferentes etapas na aquisição da linguagem escrita pelas quais as crianças passam antes de dominar perfeitamente a escrita convencional.

No entanto, nem todas as crianças passam por essas fases na mesma idade. Como bem sabemos, cada criança é única e tem seu próprio ritmo de desenvolvimento e aprendizado. Portanto, devemos validar e parabenizar cada pequena conquista.

Quando as crianças começam a aprender a escrever?

Tradicionalmente, a leitura e a escrita têm sido consideradas algo que deve ser sistematicamente ensinado na escola. No entanto, para Ana Teberoski e Emilia Ferreiro, ” As atividades de interpretação e produção da escrita começam antes da escola, como parte da atividade da idade pré-escolar”.

Essas dias autoras fazem essa afirmação a partir de uma série de investigações que realizaram com crianças de diferentes países e de diferentes classes sociais. Assim, os estudos de Ferreiro e Teberosky nos dizem que a criança inicia seu aprendizado da escrita muito antes de o adulto iniciar um ensino sistemático dela.



Criança aprendendo a escrever durante uma das etapas da aquisição da linguagem escrita.

Da mesma forma, apontam que a criança procura compreender desde muito cedo todas as informações que o ambiente letrado proporciona, como rótulos, propagandas, textos em embalagens, jornais, revistas, televisão, etc.

Embora existam etapas predeterminadas na aquisição da linguagem escrita, nem todas as crianças precisam passar por elas na mesma idade. Como outras aprendizagens, cada criança tem seu próprio ritmo individual.

Por outro lado, aprender a escrever, assim como ler, é condicionado por vários fatores, incluindo:

  • Interações ricas e variadas da criança em diferentes contextos letrados.
  • Interesse e motivação perante a proposta escrita.
  • Autonomia emocional para resolver atos de escrita e leitura.

Etapas na aquisição da linguagem escrita

para aprender a ler e escrever, as crianças, como acontece com qualquer aprendizagem cognitiva, passam por diferentes fases. Durante essas etapas, elas próprias são capazes de formular diferentes hipóteses sobre como escrever, testam seus pressupostos para melhorar e enfrentar diferentes conflitos cognitivos.

Como o pequeno não sabe nada de escrita até usá-la de maneira convencional, ele passará por várias fases. De acordo com Teberosky, estas são categorizadAs da seguinte forma.

Escrita pré-silábica indiferenciada

Este nível é dividido em duas fases:

  • Indiferenciação gráfica do desenho e da escrita

Para a criança, sua primeira forma de escrita é o desenho. Ela não distingue entre desenho e escrita. Nessa fase, é característico que as crianças “leiam” o que desenham, embora variem sua leitura cada vez que são solicitadas. O importante nesse fato é que o bebê atribui um propósito ao seu desenho e o considera como se fosse uma escrita.

Contudo, essa falta de diferenciação gráfica não dura muito. Em pouco tempo, elas passarão para a fase de diferenciação, onde já são capazes de reconhecer graficamente entre desenho e escrita. No entanto, ainda incluem as imagens nas letras para que a imagem apoie a escrita para dar-lhe significado.

  • Estágio diferenciado

Nesta fase, a criança já é capaz de diferenciar o desenho das grafias. Contudo, faz o mesmo para qualquer palavra ou frase.

As grafias usadas pelas crianças diferem em três tipos de códigos gráficos:

  • Um único caractere que pode ser atribuído a um objeto ou a uma declaração verbal.
  • Grafismos ligados entre si que formam uma linha ondulada.
  • Grafismos independentes formados por linhas curvas e retas, ou uma mistura de ambas.

Embora esses códigos ou rabiscos não signifiquem nada para os adultos, como na etapa anterior, as crianças podem “ler” o que escrevem. Além disso, nesta fase, elas escrevem com um propósito. Elas podem escrever uma carta, uma história, uma lista de compras. Ou seja, são capazes de reconhecer que existem diferentes formatos de escrita.

Escrita pré-silábica diferenciada

Durante esta fase, as crianças aprenderão a fazer traços cada vez mais precisos e semelhantes a letras. Da mesma forma, elas começam a ficar mais atentas à escrita convencional. Isso pode ser visto no esforço que elas fazem para integrar as letras reais com suas “letras” inventadas.

No início, os pequenos escrevem letras sem correspondência com os sons. Outras vezes, podem ser padrões de letras e, outras vezes, podem copiar palavras sem entender o significado. Além disso, eles descobrem que, para decifrar algo, as letras devem ser diferentes e devem ter mais de uma grafia que não se repete.

