O transtorno alimentar seletivo na infância

As crianças com o transtorno alimentar seletivo limitam a sua ingestão a um número muito pequeno de produtos, o que lhes causa déficits nutricionais.
O transtorno alimentar seletivo na infância
Elena Sanz Martín

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz Martín.

Última atualização: 27 dezembro, 2022

É comum que as crianças apresentem certas dificuldades relacionadas à alimentação, com uma preferência por certos alimentos e relutância para ingerir outros. No entanto, em alguns casos, a rejeição se torna tão generalizada que a ingestão fica limitada a um grupo muito pequeno de alimentos, comprometendo, assim, as suas necessidades nutricionais. É isso que ocorre no transtorno alimentar seletivo.

Anteriormente, essa síndrome não constava como uma doença em si, mas na última revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), ela foi reconhecida como um distúrbio com características bem definidas.

Sabe-se agora que a tendência a evitar grandes grupos de alimentos vai além de um capricho ou de um mau comportamento infantil. 

O transtorno alimentar seletivo

Também chamada de transtorno alimentar restritivo evitativo, essa síndrome se refere a uma alimentação limitada e pouco variada, na qual há uma grande recusa para experimentar novos alimentos. 

A evitação ocorre com base nas características sensoriais dos alimentos (sua textura, cor, forma). E tem consequências importantes em termos nutricionais.

transtorno alimentar seletivo na infância

É comum que essas crianças tenham uma perda de peso significativa ou não atinjam o ganho de peso esperado durante o crescimento. Do mesmo modo, surge uma importante deficiência nutricional, já que em muitas ocasiões grandes grupos de alimentos, tais como vegetais, peixes ou leguminosas, são rejeitados.

O plano psicossocial também é afetado, uma vez que reuniões e eventos nos quais a síndrome possa surgir ou possa representar um problema geralmente são evitados.

É uma condição que afeta o bem-estar tanto da criança que sofre com ela quanto dos seus principais cuidadores. Afinal, muitas vezes, eles podem se sentir saturados diante das recusas constantes da criança.

Mais do que um capricho

Nunca devemos perder de vista o fato de que essa situação não é o reflexo de um capricho infantil ou de uma criança ‘malcriada’. Esta é uma síndrome com origem multifatorial e uma implicação mais profunda. 

Embora as causas ainda não sejam conhecidas com exatidão, houve descobertas que a relacionam a várias circunstâncias da vida:

  • É comum que essas crianças apresentem uma personalidade ansiosa, com traços obsessivo-compulsivos ou uma tendência à fobia social. Da mesma forma, elas também mostram uma baixa adaptação às mudanças e novidades. É possível que o transtorno alimentar seja uma manifestação dessa personalidade rígida e inflexível.
  • Foram observados problemas no estabelecimento do vínculo com o cuidador principal. As crianças, incapazes de se expressar verbalmente, usam gritos ou birras para expressar a sua aversão. Esse tipo de comportamento pode gerar grande estresse, desconforto e nervosismo no cuidador, o que impedirá a criação de um vínculo saudável de amor e confiança entre eles.
    • Para evitar essas situações, o cuidador geralmente opta por oferecer apenas os alimentos menos problemáticos, reforçando, assim, as restrições da criança.
  • Vários estudos descobriram que uma porcentagem significativa de crianças e jovens com esse transtorno mostra, como base, uma fobia da asfixia ou do vômito, ou certas alergias alimentares.
transtorno alimentar seletivo na infância

Como prevenir e tratar o transtorno alimentar seletivo?

  1. Quando o bebê inicia a alimentação sólida, métodos como o baby-led weaning podem ajudá-lo a explorar a diversidade dos alimentos e a conhecê-los no seu próprio ritmo. Dessa maneira, o pequeno verá esse processo como algo natural e divertido, e não como uma imposição.
  2. Devemos ser perseverantes e pacientes ao oferecer alimentos variados. Não devemos perder a cabeça nem ceder diante da rejeição da criança.
  3. Para os pequenos, nós somos o seu modelo de comportamento. Assim, é importante que eles observem que todos os membros da família comem o que está na mesa, sem exceção. Reunir-se para comer e conversar de forma descontraída também é benéfico.
  4. Devemos tentar inovar o cardápio, incluindo diferentes texturas, sabores e formas de preparo. Sair da rotina vai estimular a curiosidade e o gosto da criança por experimentar novos sabores.
  5. Uma vez estabelecido o transtorno, é importante procurar ajuda profissional. Em alguns casos, os déficits nutricionais podem exigir uma internação hospitalar de curta duração.
  6. De qualquer forma, será necessário intervir de uma maneira multidisciplinar, incluindo psicólogos, médicos e nutricionistas. Será essencial trabalhar a personalidade rígida e o vínculo com o cuidador. E, acima de tudo, promover a exposição gradual a novos alimentos.

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