É possível passar pela maternidade sem culpa?

Sentir culpa em excesso é uma realidade quase inevitável quando nos tornamos mães. No entanto, esse sentimento dificulta a possibilidade de desfrutar da experiência. Vejamos se é possível aplacar essa emoção.
É possível passar pela maternidade sem culpa?

Última atualização: 28 novembro, 2022

Culpa e maternidade são dois conceitos que sempre parecem andar de mãos dadas. É como verão e praia, macarrão e queijo, ou Natal e presentes. Mas será que o sentimento de culpa é realmente inevitável quando nos tornamos mães? Existe alguma maneira de reduzir essa sensação desconfortável? Vamos ver como combatê-lo.

O que é culpa e qual é o seu mecanismo?

A culpa é uma emoção que surge da crença ou do sentimento de ter transgredido um código moral, pessoal ou social. É claro que as causas de seu aparecimento variam de pessoa para pessoa, mas sempre decorre de uma autoavaliação negativa em relação ao próprio comportamento. Como qualquer emoção, tem sua função adaptativa, que é nos ensinar a aprender com nossos erros.

“A culpa tem a função de regular o comportamento social indesejável e promover o autocontrole, além de motivar a pessoa a reparar o dano causado a outras pessoas.”

– Enrique Echeburua –

A culpa é funcional quando é proporcional ao fator que a desencadeia e quando nos leva a reparar a ação que percebemos como inadequada. Como podemos repará-la? Pode ser pedir desculpas ou tentar não cometer o mesmo erro da próxima vez.

Pense assim: você gritou violentamente com seu filho durante uma birra. O sentimento de culpa brotou em você porque o que você fez não condiz com seus valores e critérios de criação. Por isso, você se desculpou com ele e foi mais cuidadosa para não gritar novamente. Dessa forma, você procura evitar danos futuros. Neste caso, a culpa serviu ao seu propósito.

A culpa surge de uma autoavaliação negativa em relação ao próprio comportamento. A busca utópica pela perfeição costuma ser uma das principais causas.

Quando a responsabilidade se torna um fardo pesado.

Agora, essa emoção geralmente assume formas disfuncionais na maternidade. Pois é, aparece em excesso e produz um desgaste psicológico enorme. Assim, tende a nos torturar e paralisar. Sem dúvida, ocupar o papel de mãe monopoliza uma grande responsabilidade. Embora a representação social desse conceito tenha se transformado nos últimos anos, no imaginário social, ser uma boa mãe ainda supõe um conjunto de critérios mais rígidos do que flexíveis.

Ao viver entre demandas extremamente altas, espera-se que a culpa se manifeste com frequência. Não consegue descobrir o motivo do choro do seu bebê imediatamente? Você se sente culpada. Ele não pega bem no peito? Você sai de casa para trabalhar? Você reserva um pouco de tempo para si mesma? O protagonismo dessa emoção baseia-se na necessidade de chegar o mais próximo possível do que a cultura determina como a mãe perfeita. Você quer ser, porque você experimenta um amor indescritível.

Aceite-se menos perfeita

Donald Winnicot, psicanalista e pediatra britânico, discute a ideia da mãe perfeita e propõe um conceito mais do que tranquilizador: a mãe suficientemente boa. Em palavras simples, o que ele tenta transmitir é que embora a função materna seja essencial para o desenvolvimento emocional saudável do bebê, não é necessário que a mãe busque a excelência. Não devemos esperar isso, pois é impossível.

Estratégias para lidar com a culpa

Evitar a comparação com outras mães também é importante para reduzir a culpa. Além das aparências, nenhuma é perfeita e todas carregam suas preocupações.

Trabalhar para exercer a maternidade com menos culpa parece ser uma ideia muito boa. Não se trata de eliminá-la completamente, mas de evitar que apareça demais. Aqui estão algumas estratégias de enfrentamento para reduzir essa emoção:

  • Identifique e questione suas crenças: como vemos, a culpa na maternidade está inerentemente relacionada às crenças sobre o conceito de mãe como uma construção social. É importante que você reconheça como acha que uma mãe deve ser e reflita sobre seus critérios. Eles são muito rígidos? Você poderia torná-los mais flexíveis?
  • Expresse-se através de palavras: converse com uma pessoa de confiança sobre o que está acontecendo com você. O que faz você se sentir culpada? Você acha que poderia resolver isso de alguma forma? Nesse sentido, se expressar com outras mães pode ser um alívio, pois a empatia estará presente.
  • Evite se comparar com os outros: as mães dos colegas de seu filho não são mães perfeitas. Você não é uma mãe ruim. Nem vice-versa. Cada um faz o melhor que pode e segue seu próprio caminho. A comparação excessiva tende a ser altamente prejudicial. Um ditado famoso diz que “O jardim do vizinho sempre parece mais verde”. Tente não idealizar outras mães.
  • Reduza sua autoexigência: trabalhar o perfeccionismo e a hiperexigência é uma alternativa valiosa para mitigar o sentimento de culpa, entre outras questões. Se você acha que não pode fazer isso sozinho, não hesite em consultar um profissional de saúde mental para ajudá-la a se permitir ser imperfeita.
  • Evite o pensamento polarizado: chamamos de pensamento polarizado a distorção cognitiva de interpretar a realidade em termos de preto e branco, sem levar em conta os pontos médios ou cinzas. Esses pensamentos são facilmente identificados, pois geralmente incluem alguma palavra determinante como: nunca, sempre, nada, tudo. Por exemplo, “Tudo dá errado” ou “Nunca serei uma boa mãe”.

É possível desfrutar da maternidade

Concluindo, é possível passar pela maternidade com menos culpa. Isso não se resolve sendo menos pessoa e mais mãe, muito pelo contrário. Esse sentimento negativo minará o equilíbrio entre a responsabilidade e a capacidade de ser imperfeita. Com uma autocrítica mais flexível e um diálogo interno amável, a maternidade será uma experiência possível de desfrutar.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Echeburúa, E., De corral, P. & Amor, P. J. (2001). Estrategias de afrontamiento ante los sentimientos de culpa. Análisis y Modificación de Conducta, 27(116).
  • Gonzalez, T.,C. (2021). Culpa y maternidad, una pareja soluble: variables psicológicas que influyen en el afrontamiento de la culpa. Facultad de Psicología y Logopedia. Universidad de La Laguna.
  • Levy, N. (2010) La sabiduría de las emociones. Cómo interpretar el miedo, la culpa, la envidia, la vergüenza. Debolsillo.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.