Hematúria em crianças: o que você precisa saber

Um dos sinais mais alarmantes para os pais é observar a presença de sangue na urina da criança. Por esse motivo, hoje vamos contar tudo o que você precisa saber sobre a hematúria.
Hematúria em crianças: o que você precisa saber

Última atualização: 11 outubro, 2022

A hematúria em crianças é um achado alarmante para os pais, mas nem sempre é sinônimo de gravidade. Suas causas são múltiplas e variadas, sendo algumas sistêmicas e outras locais, como patologias do trato urinário.

O termo hematúria vem das palavras gregas haima, que significa ‘sangue’, e ouron, que significa ‘urina’. Desta forma, podemos defini-la como a presença de hemácias (ou glóbulos vermelhos) na urina, que vêm do rim ou do trato urinário. Em alguns casos, esse sangramento é visível a olho nu, enquanto em outros casos só é detectado por meio de exames laboratoriais.

A seguir, contamos tudo o que você precisa saber sobre esse problema nas crianças da família.

Quais tipos de hematúria existem?

Existem muitas maneiras de classificar o sangramento urinário e todas elas nos permitem entender melhor sua origem e causa. Em linhas gerais, devemos diferenciar aqueles que são percebidos a olho nu (como uma mudança perceptível na cor da água no vaso sanitário ou sangue na fralda do bebê), daqueles que são muito mais sutis. Os primeiros são chamados macroscópicos e os segundos microscópicos. Vamos saber mais sobre eles:

  • Microhematúria: caracteriza-se pela presença de mais de 5 hemácias por microlitro de urina e geralmente é um achado incidental em um exame de rotina. Para ser considerado significativo, deve estar presente em mais de 3 amostras consecutivas de urina, separadas por 2 a 4 semanas.
  • Macrohematúria: é a presença de mais de 5 mil glóbulos vermelhos por microlitro de urina. Essa quantidade pode manchar a urina de vermelho-claro, vermelho-escuro, marrom-esverdeado ou chocolate, dependendo da concentração de glóbulos vermelhos nela. Pode ser visto a olho nu e deve ser sempre estudado.

Por sua vez, a hematúria pode ser transitória ou persistente (quando aparece por 6 meses ou mais); inicial, terminal ou pós-miccional (dependendo do momento da micção a que se refere); glomerular ou extraglomerular (dependendo da origem do sangramento).

O córtex renal contém estruturas chamadas glomérulos, que desempenham a função de filtrar o sangue e produzir a urina. Quando esse mecanismo falha, o rim gradualmente adoece e isso se manifesta por meio de hematúria glomerular.

amostras de urina normal patológico concentrado hematúria sedimento
O exame microscópico da urina e seu sedimento após a centrifugação permite categorizar o tipo de hematúria que a criança apresenta e, assim, determinar a origem e a causa do referido sangramento.

Sintomas que acompanham a hematúria

O sangramento na urina é um sinal clínico que pode ou não ser acompanhado por outras manifestações. No primeiro caso, referimo-nos à hematúria assintomática e no segundo, às sintomáticas.

Quanto a este último, as manifestações clínicas dependerão da origem da hematúria:

  • Quando se trata de doença glomerular, os sinais e sintomas mais comuns são oligúria (diminuição da quantidade de urina diária), edema, erupções cutâneas, artrite e dor de garganta. Geralmente, há histórico de faringoamigdalite, que terá ocorrido algumas semanas antes do quadro renal.
  • Hematúria de origem extraglomerular. Nesses casos, o sangramento pode ser acompanhado pela eliminação de pus na urina, dor na região do baixo ventre ou ao urinar (disúria), dificuldade de esvaziar a bexiga (jato lento, gotejamento pós-micção, jato intermitente) ou febre.

Causas comuns de hematúria em crianças

Em geral, a hematúria em bebês geralmente é causada por infecções do trato urinário (ITU), trauma abdominal ou genital e problemas com o metabolismo do cálcio (hipercalciúria).

Além disso, deve-se considerar a possibilidade de doenças inflamatórias, infecções sistêmicas (como síndrome hemolítico-urêmica ou gastroenterite por Serratia marcescens), doenças autoimunes, metabólicas ou tumorais.

Falsa hematúria em crianças

Além das causas patológicas da hematúria, vale ressaltar que existem diferentes medicamentos ou alimentos que fazem com que a urina fique com uma cor mais escura do que o habitual. Inclusive sugerindo sangramento devido à semelhança com a cor. No entanto, no interrogatório é detectado histórico de consumo e com um simples exame de urina pode-se descartar sangramento.

Aqui estão os produtos que mais frequentemente causam falsa hematúria em crianças:

  • Comida: beterraba, amora, cogumelos.
  • Pigmentos alimentares: corantes nitrogenados, fenolftaleína (presente em laxantes), rodamina B (presente em bolos de confeitaria).
  • Medicamentos: rifampicina, nitrofurantoína, metronidazol ou doxorrubicina.

Como a urina é examinada quando há suspeita de hematúria?

Na maioria dos casos, um bom interrogatório e exame físico orientam o diagnóstico de hematúria sem a necessidade de recorrer a exames complementares. No entanto, as tiras de teste de urina são o método de primeira escolha, devido à sua alta sensibilidade diagnóstica e fácil implementação.

O exame que é realizado para detectar hematúria é feito com uma tira reativa. Se for positivo para hematúria, será necessário realizar novos exames para determinar sua origem e realizar o tratamento.

Outros exames complementares

Se a vareta for positiva, os resultados devem ser confirmados por exame microscópico do sedimento urinário. Isso é feito a partir de uma amostra de urina isolada, idealmente colhida no meio do jato, da primeira micção da manhã.

No caso em que se confirme a hematúria, o médico procederá à solicitação de outros exames complementares. Por exemplo, observação recente da morfologia dos glóbulos vermelhos, um ultrassom ou uma cintilografia renal. Além disso, se necessário, é possível recorrer a exames mais precisos e invasivos, como uma biópsia renal.

O que se segue após o diagnóstico de hematúria em crianças?

Uma vez conhecida a causa da hematúria na criança, será determinada a melhor estratégia diagnóstica para cada caso. Isso pode variar desde o uso de antibióticos até a terapia com drogas imunossupressoras.

Em algumas ocasiões, após a cicatrização, medidas preventivas podem ser implementadas, como aquelas que buscam evitar a formação de cálculos renais ou o desenvolvimento de infecções. Manter o pequeno bem hidratado, com uma alimentação pobre em sódio (sal) e uma boa higiene pessoal, são fundamentais para cuidar melhor da saúde renal.

O importante é que os pais estejam atentos à micção de seus pequenos e que procurem o pediatra prontamente quando qualquer sinal suspeito for encontrado.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Carrasco Hidalgo-Barquero M, de Cea Crespo JM. Hematuria. Protoc diagn ter pediatr. 2014;1:53-68
  • Cara G, Pena A. Hematuria. Actualización. An Pediatr Contin. 2009;7(2)61-9
  • Vendula R, Lyengar AA. Approach to Diagnosis and Management of Hematuria. Indian J Pediatr. 2020; 87(8):618-624. doi: 10.1007/s12098-020-03184-4.
  • Denver D, Reidy K. Approach to the Child with Hematuria. Pediatr Clin N Am 66 (2019) 15–30 https://doi.org/10.1016/j.pcl.2018.08.003
  • Generalic A, et al. Hematuria as an Early Sign of Multisystem Inflammatory Syndrome in Children: A Case Report of a Boy With Multiple Comorbidities and Review of Literature. Front. Pediatr. 2021; 9:760070. doi: 10.3389/fped.2021.760070

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.