Criança aprendendo a escrever começando com rabiscos.

Estágio de fonetização

É aqui que se observa uma fonetização da escrita. Ou seja, a criança é capaz de produzir a correspondência entre como soa e como se escreve. Por sua vez, os traços são mais firmes e seguros, embora haja erros de ortografia. Diferentes níveis de escrita podem aparecer nesta fase.

  • Nível silábico. Nesse nível, a criança representa cada unidade de som com um gráfico. Assim, cada sílaba corresponde a uma letra. O A E (TO MA TE).
  • Nível silábico alfabético. Aqui, as crianças escrevem com vogais e consoantes. Algumas letras ocupam o valor da sílaba, mas outras correspondem a fonemas. CA A ME LO (CA RA ME LO).
  • Nível do alfabeto. A criança já domina o propósito e o valor das sílabas e das letras. Tem um conceito de palavra claro. É capaz de fazer a correspondência fonema-grafema, embora ainda não seja capaz de dominar a ortografia específica, como letras maiúsculas e minúsculas, espaços em branco, mudanças entre letras (b-v, c-z, m-n), sinais de pontuação…

No entanto, esses erros não são importantes, pois a criança vai aprendendo e corrigindo à medida que interage com a linguagem escrita.

Outra característica que pode ser observada nessa fase é a ortografia inventada utilizada por algumas crianças. Ferreiro e Teberosky nos dizem que essa etapa não é o fim do desenvolvimento da alfabetização, mas o ponto de partida de novas etapas que trarão consigo novos problemas cognitivos.

Do alfabético ao caligráfico

Os níveis anteriores são englobados e dão origem a um processo propriamente caligráfico, que se inicia por volta dos seis anos de idade. Falamos sobre as etapas para a aquisição da linguagem escrita:

  • Pré-caligráfico. Aqui os traços ainda não são controlados. Ao escrever, a criança abaixa a cabeça para olhar de perto. O tronco e o antebraço parecem repousar sobre a mesa e o pulso permanece levemente levantado. Ela se cansa muito rapidamente e expressa inquietação.
  • Caligrafia infantil. Aqui há domínio do grafismo, a caligrafia é regular e há domínio da motricidade fina. Na produção escrita, erros como rotações, inversões, omissões, adições, substituições ou escrita em espelho são comuns, além de confusão entre grafemas e fonemas, entre outros. Mas tudo isso indica apenas o franco progresso de uma atividade muito complexa que exige treinamento constante.
  • Pós-caligrafia. Nesta fase, a caligrafia é distorcida e personalizada pela necessidade de copiar rapidamente. A esse respeito, María Crus Pérez Sans diz: “A partir dos 12 anos (fase pós-caligráfica), o escritor entra em uma fase da vida em que o desejo de singularidade e sua manifestação se torna cada vez mais evidente. A isso, se somam as exigências da velocidade que a vida acadêmica implica”.

“…somente a automação da caligrafia, como técnica instrumental básica, permitirá que a criança desvie sua atenção para outros aspectos da resposta escrita, como ortografia, gramática, sintaxe e até mesmo conteúdo…”

-Maria C. Perez-



Coisas a ter em mente sobre a aquisição da linguagem escrita

Cada etapa que a criança passa no processo de aquisição da linguagem escrita é muito importante. Portanto, pais e educadores devem validar, parabenizar e reforçar positivamente o que as crianças “escrevem”.

É bom fazer perguntas como: “O que você escreveu? Para quem você escreveu? Por que você escreveu?” Isso traz alegria e satisfação aos pequenos. Além disso, eles se sentirão motivados e ansiosos para aprender mais e mais palavras.


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  • Pérez Sanz, M. C. (1993). La escritura como apariencia: la aceptabilidad de la escritura. Didáctica (lengua y literatura). https://redined.educacion.gob.es/xmlui/handle/11162/181586
  • Teberosky, A., & FERREIRO, E. (1979). Los sistemas de escritura en el desarrollo del niño. Madrid.
  • Vissani, L. E., Scherman, P., & Fantini, N. D. (2017). Emilia Ferreiro y Ana Teberosky. Los sistemas de escritura en el desarrollo del niño. In IX Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología XXIV Jornadas de Investigación XIII Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Facultad de Psicología-Universidad de Buenos Aires. https://www.aacademica.org/000-067/173.pdf

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